A estranheza de uma incompreendida

29 de dezembro de 2011

Possuía a cobiça de querer-se única, de se individualizar na presença do mundo. Pensava estar destinada à incompreensão dos "normais", como tendo a alma perdida e vagante. Tinha lá seus vinte e poucos anos e ainda sentia o gosto inconfundível dos hormônios da adolescência percorrendo seu corpo. Era essa a confirmação de que aquilo que pulsava em seu peito enquanto muito jovem não mudaria quando completasse idades adultas.
Seu sonho de liberdade se havia concretizado, mas não encontrara sentido e beleza em apenas viver. Tinha para si que algo a esperava, um pressentimento estranho que dizia “siga e verás que seu prêmio te espera”. Vez ou outra sonhava com vidas paralelas nas quais já havia encontrado explicação e podia viver como normalmente se vive por aí. Sabia que sonhos são fragmentos de realidade, mas sabia também que nada é real, que tudo na vida não passa de farsa para manter as pessoas menos atônitas e que, portanto, não deveria levar a sério as cenas que enxergava ao cair em sono.
Sendo ela assim, conhecedora de sua ignorância, julgava-se estar em um nível mais elevado de compreensão perante o restante das pessoas que não enxergavam o abismo que é a vida, pois pelo menos sabia que pouco tinha aprendido até então. Observava a vida burguesa ao seu redor. Famílias felizes, jovens realizando o sonho da formação profissional, os noticiários que informavam que a depressão era o mal do século, juntamente com outros distúrbios psicológicos que dão falsas respostas para aparentes curas ao passo que limitam a mente humana, multifacetada e tão óbvia que chega a ser complexa.
Era assim, crítica dos maus costumes. Era também sábia, pois sabia que havia de se doar à vida normal, mesmo que pouquinho. Não era austera a ponto de rebelar-se contra os hábitos humanos, tão cimentados ao longo dos tempos. Até porque fazia parte do bando de incompreendidos também.
Andava por vielas e centros consigo mesma. Trazia lembranças de quando apenas vivia e sonhava ter uma casa com piscina. E agora, o que lhe restava era a solidão que se tem quem não se contenta com valores de vida burguesa, de vida ocidental regida por conformidade. Mas, embora soubesse disso tudo, não podia ir contra o mundo, pois o mundo era as pessoas (ela própria era o mundo). Então, deixava-se ser guiada pelo acaso, com o vácuo de sua alma guiando-a para algum lugar misterioso.

A lucidez de um louco normal

22 de dezembro de 2011


Sei que descobri tem pouco tempo que quando se anda pela rua sozinho, tem-se a impressão de que todo mundo te olha com olho que criminaliza. Pelo menos eu, que de quando em vez deixo o carro e vou andando para o ponto de ônibus. Disse isso outro dia pra minha mulher e ela falou que é coisa da minha cabeça, que assim como eu penso estarem me olhando os outros também pensam estar eu olhando para eles. Mas coisa da minha cabeça não é, não. Ontem mesmo duas senhoras puseram-se a rir enquanto eu conversava alto pensando como pedir para o Luís Carlos – meu chefe – um aumento por bom rendimento de serviço. Foi assim que destruí a teoria de Carmélia – minha esposa. Nunca me pus a rir, mesmo que disfarçadamente, de alguém que esteja em um monólogo em pleno terreno urbano.
Já pensei na possibilidade de ser a roupa que uso para ir trabalhar o motivo de tantos olhares. É que não se vê andando a pé por aí um homem com trajes formais segurando uma mala preta. Chama a atenção mesmo. Mas não é isso. Até quando estou de folga e resolvo ir ao mercado ou coisa do tipo as pessoas me olham indiscretamente. Deve ter alguma coisa errada comigo. Meu terapeuta diz que é mania de perseguição. Falou para eu dar uma relaxada e tentar esquecer as pessoas um pouco. Mas já estou pensando em procurar outro especialista. Não acredito mais no meu terapeuta. Outro dia ele me olhou dos pés a cabeça enquanto eu fazia o trajeto da porta ao divã. Ele acha que eu não reparei...
E se eu estiver louco? Pode ser que ajo como um e não percebo. Intrigante isso. Revelador também. Se caso for, eis o motivo da bisbilhotagem coletiva.
Juro que da próxima vez que me olharem esquisito na rua então não pensarei duas vezes e emendarei um “que foi hein? Nunca viu um louco indo trabalhar? Só me faltava essa agora.”
Esse texto tem caráter fictício e qualquer semelhança com as paranoias da realidade é mera coincidência.

Um velho e um bosque

6 de dezembro de 2011


Digo que não sou a melhor pessoa para falar sobre a vida. Sobre isso, já sofri refutação dos que acham que eu, por ser velho, tenho a obrigação de ter passado por tudo e saber responder todas as dúvidas que tive durante a vida e que se refletem por igual nas pessoas. Como se os velhos tivessem o dever de contar histórias ou dar conselhos extraordinários. Mas idade avançada não é sinônimo de experiência, pois minha experiência é o que observo das vidas alheias e pego como exemplo, já que me privei de viver e experimentar as coisas. Há quem viva a vida inteira sem sequer saber o que é o amor. Outros vivem amando de qualquer maneira ou nem chegam a sentir isso. O desfecho da vida chega sempre, não tem jeito, mas heterogeneamente para cada vivente. É coisa do acaso.
Continuo a afirmar que não fiz maravilhas no meu trajeto, mas trago coisas no peito que nem eu mesmo sei explicar. Pode até ser que eu tenha muita coisa para contar, mas é tudo inspirador às avessas. Inspirados às avessas, digo, que se deve fazer todo o contrário do que fiz.
Lembra-se desse bosque, Bento?” “Sim, lembro-me, Bento. Costumávamos fazer piqueniques com a família aqui”. “É verdade! Aquilo era ser feliz?” “Como eu posso saber Bento, se eu sou você, se suas dúvidas são minhas e as minhas as suas?” “Você nunca soube me responder ao certo. Sempre me deu perguntas quando eu queria respostas”. “Não sou nenhum guru. Acho que você não deveria querer buscar uma resposta para tudo.” “Você sabe como somos. Inquietos, incompreendidos, infelizes.” “Sim, sei. Sou seu subconsciente, Bento. Sei de tudo que se passa com você. Tenho pena da gente”. “Essa solidão me desola. Nunca me arrependi dos meus atos, mas daria tudo para voltar no tempo e consertar as coisas.” “Você iria fazer tudo igual”. “Se eu tivesse a consciência de que eu tenho hoje, seria tudo diferente.” “Chore, Bento. Chore!”
E é isto que me resta. Chorar. Cultivei a dúvida nos meus dias. Nunca confiei em ninguém, nem experimentei a felicidade. Achava eu que felicidade mesmo é quando você consegue se entender. Não tive sucesso e estou eu aqui, ao fim da vida, sozinho. Hoje não me entendo mais que ontem. Ontem pelo menos eu tinha a esperança de que um dia me entenderia, mas já não me resta nem isso. Se é que chego um dia a me entender, será no momento da morte, quando esta vier me buscar e revelar o que eu preciso saber. Talvez eu sofra um acidente enquanto volto para casa. Um animal pode me atacar enquanto corro de mim mesmo em direção ao carro que deixei à beira da estrada. Meu coração pode parar de funcionar. Quem sabe fosse melhor morrer, já que não me resta nada.
Ah! Que vontade de gritar imensa! Mas gritar para quem? Estou só. Eu e meu Bento querido que habita dentro de mim. Sou minha própria companhia e solidão. Divido tristezas escrevendo e suspirando tempos que não voltam. Narrando minha dor como quem deseja descobrir o mistério da vida. Mistério esse que me levou a isso tudo.
Perdi a chance de amar, por medo. Não soube me relacionar, por medo. Não dei sorrisos aos pobres, por medo. Medo de que? Nem eu sei. É uma coisa que tenho guardada dentro de mim e me impede de ir ao mundo para dizer o que sinto. Acho que me inspirei demais nos autores de livros que já morreram. Na esperança de ser reconhecido pelo mundo somente quando morrer, eu deixei a vida para trás e me aventurei nas palavras. Perceba você, a morte sempre me persegue. Acho que esse é o sentido da existência. Viver para morrer, pois só a morte é a resposta. Ela é quem eu peço em oração quando digo “traga-me uma saída”.
Estive morto durante a vida e hoje quero morrer de verdade. Quero não mais voltar a esses bosques que me lembram familiares que já se foram. Quero não mais ter que aguentar os cantos dos pássaros que são felizes, porque não agüento mais a felicidade alheia. É um afronto contra minha tristeza inevitável. Esses troncos pelados, essa grama verde, esse banco sempre igual... Quero deixar tudo e ir embora daqui. Cansei da vida. Cansei de viver.

3º lugar - Projeto Bloínquês
Edição visual

"Cria a dor... Cria e atura"

3 de dezembro de 2011



Se eu sei que a angústia que eu sinto às vezes sempre passa, então por que toda vez que a sinto eu me desespero? Acho que é porque eu gosto de sentir o gosto da superação, do amadurecimento, e não simplesmente ignorar por saber que sempre passa.  E para isso, eu preciso antes passar por maus bocados para assim festejar alguma vitória. Logo, gosto de sofrer. E se eu gosto de sofrer, então o motivo do meu desespero é contraditório, pois eu deveria estar feliz sabendo que só estou triste por que é necessário. Mas se fico feliz ao estar triste, entro em uma condição a qual minha capacidade humana não alcança, pois aprendi que ou você está bem ou mal, nunca os dois. Mas como sei que aprendi errado, digo que ser os dois é o que chamam de estado pleno. Significa não ser isso, nem aquilo, mas ambos. O tudo. Ser o bem e o mal, o choro e o riso, a incompreensão ligada à compreensão de que não posso querer compreender a totalidade. Tudo isso é a plenitude, que nunca alcanço.
Mas todo esse raciocínio é para tentar me explicar. É essa minha ânsia de querer saber de tudo. Essa mania de atar nós na minha mente toda vez.

Não posso deixar de dizer isto

1 de dezembro de 2011


Sei dos conselhos que as pessoas de bem oferecem. Ouço-os silenciosamente e na maioria das vezes descarto-os porque os problemas que enfrento internamente são montanhas gigantes e eles, os conselhos, são as nuvens de chuva que não conseguem atravessá-los e precipitam antes de chegar ao topo. Mas agradeço a boa intenção. Sei da vontade de me ver sorrir ao dizer belas palavras ou tantas vezes apenas a verdade nua e crua. Isso é bom. É como fazer uma obra de caridade por alguém. E por vezes funciona. Temporariamente, mas funciona. O problema é que conheço a minha vida de perto e eles, os aconselhadores, não sabem bem o que se passa. É como ver o mar de longe, achá-lo belo e morrer afogado quando descobrir que a beleza que ele tem esconde uma profundeza escura e cheia de segredos que podem matar. Assim sou eu, mar mortal que só mata a mim mesmo aos poucos. E quem é que se interessa em mergulhar em mim? Quem é louco para tal? Se cada um é um mar mortal, basta salgar a vida nas próprias almas e apenas observar e dizer palavras de conforto para os outros de vez em quando sem se aventurar demais.
Eu estou me matando agora. Mas sei que não chego a morrer nunca. Um conselho de alguém sempre me salva de vez em quando por algum tempo. Acalma as águas furiosas do oceano de sentimentos que tem aqui dentro de mim.
Mas sei da aventura que não escolhi trilhar e isso me perturba. É que um dia atrevi a me questionar e questionar também a vida e então nunca mais consegui sossego. Mas sabe um conselho que eu dou? - Se é que eu estou habilitado para isso. Você que tem uma vida tranqüila, que cultiva sonhos, que não se pergunta o porquê de tudo... Vá em frente! Continue assim. Pra que por em prova os seus valores? Pra chegar aonde cheguei? Mude a rota porque talvez seja melhor viver sem conhecer e não morrer tentando conhecer.  E é melhor ainda se não entender nada do que eu disse. É um sinal de que não está se encontrando em minhas palavras e segue a vida só vivendo – o que talvez seja a melhor coisa a se fazer - sem travar batalhas insanas consigo mesmo. Congratulations!
Eu entrei em um caminho sem volta, e acredite, é doloroso. Maldito seja a dúvida que me persegue. E pare de me ler antes que fique louco também.
É um conselho que eu dou.

A beleza de estar Só

26 de novembro de 2011

"Tenho aprendido a estar só.
Vou até o jardim.
A manhã está deslumbrante. E, neste instante não preciso de mais ninguém...
Mas, por vezes, é tão difícil esta solidão.
É que ainda necessito compartilhar com alguém o que sinto ser belo.
A beleza em seus múltiplos formatos me fascina."

De Yeruska Thobila, do totalmentecomum.blogspot.com.br
Sou fã de carteirinha desse blog.

O gosto da liberdade

22 de novembro de 2011



Desejo a liberdade desde sempre. Hoje com mais gana como nunca antes havia aspirado algo. Quero-a, amo-a, suspiro ao pensar. E se fecho os olhos uma explosão cria outro universo em mim. Coisa paralela, que transpassa o que se entende como vida. O que eu entendo como vida. E não consigo acalmar o que se passa. Não sei disfarçar as dores dos desejos ignorados. Sei que espero por outra alma igual ou semelhante a minha. Que possa compreender e aceitar a solidão que não deixa de existir quando se está a dois, mas muda a face, vira solidão compartilhada. Pois é nela onde se encontra o elo perdido, a conexão com o próprio eu. Onde está você que consegue ler os meus olhos e segurar a minha mão, me acalmando sem dizer uma só palavra? Será que anda por aí procurando a mim ou se recusa a se apresentar porque ainda tem medo? Medo de quê? De ser feliz? Ora, entendo. É o medo que me impede de ser livre também.
Talvez tenhamos nascido para sonhar, somente. E imaginar como seria viver, esquecendo de fazer isso. Essa mania de criar uma projeção dentro da mente e ser livre somente dentro dela. Essa ilusão de final feliz, de tranqüilidade que meu pessimismo às vezes define como irreal. Mas renego a isso também. Liberdade não é escolher ser bom ou ser mau. Isso é quase ser livre. Liberdade mesmo é não escolher. Deixar que a vida nos carregue como simples crianças. E eu sei que você sabe disso, já que faz parte de mim. Você pode sentir como eu. Eu sei.
E mais. Que transplantem em minhas costas as asas de uma fênix, para que eu possa planar com fogo de transformação. De renascimento. E quando achar que está tudo bem, que esteja tudo errado, para que eu possa começar de novo quando precisar. Não quero apoiar um dos lados, quero estar entremeio, equilibrando.

Não sei

5 de novembro de 2011


Há coisas nessa vida que eu simplesmente não sei. Como se a resposta para o questionamento fosse a própria pergunta. É que pra mim é tão complexo dizer que se gosta, que se ama, que se quer. É tão simples prometer a vida eterna ao lado de alguém quando se está apaixonado. Tão fácil pensar em fugir da vida quando se está triste ou dizer "sim, eu admiro aquela pessoa", só porque a viu em um programa de TV dizendo que gosta das coisas que coincidentemente são as mesmas que você gosta. É sem o mínimo esforço que se pode afirmar algo sem refletir se realmente é assim que você pensa. Por isso eu não tenho certeza de nada, não sei decidir nada, pois eu sei que o tempo muda o que eu acho e que eu sinto, toda hora.
Eu não sei o que quero. Não faço planos. Eu só sei bem o que eu não quero. Assim, eliminando o que não me agrada, sobra-me um milhão de possibilidades. E aí eu deixo a vida me levar e meus dias se resolvem por acaso.

-Você gosta dessa banda?
-Não sei.
-Como assim não sabe?
-Eu já ouvi umas músicas dela, mas não sei se gosto.
-Escuta essa aqui. É muito boa.
-Ok. Vejamos.
[...]
-E ai, o que achou?
-É boa a música.
-Agora você gosta?
-Não sei.
-Você é difícil.
-Eu sei.

Adio o falar

4 de novembro de 2011


"A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente tive, veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome.
Terá sido o amor o que vi? Mas que amor é esse tão cego como o de uma célula-ovo? foi isso? aquele horror, isso era amor? amor tão neutro que - não, não quero ainda me falar, falar agora seria precipitar um sentido como quem depressa se imobiliza na segurança paralisadora de uma terceira perna. Ou estarei apenas adiando o começar a falar? por que não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e não soubesse em que país ela vale."
Clarice Lispector (A Paixão segundo G.H.)

Gotas que são pequenos pedaços de mundo

23 de outubro de 2011

Azul é a cor vista no céu, e estando no céu, olhando para a Terra, o azul também predomina. Intrigo-me com essa cor homogênea, pois, o que forma essa tonalidade nada tem de azul. Pelo contrário, é transparente e nem cheiro tem. Nem gosto, mas sacia a sede.
E tem mais. A água não é água por si só. Se lanço um olhar mais a fundo posso senão enxergar, mas pelo menos imaginar, de acordo com o que aprendi, que em um tanto de água cabe mais um tanto de gotas de água. É que o tudo só é tudo quando se junta um monte de coisinhas insignificantes. Nesse caso, as gotículas que são arremessadas ao longe pelas rodas dos carros em dias chuvosos não só gotículas sendo arremessadas, mas um pedaço da Terra sendo menosprezado.
Ninguém lembra do resto de água que sobra no fundo do copo. Ninguém liga para a lágrima que sai dos olhos quando se olha diretamente para o sol. Mas esses minúsculos pedaços de mundo completam seu ciclo natural e sobem, e descem, e sobem, e descem, molhando e evaporando.
E um dia - andando por entre os outros pedaços de mundo que são as ruas – passei por um teste de consciência que me fez parar para pensar o que significa a vida. É que o vento estava forte e o frio me congelava os cílios. Então, sem que eu pudesse perceber, uma gotinha de água veio caindo do céu me mirando lá de cima. Foi ganhando velocidade e perdendo frações do seu corpo ao longo do caminho por causa das forças do atrito que ela faz com o ar. E se já era pequena, ficou minúscula. E, estando eu, na hora certa e no lugar certo, fui vitimado por uma gotalada no olho. E pisquei. Meu mundo parou por um instante. Então tudo ficou triste, pois pensando, deduzi. Todo dia alguém cai nos meus olhos e eu simplesmente dou uma piscadela e retiro o que sobrou com os dedos. Nem me dou ao luxo de observar o que era. E nada tem de alegre em saber que eu também caio nos olhos dos outros e passo pela mesma experiência da insignificância que a vida alheia tem sobre os olhos nossos.
É triste admitir. Eu posso até parar de piscar às vezes. Mas a natureza – que é a vida – não me permite que fique sem lubrificar os olhos e retirar, naturalmente, algum pequeno cisco que vez ou outra gostaria de permanecer em mim.
Mas a parte otimista nesse desastre existencial é que, ao cair no chão, você ou eu seguiremos o ciclo natural. Evaporaremos, precipitaremos e cairemos em algum olho, tendo outra chance de ser importante para outro alguém que não nos passe as pálpebras em sinal de incômodo.

Quero ter asas

16 de outubro de 2011

"Meus olhos sentem falta de novas paisagens.
Meus pés, de novos caminhos.
Minha fé, de novos milagres.
Meu corpo, de novos carinhos.
Minha boca de novos beijos, meus beijos de novas bocas.
Meu desejo de outras vontades, minhas vontades de tantas outras.
Quero me perder e não quero saber o endereço.
Quero não reconhecer o que vejo.
Quero aprender do começo.
Quero é ser estrangeiro de mim mesmo.
Não quero endereço fixo, nem casa.
Já tenho a lua que na noite me persegue,
o sol que me aquece como brasa.
As estrelas e constelações me seguem.
Não quero mais pés, eu quero ter asas."

Sérgio Vaz em participação na música "Honra ao meu Mérito", de Slim Rimografia.
Admiráveis poetas da urbanidade contemporânea! Mais que recomendado.
Dê play e ouça caso se interesse.

Mania de deixar tudo para o amanhã

1 de outubro de 2011


Eu deixei umas folhas escritas sem término de ideias jogadas por aí, incompletas. Sem falar nas que eu abandonei sem dar-lhes a chance de ficarem jogadas por aí. E penso se farei isso sempre que não conseguir acabar algo que dei início. Se for o caso, pequenos filhos meus serão descartados toda vez que acontecer de desistir dos meus planos. Porque a cada momento em que isso acontece, eu jogo um pedaço meu fora.  E nesse ritmo, serei reduzido a nada quando chegar o fim da vida. Se é que dará tempo de alcançar isso que chamam de ciclo natural. Sabe-se lá o que me espera na porta de casa ou ao sair de um banheiro público. Pessoas morrem enquanto respiro, portanto posso morrer enquanto elas respiram também. Não sou adepto ao pessimismo realista, mas sei que estou sujeito a tudo que os outros estão. Sou matéria viva e pensante como o resto dos que vivem são.
Lembro-me de dizer que um dia salvaria vidas. Hoje me contento em apenas entender o que é a vida, para só depois tentar salvá-la. Mas quantas vezes desisti de pensar por pura preguiça e só retornei à introspecção dias depois? São esses minutos de desistência temporária que roubam minhas horas e as desperdiçam em nada que tenha proveito. Fico eu à toa, deixando o tempo me conduzir, como se ele dependesse de mim e não o contrário. Mas o tempo é sozinho. Pouco importa se estou aqui. Ele corre sem olhar para trás. E por vezes esqueço que não posso deixar de aproveitar esse momento em que ele caminha e eu permaneço vivo.
Farei algo incrível que me deixe marcado nas memórias. É isso que penso. E deixo que o amanhã resolva. E quando o amanhã chega, torna-se hoje e eu já não tenho mais disposição para me transformar em uma lenda. Então adio para o dia seguinte.
Meu medo é que use o tempo que me pertence para inventar desculpas e não fazer por onde todos os dias, na esperança de que amanhã eu crie ânimo.
Tenho medo de morrer sem ter feito o que queria. Mas mesmo sabendo que isso é provável, tenho a mania de deixar que o amanhã resolva. Esse amanhã que nunca chega.

Colorido e coisa e tal

26 de setembro de 2011


Se conseguir um dia extrair cores de onde só se enxerga cinza poderei clarear essa cidade monocromática. Melhor ainda se puder fazer isso com o que não enxergo. Colorir o que não é visto por fora, trazer sentido a isso que chamam de vida. E mostrar que a esperança não está onde tudo é verde ou que a paz é clara como uma luz branca. Desmitificar os paradigmas das cores. Se o verde for esperança, as florestas estão esgotando seu estoque. Se o branco simbolizasse a paz o brilho das explosões seriam pretos. O coração é vermelho, mas se for azul, funciona do mesmo jeito. O que difere é o modo como uso esse órgão metafórico. Se as lentes forem irreais, quero arrancá-las para enxergar o colorido real que há nos olhos de quem me vê. Se meu humor é pálido, que mergulhe em cores quentes e se aqueça também. Que sempre irradie luz, o sol que é amarelo, e que nunca mais seja cinza como foi naquele dia escuro. Que os palhaços pintem seus narizes de cor qualquer. Que mudem um pouco essa vermelhidão que mais me lembra fim de tarde em um dia apocalíptico.
E que caia do céu um pincel gigante agora mesmo. E baldes e mais baldes de tinta. Que os homens se unam para pintar o que está perdendo a cor. Mas que antes se pintem por inteiro. Dento e fora de si mesmos. Pintem a alma que não se enxerga, mas se sente. Pintem Deus que se esconde nas nuvens brancas. Se tiver barba, como sugerem os quadros, sujem-na de tinta roxa para que ele desça e entre na brincadeira. E se ele se recusar a entrar na roda com o pretexto de que não pode deixar de vigiar suas crias, que assoprem todos juntos para que ele caia lá de cima sobre uma cama elástica. E façam cócegas nele. Mas e se Deus não for da forma como imagino? Bom, aí a gente inventa e pinta. O que eu quero é não ter que achar que estou sozinho nesse mundo.

Camaleão de emoções

22 de setembro de 2011

Meu nome não interessa. Só tenho que contar uma coisa que me aconteceu há alguns dias. 
Sabe-se lá o que acontece no mundo para que tudo pareça menos interessante do que é de verdade. Algum evento com probabilidades ínfimas resolve ocorrer no universo e faz com que alguma partícula se relacione com outra que está por perto e venha fazer efeito aqui em mim. Deve ser. Tenho explicação melhor não.
- Você está bem?
-Sim. Acho que sim.
- O que aconteceu?
-Nada, oras.
-Ora se nada! Você estava alegre agora pouco e ficou diferente em segundos. Lembrou de algo que te fez ficar mal?
-Talvez. Que seja! Eu tenho essas coisas mesmo. De repente eu fico assim. Depois eu volto ao normal. Nunca aconteceu contigo?
-Sim, já. Mas não precisa fazer essa cara.
-Desculpe, mas ela vem de brinde no pacote de angústia momentânea. Não é espontâneo, é consequência dos eventos aleatórios que ocorrem no universo. Sabe? Encontro de partículas, transmissão de ondas que causam efeitos colaterais em pessoas que residem em planetas anos luz da fonte do encontro. Pessoas e seres não identificados também.
-Do que você está falando?
-Nada que tenha fundamento. É uma desculpa para isso que acontece comigo de vez em quando e que eu não sei como explicar.
-Isso tem cura, amigo. Existem psicólogos especializados no tratamento de pessoas que sofrem desses distúrbios.
-Muito obrigado pela piada, garota cômica.
-Desculpe-me, cara. Não resisti. Mas fica assim não que passa. E para de inventar desculpas para seus dramas. No fundo você sabe o motivo de tudo que acontece com você. Ou pelo menos uma pista que te leve aos motivos.
-Você tem razão. Por dentro a gente sempre sabe.
-Eu sempre tenho razão. Nunca se esqueça disso!
-Ok. Dessa vez eu tenho que concordar com você. Mulheres e seus sextos sentidos...
-Você parece melhor agora. Camaleão de emoções. É assim que você deveria se chamar.
E de repente eu estava alegre novamente. Vai entender...

Quem entende?

11 de setembro de 2011

Não consigo dizer palavras doces como antes, pois, quando se conhece a dor, a felicidade que se sente pelas coisas simples parece impossível para se tornar real.
Não que eu tenha deixado de sorrir. Só tenho hoje, conceitos diferentes sobre o que significa esse sorrir.
Hoje. O que é o hoje senão uma linha que se finda a cada fio de presente que se torna passado sem nossa permissão?
E tudo é passado para mim que não tenho planos para o futuro.
Perdi minha sensibilidade. Ou ela só se esconde por um tempo às vezes? Resposta esta que não tenho agora. Mas posso dizer que se ela se esconde, está camuflada com perfeição, pois não a enxergo com clareza alguma. E eu que prezava pelo romantismo e dizia que amava... Agora que não me sinto sensível, não sei se amar é mesmo o que penso ser. Mas queria que fosse. Seria tão mais simples enxergar o mundo como normalmente se enxerga por aí. Cansei das dores de cabeça por conta das tentativas de mover montanhas com a força do pensamento.
Indiferente e maçante personalidade que me ronda vez ou outra. Não consigo expulsá-la, pois não sei quando ela toma conta de mim ou vai embora. Silenciosa personalidade que se assume sem pseudônimo. Com o mesmo nome se disfarça sem que eu perceba e se exterioriza dizendo o que pensa, inconsequentemente.
Não sou poeta nem tenho a experiência de um mundo todo nas minhas costas. Mas conheço boa parte do que é a vida sob o julgar dos meus olhos. E minha verdade por enquanto é a de que alguma coisa me espera lá na frente.
Lá na frente que nunca chega. Tenho certeza de que quando chegar não vou saber reconhecer e seguirei dizendo que um dia ele virá, deixando-o passar por mim sem que eu perceba.
Há de clarear alguma luz física! Porque agora eu quero algo concreto, que saia da teoria e me realize por inteiro.
Eu disse. 
Não consigo mais dizer palavras doces...

Sou normal

4 de setembro de 2011


Manias que tenho. Gasturas que tenho. E que todas as pessoas têm, mas pensam que apenas elas mesmas possuem isso. Só esquecem que seus cérebros não diferem em nada no quesito composição química e biológica do cérebro de outra pessoa, estando, portanto, sujeitas às mesmas reações e sensações humanas. O mundo é o mesmo para todos, o que difere é a maneira como cada um o descreve.
É você quem anda nas ruas se perguntando se as mentes alheias pensam coisas semelhantes aos seus pensamentos. Sou eu também. Você quem tem os rituais antes do sono, os quais incluem processar o dia inteiro em cinco minutos, arrepender-se do que não fez e jurar que vai fazer diferente no dia seguinte. Sou eu também. É você quem olha no olho de alguém e esconde o amor que sente porque não tem coragem de dizer a verdade. Sou eu também. Você quem tem segredos tão íntimos que os esconde de si mesmo por medo, ou por qualquer outro motivo. Sou eu. Você quem se distrai no meio de uma explicação importante e só percebe isso algum tempo depois. Eu próprio.
Não sou diferente em nada, porque sofro pelas mesmas coisas, choro pelas mesmas circunstâncias, sorrio pelos mesmos motivos. Estou sujeito a tudo porque o tudo é o mesmo para qualquer um. Desde sempre foi assim. O homem diante de sua dor, buscando algo que o faça feliz. Ou feliz, mas com o receio de cessar os sorrisos um dia. Guerras internas sempre foram o cenário da psique humana. O desespero por conta disso é só conseqüência do não conhecimento de si mesmo. Por isso só me aquieto quando me descubro.
Diante disso não tenho coragem de levantar a bandeira e gritar que sou diferente, porque não sou. Sinto prazer em dizer que sou normal em um mundo onde ninguém mais quer ser. Sou um pouco de você e você é um pouco de alguém. Somos só uma mescla de frações que se distribuem em todos de forma dessemelhante, mas que ao final é a mesma coisa, a mesma essência básica.
Normal.
Normal demais.

Papel e caneta na mão. Estou armado

28 de agosto de 2011


Escrevo com intuitos múltiplos, que entrelaçados formam a rede que me balança livre no quadrado minúsculo que me resta de liberdade. Escrevo para resgatar o que faz parte de mim e que se esconde por entre os olhos que me revelam o mundo. Escrevo na esperança de adivinhar o que irá acontecer comigo apenas observando o que já aconteceu em tempos outros. E rabisco o plástico ou a madeira que me serve de assento, porque o próximo que se recostar onde repousei por algum tempo, poderá saber que ali estive, mesmo que não me conheça em carne viva.
Não escrevo o que sou. Escrevo o que quero ser. Reinvento-me com a grafia errante que me sai dos dedos magros e curtos. Faço-me vivo enquanto estou morto em carne e osso. Minha alma se dissipa em cada linha, em cada idéia mirabolante. Posso sentir o vento que o vai e vem da mão direita provoca em meu espírito perdido. Quem sente não consegue descrever o prazer que salta, rola e corre dentro do peito enquanto se verbaliza por escritos. Já, pois, privo-me da tentativa de expressar o clímax em curtos e confusos textos. Largo nas entrelinhas os segredos mais ocultos da minha consciência e passo a bola para quem me lê interpretar da maneira que achar que deve. Minhas palavras podem ser as palavras que muitos não conseguem tirar de si, pois não se libertam nas folhas brancas, não experimentam as tintas que devem pintar o quadro da vida, não vivem. Já eu, vivo. À minha maneira, mas vivo.
O mundo que crio é bem maior que o existente, em que reside meu corpo terreno. Flutuo enquanto brinco com as palavras que voam sem algemas nos céus claros do imaginário que me é real.
Sou tudo isso ou nada disso que disse e desdisse. Depende da hora do dia e da cor do humor. E chega de tanto dizer por hoje. 

Memória Seletiva

16 de agosto de 2011



Nunca escrevo para um grupo específico de pessoas. Geralmente falo sobre mim e pronto, egoísta que sou. Mas dessa vez quero dedicar esse texto àqueles que o lerão e provavelmente esquecerão em cinco minutos. Falo dos que tem a memória seletiva. É, seletiva. Os que são vítimas de seu próprio cérebro que escolhe o que lembrar. E não adianta fazer força para não esquecer porque não dá certo.
Tem gente que lembra o que fez um ano atrás. E eu, putz, não lembro direito o nome do meu professor. Que inveja eu sinto quando vejo uma pessoa com boas habilidades para memorizar as coisas. E como fico constrangido quando me perguntam se lembro algo e de repente vejo meu cérebro dar uma pane na configuração. É chato.
Minha memória é ótima, mas parece ter vontade própria. Escolhe o que lembrar e esquece todo o resto. E o todo resto geralmente é o que dá corda às sociais com os colegas da vida. Por exemplo: recordo com detalhes quando um fulano entregou uma rosa para minha avó quando eu era ainda uma criança. E o que isso importa? Nada. Ele só disse “um espinho para uma rosa” e isso jamais sairá da minha cabeça. Nem assunto dá, veja você.
Esqueço de reparar na roupa das pessoas e quando me perguntam o que eu achei daquele traje da noite passada digo “desculpe-me, é que minha memória é meio problemática”, e ainda tenho que aguentar cara feia. Esqueço de cobrar dinheiro emprestado, de pagar a conta da Internet, esqueço dez reais na gaveta do guarda-roupa e só lembro quando vou procurar uma camisa que combine com a calça. Esqueço o que ia fazer na cozinha e volto todo o trajeto na esperança de lembrar. Esqueço de dar o recado, de comprar o grafite da lapiseira. Esqueço o dia da Páscoa, confundo Independência com Proclamação da República. Coloco lembrete no celular para não esquecer algo e esqueço de tirar do modo silencioso. Assim, eu não ouço alarme nenhum e bom, já dá pra deduzir o que acontece depois.
Não sei se as professoras falharam no exercício de memorização ou se fomos presenteados com um gene atrapalhado (aliás, as professoras são as responsáveis por isso? eu não me lembro). O fato é que somos meio esquecidos. Só não podemos esquecer em hipótese nenhuma como se vive, como gostar dos amigos, como fazer por merecer... Essas coisas que fazem questão de nos lembrar todo dia.

Odeio cebolas

11 de agosto de 2011


A mente divide-se em vários pedaços que se desenham completando-se somente se estiverem juntos. É como uma divindade santa. São várias partes de um só elemento.
Ela flutua sobre grandes placas tectônicas que vez ou outra promovem um abalo sísmico neural. TERREMOTO no seu sistema nervoso. E balança, sacode, desequilibra a cabeça. De vez em quando, por conta desse fenômeno imprevisível, forma-se uma montanha de pensamentos aleatórios ali, um riozinho de lágrimas aqui e umas estruturas sensíveis desabam em outro canto. Santa confusão humana que me dispara o peito. E nem quero comentar quando uma mente resolve se dedicar a cuidar de outra. Daria um filme. E não sou bom em escrever roteiros. Só assisto os que já existem e que por alguém foram feitos.
Sou meio louco em querer conhecer o desconhecido, mesmo sabendo que talvez nunca chegue a conhecer isso que eu nem sei se existe de fato. Tomei uma dose de estímulo tão forte que até hoje me mantenho no meu compromisso de desmascarar minha mente dúbia. Essa danada.  E não mereço palmas por minha persistência. Desistir algumas vezes teria feito bem à minha alma. Talvez eu a teria salvo de tanto sofrimento. Porque quem procura acha mesmo. Quanto mais cutuquei a ferida, mais lágrimas caíram dos meus olhos por tanta dor que sentia. Mas eu, que sempre gostei da dor de tirar a pelinha que recobre o machucado, continuei tocando o que já estava quieto. Restou-me conviver com essa cicatriz que só eu sei que existe. É por dentro, não por fora. Por isso volto a dizer que não mereço palmas. Joguem-me tomates, laranjas, só não jogue cebolas porque odeio cebolas.

O que movimenta a vida

6 de agosto de 2011


"...a gente se torna mais dependente de um amor aquando ele termina do que enquanto ele dura.
[...]
Enquanto estamos vivenciando um amor, não teorizamos a respeito. Só a partir da ruptura é que fazemos um inventário dos ganhos e das perdas, e, por estarmos emocionalmente fragilizados, acabamos por superdimensionar nossa solidão involuntária. Do que se conclui que o único remédio para a dor de amor é aceitar que as coisas vêm e se vão, e que isso é que movimenta a vida [...]"

Trecho da crônica "Amores interrompidos", tirado do livro Non-Stop - Crônicas do Cotidiano, de Martha Medeiros. 

Na desconexidade do que eu tento falar toda vez

3 de agosto de 2011

Vivo correndo do que já existe. Tenho mais presença no mundo onde as coisas ainda não existem concretamente. Ser real o tempo todo é chato. Gosto de ser livre quando quero ser. Imaginar. Inventar. E só sou livre quando estou só. Porque até a solidão tem seu lado positivo. Eu posso ser eu mesmo. Sempre fui assim. Normal. Super normal.
E quando estou só, quero estar junto, apesar de que na presença de pessoas nunca sou completamente eu. Não canto, não danço e não falo o que quero falar. Só experimento a liberdade quando não há ninguém olhando. Não tem um pingo de graça.
É que eu tenho medo. A gente passa anos se mascarando para o mundo. Criando um “eu mesmo” aceitável para, de repente, largar um projeto tão grandioso assim e se aventurar a ser livre. Loucura. Arriscar nunca é fácil e tudo que é difícil eu dispenso.  Sou preguiçoso mesmo!
Mas, putz grila. Tenho que parar com essa besteira de ter tanto receio com tudo que for do respeito do meu íntimo, o que eu sinto. O que eu quero. O que eu desejo. O que eu não quero. E o que eu não desejo também.
Pra falar a verdade, não sei se tenho que parar mesmo. É que vejo todo mundo feliz por aí sendo espontâneo que me vejo na necessidade de me tornar a ser menos fechado.
Eu tenho vontade de ser sei lá o que, que me deixe um pouquinho melhor comigo. De gritar não sei pra quem na esperança de ser ouvido. De ser aquilo que eu não sei o nome e que deixa todo mundo aparentemente bem.
Mas eu me amo mesmo assim. Sei que por dentro, todo mundo quer ser um pouquinho diferente também. Parece que ser feliz nunca está ao nosso alcance.

Essência múltipla

28 de julho de 2011

Cada vontade é uma cor. Elas se cruzam o tempo todo.

Que acontece com as pessoas afinal? Há sentido nessa necessidade de definir uma maneira de viver? Somos tão complexos e relutamos em nos resumir em simples seres limitados. Não entendo. Por que rotular-se? Por que essa mania de querer mostrar ao mundo um único lado do nosso eu? Ninguém gosta da mesma coisa o tempo todo, mas quase todo mundo engana a si mesmo e ao mundo dizendo que seu estilo de vida é imutável.
Eu não quero ser imutável. Não quero escutar as mesmas músicas sempre. Prefiro gostar de rock hoje, odiar amanhã, adorar depois de amanhã e gostar um pouco menos semana que vem. E nesse intervalo de tempo entre amar e repugnar, eu quero escutar rap, contemplar as letras de Chico Buarque e sentir a vibe de uma música eletrônica. Se hoje gosto de uma pessoa, outra hora não gosto mais e um dia após eu quero ela guardada dentro de uma caixinha só pra mim. Eu sou inconstante. Não há problema nisso. A única coisa que tenho que provar é que sou um ser humano, e tenho o direito de fazer e gostar de coisas aleatórias em doses diversas em diferentes dias do ano durante a minha vida toda. Ninguém pode ser o mesmo o tempo todo. Se for, tá errado. É farsante.
Quero descobrir o mundo. Quero ser múltiplo. Abrir a mente e não viver preso aos meus próprios paradigmas. Quero amar, mas ter o direito de errar. Não sou perfeito. Quero andar sem rumo, conversar com um mendigo e sorrir para o sol quando ninguém estiver olhando. Não quero andar de carro o tempo todo, prefiro optar pelo transporte coletivo vez ou outra. Sentir a presença da minha espécie aglomerada. Eu gosto das pessoas, observá-las é meu passatempo preferido. Mas às vezes quero ficar só, longe delas. Sou contraditório. Quem não é? Todo mundo é. E nem todo mundo admite isso. E quem admite, não pode ser contraditório o tempo todo.
Dosar a vida. Eis o segredo. Equilibrar minha alma, aquietar minha inquietude. Ser hoje, mas não ser amanhã. Fazer tudo que quiser na medida do possível. Não estou fadado a ser eu mesmo o tempo todo até a morte. Quero assumir personagens às vezes. Quero me divertir testando a mente das pessoas sem machucá-las. E se machucar, foi sem querer. Também me machuco sem perceber.
Viver. Crescer. Aprender. Experimentar. E mudar de idéia quando quiser.
Sou falho. Sou ser humano. A metamorfose continua.

Li uma crônica da Martha Medeiros e me deu vontade de escrever. Não saiu tudo que eu queria falar porque esqueci muita coisa que tava na minha cabeça. Outra hora eu falo mais. "É devagar que se chega ao longe".

Arquivos mentais

26 de julho de 2011

O primeiro passo é abrir as gavetas e organizar os pensamentos. Depois arquivar os que me são inúteis no momento. Faço isso muito bem quando quero. E se não conseguir por tudo em ordem eu jogo o que me atrasa dentro da pasta onde ficam as coisas que prefiro não pensar. E lá é bem cheio. É o local onde se encontram meus medos, passado, frustrações, constrangimentos, desilusões, essas coisas que ninguém gosta de recordar. Há aquelas pessoas que escondem objetos passados em algum lugar e evitam mexer ali até que estejam preparadas. Meu arquivo mental funciona da mesma forma. Um dia, quando tudo estiver bem, talvez eu venha folhear esses registros esquecidos.
O que me resta, pois, agora? Dizer que cansei de reclamar aos céus que não há pessoa nesse mundo capaz de me entender. Cansei porque não faz sentido protestar sobre isso. É incoerente querer que me entendam sem que eu mesmo faça isso. Quem há de me conhecer sou eu, que convivo comigo a todo o tempo. Depois, assim, posso reclamar com direito sobre aqueles que não movem uma migalha para entender o que se passa com esse eu que se esconde aqui dentro. Só depois. Não antes. Mesmo que esse depois nunca chegue, meus valores me circundam, então não posso desistir.
Desistir de mim mesmo? Ora, é loucura fazer isto. 

A vida é um eterno teatro

14 de julho de 2011


Quem dera eu pudesse escolher o que sentir ou mesmo fazer com que as pessoas fossem menos insensíveis. Já que aquele papo de mudar a si mesmo para que as mudanças externas ocorram naturalmente não funciona mais.
Ah se fosse possível escrever minha vida agora para que no futuro ela caminhasse da maneira que eu escrevi ao invés de escrever amanhã o que eu não pude evitar que acontecesse hoje.
A vontade de por tudo que sinto na ponta da caneta me vem de repente. Mas não sei o que fazer, pois não sei o que sinto de fato. Ou sei e não consigo explicar. É algo que preenche a mente e dispara meu coração de tal forma que me vejo na necessidade de por tudo pra fora. Ou melhor, preciso exteriorizar algo que está preso em mim e apresentar isto a mim mesmo através das palavras. Sabe, um auto desabafo.
A recompensa é que acabo por descobrir novas faces ocultas. A cada novo sentimento, uma nova palavra. A cada nova palavra, novas mudanças. E é nesse efeito dominó que amenizo a minha inquietude.
Sei lá, eu gosto de conversar comigo mesmo. Porque assim eu posso manter um nível de entendimento estável. Já que a pessoa que mais me conhece sou eu mesmo. Ou talvez isso seja uma desculpa por não aceitar o fato de que não tem ninguém pronto para me escutar de verdade.
Ainda não descobri até que ponto o fato de ser uma pessoa só possa ser bom. Vejo gente dizendo que a solidão é benéfica se soubermos usá-la a nosso favor. É até verdade. Então eu fico esperando que um milagre aconteça. Que uma pessoa caia do céu dizendo que veio em meu favor e a meu dispor. Ou que alguém que já faça parte da minha vida se transforme nessa pessoa. Tipo em um espetáculo de teatro.
Mas pensando bem, a minha já é isso. Mas é difícil ser o diretor e ter que assumir a posição de maquiador da minha própria face. De fazer meu figurino ao mesmo tempo em que faço o roteiro. Ajudar a produção enquanto organizo o cenário. E ainda por cima ter que atuar. E como em um bom espetáculo, ter que improvisar às vezes.
Mas é assim. Quem não tem experiência tem que começar do zero e assumir posições de outras pessoas, até que apareça alguém disposto a colaborar e atuar junto com a gente nesse palco da vida.

Fragmentos subjetivos

2 de julho de 2011


Acordava de um sono curto, porém reconfortante. Enquanto sua mente estava neutra perante os primeiros resquícios do dia e seu corpo ainda tentava situar-se, o mundo já estava correndo e infectado pelo que se passa na cabeça dos humanos. São aqueles vinte segundos pós-sono, nos quais a mente ainda está branca e livre das peripécias da imaginação. Foi logo após esse momento que se lembrou de como sua vida estava conturbada e do sonho que havia tido momentos antes do seu despertar. Uma avalanche de pensamentos se despejou sobre ele, logo nas primeiras horas do seu dia, soterrando-o. E lembrou-se de lutar contra as ideias, mas em vão. Lembrar de esquecer algo só contribui para o não esquecimento.
Recordou-se, além disso, de sua rotina. Cinco minutos sentado na beirada da cama, com as pernas sobre a ação da gravidade, constitui um atraso. E deveria levantar-se logo, antes que perdesse a hora devaneando o que o acompanha o dia todo dentro da mente. Teria tempo para pensar depois.
O que a vida se tornou... A obrigação faz matar a vontade do homem. Pensar, só quando sobra tempo. E quando não, há de se pensar enquanto o expediente não acaba. Dividindo os minutos entre introspecção e ofício. Meus rápidos flashs de inspiração são engolidos pelas preocupações diárias. E ainda não entendem porque prefiro discutir a vida a desperdiçar o tempo com o que não me interessa.
Sou adepto ao ócio produtivo, que me purifica e me põe em primeiro plano. Mesmo que por vezes as algemas do mundo sejam mais fortes e me prendam. Minha missão aqui é desatar os nós e me livrar das amarras. Eu quero é ser livre de mim mesmo.

Ciúme do que é meu e principalmente do que acho que deveria ser meu

24 de junho de 2011

Eu gosto de falar sobre as coisas da vida tanto quanto gosto de falar sobre mim. Às vezes me invade a mente umas divagações sem utilidade nenhuma que me fazem refletir sobre os fatos mais insignificantes do meu cotidiano. São pensamentos tão meus que tenho certo receio ao expô-los pelo simples fato de achá-los inúteis demais. E há momentos em que minha vontade de extraí-los da alma é tão forte que não consigo organizá-los em poucas palavras. Mas não custa tentar.
Quando leio um livro acabo adotando-o como se tivesse feito por mim. Ou para mim. As ideias que os personagens dizem muitas vezes condizem minuciosamente com o que penso. Então fico com aquela estranha sensação de que sou o centro do universo e que tudo é direcionado à minha pessoa. Parece que as frases, conclusões e devaneios ditos só estavam esperando serem lidos por mim, e que depois disso não teriam motivo para serem sentidos por outros.
Isso explica o ciúme que sinto quando vejo alguém dizendo um trecho de um livro, filme ou mesmo uma música que até então julgava ser propriedade minha. É como se pedaços de mim estivessem pulando de boca em boca sem minha autorização.
Não demonstro exteriormente esse meu zelo pelo “meu”. Pode ser uma paranóia que todos sentem dentro de si e esquecem que existe na maioria do tempo. Mas observo-a quando ouço alguém dizer alguma coisa do tipo “eu amo essa música! Parece que foi feita para mim” e não hesito em pensar “Ai ai. Nem deve ter entendido a letra direito para estar dizendo isto. Ora, se me conhecesse saberia que esta música tem tudo a ver comigo”.
Ciúme, ciúme...
Há explicação para isso? Deve haver sim. A psicologia deve explicar essa normalidade genuinamente sapiens.
Tem coisas no comportamento humano que atingem meu humor...

Texto simplório

21 de junho de 2011

Aqueles momentos em que alguma pessoa te surpreende com um “ei, acorda!” quando você está parado, olhando fixamente para lugar nenhum e pensando em uma coisa qualquer te faz refletir o quanto anda distraído. Parece que seus pensamentos te levam para um mundo paralelo, onde você se sente seguro e diferente do restante das pessoas. Você conversa consigo próprio e vez ou outra se pega falando sozinho ou cantando uma música sem perceber que há alguém por perto achando que você é louco. Ou pior. Quantas vezes, por se achar tão alheio ao mundo, você já pensou estar realmente ficando louco? Certeza que isso não acontece só comigo.
Eu tenho a necessidade de mostrar o que sinto por meio das palavras. É por isso que escrevo tanto e falo pouco. Sou um cara de pouca expressividade quando se trata de falar. Já me acostumei com isso. Antes eu queria muda isso, mas hoje não cobro mais tanto de mim. Aprendi que mudar pelas pessoas não é tão correto quanto mudar por si próprio. Passei a pensar assim quando ouvi alguém dizendo que “a única pessoa que sempre vai estar ao meu lado, me aturando até o último dia da minha vida sou eu mesmo”. Então pra que me mascarar para os outros? Eles sempre vão embora e me deixam com o vazio e a sensação de que fiz algo errado. Sempre.
Quando você adota uma postura mais rígida e passa a ser você mesmo, as pessoas te enxergam com outros olhos, pois elas não querem que você seja bom por você mesmo. Elas esperam que você sirva para elas em algum aspecto. Pelo menos a maioria delas.
Eu não queria falar nada disso. Mas esqueci o que queria dizer de verdade e resolvi encher lingüiça com mais algumas ideias soltas.
Fica aí mais um pedaço de mim, registrado.

A vida não segue receita nem mapa

19 de junho de 2011

Confesso que perdi parte da minha vida tentando solucionar o mapa que me levaria ao encontro do segredo que solucionaria meus problemas. Os livros me deram pistas, as pessoas me mostraram incontáveis caminhos. E eu, no meu instante de inocência, agarrei-me à esperança de que, com um toque de mágica, tudo poderia se resolver. Mas viver dá muito trabalho. E nada é tão fácil quanto parece.
A sensação é de que meu mapa estava errado. Algum bêbado o escreveu enquanto namorava escondido por aí e me entregou por engano. Ficava eu aqui, perdido, tentando encontrar o ‘X’ que recobre o meu tesouro perdido. Mas cansei de cavar em lugares errados e me dar mal. Até que resolvi jogar meu mapa fora. De vez. Queimar e lançar as cinzas ao vento. Saudades eu senti, é como se me desfizesse do meu destino... Mas não. Agradeço a pessoa que disse que o destino quem faz é a gente. Foi esse argumento o meu consolo. Eu achava que meu futuro estava traçado, como obra divina ou coisa parecida. Que tolo, não?
Agora, que adianta resmungar o tempo perdido? O reloginho da vida não atende ao ditado de que “quem não chora não mama”. Até porque já chorei cachoeiras, a ponto de inundar meu ser e o deixar gélido como o pico do Everest. E frio e solidão são duas coisas que não combinam...
Mas não quero esquecer o assunto principal da nossa conversa: o tal mapa. Como já disse, larguei. Ateei fogo. Destruí e ponto final. E como encontrei o desfecho para o meu caminho, você me pergunta. Quem disse que eu quero encontrar um desfecho para o meu caminho? Eu só quero viver do meu jeito. Guiar-me sem rumo, sem planos. Afinal, minha existência não segue receita. É uma mistura louca sem medida certa. Sem ponto final enquanto estiver vivo.

Heartless

16 de junho de 2011

Por um momento, não sinto nada.
Nem dor.
Nem alegria.
Nem tristeza.
Nada. Como um cometa vindo em direção à Terra, realizando seu trajeto sem pensar no que irá acontecer. Seguindo sua direção, sentindo o vento bater em seu corpo. Entende?
Só tenho a vontade de que tudo seja diferente. Que eu seja diferente. E que pare de não sentir nada às vezes. Porque é ruim sentir que não se sente.

Boa noite, depressão

5 de junho de 2011



Agora é fácil escrever. Estou em um daqueles momentos de tristeza, os quais rendem ótimas cartas suicidas. Suicídio da felicidade.
O roteiro é o mesmo de sempre. O dia demora passar, o vento parece estar com preguiça, a cadela fica deitada como quem não quer nada da vida e todo mundo fica calado contemplando o maldito calor de um domingo ensolarado e tedioso.
Não há novidades. Não há visitas. Nem surpresas. Até a comida do final de semana que é sempre tão saborosa perde seu sabor. É a depressão momentânea e enjoativa de sempre.
A droga da Internet não está convidativa. As pessoas parecem chatas. Só parecem. Porque na verdade quem está chato agora sou eu. Chato demais.
Hoje eu sou uma criança, pedindo colo. Carente como ninguém. Não que eu esteja reclamando da vida. Só estou conversando comigo mesmo permitindo que o mundo veja o que se passa.
Deixa eu ir embora antes que eu comece a falar da minha noite e vocês desejem a morte por conta de tanta negatividade.
Isso passa. Em estado normal eu sou mais legal. Acontece que todo mundo passa por isso às vezes.
Mas amanhã é outro dia.

Faça uma lista...

1 de junho de 2011

...sobre tudo que você quer para sua vida.
Depois disso, faça outra lista sobre tudo que você realmente precisa para sua vida.
Se forem coisas diferentes, então seus sonhos não fazem sentido.
Só farão sentido quando a intenção dos mesmos for ultrapassar as vontades do ego, extrapolar o plano material e te transformar em uma pessoa melhor espiritualmente.
A vida exige apenas o necessário, as pessoas que teimam em complicá-la lutando por coisas vãs.
Não é a toa que tantos buscam os livros de auto ajuda, procurando a cura de doenças da mente. Essas pessoas não sabem, mas estão correndo atrás do antídoto que está presente dentro delas próprias. Porque ninguém pode nos dar as respostas para os nossos questionamentos. O máximo que podem fazer é provocar o subconsciente no intuito de incentivar ele mesmo a tirar suas próprias conclusões. Conclusões estas que estão apenas ocultas na névoa da sombra que nos preenche.
Não ficaram para trás o amor e nem a compaixão. Não está perdido o espírito de solidariedade muito menos a essência do existir. Tudo isto só está preso, gritando para sair. É só fazer uma lista sobre tudo que você realmente precisa para sua vida. Se necessitar de ajuda, feche os olhos e pergunte a si mesmo o que é preciso para te fazer feliz. Ninguém melhor do que nós mesmos para nos ajudar a mudar quem somos.

Meu tímido poema

29 de maio de 2011

Praça do Relógio - Taguatinga - DF

Não sei escrever poemas como tantos fazem por aí
Uma rima não sai facilmente da cabeça de um leigo
Nem mesmo os dias mais lindos, com flores coloridas
Conseguem me presentear com tal feito
Ai quem me dera usufruir desse direito

Vou tentar lembrar de tudo que já vivi
Ora, se não me sair um poema algo de errado eu fiz
Um dia aprendo certinho e deixo de ser aprendiz

E olha que já foram duas estrofes
Sem estrutura e sem métrica, é claro
Quem se importa? não é por isso que vão me condenar
Uniformizar a poesia é como jogar todo o amor no mar
E observar as águas salgadas o levando para nadar
Creio que ainda resta mais um pouco
Eu só devo terminar quando falar o que quero
Rimando ou não, acho que consegui sair do zero

Vou terminar por aqui dizendo que foi tudo culpa do coração
O maior causador de intrigas do universo
Contudo, se não sabes o motivo dessas palavras
Então leia a primeira letra de cada verso

!

Um pouco mais

18 de maio de 2011

- Difícil é nos manter unidos sendo tão diferentes um do outro.
- Mas não dizem que os diferentes se completam?
- Isto só acontece em livros. Pare de acreditar em livros.
- Você tem razão. Somos diferentes. Mas somos iguais.
- Não aja como louco. Como podemos ser diferentes e semelhantes ao mesmo tempo?
- Você é diferente de mim e me ama. Eu sou diferente de você e te amo. Temos isto em comum. Somos iguais.
Podia-se ouvir os sons das pálpebras se fechando, tamanho era o silêncio após a pronuncia daquelas palavras. Mas ainda havia alguns vocábulos presos, gritando para serem libertos.
- Amar, apenas,  não é o requisito para ser feliz. É preciso fazê-lo direito. O amor por si próprio não faz milagres. Ninguém vive somente de amor. Você deveria saber disso.
- É certo. Não é preciso amar para viver. Mas sua falta pode nos levar à morte. Morte da alma. Falência do espírito.
- Diga-me, aonde pretende chegar com esta conversa?
- Não sei. Talvez a lugar nenhum. Só quero te enrolar um pouco pra ficar perto de você. Sabe, sentir o seu cheiro.


Um ano de "É tudo o que eu sei" (clap clap clap)

13 de maio de 2011

Não consegui pensar em nada legal pra escrever hoje. Só estou postando pra lembrar que é sexta feira 13, e por ironia do destino o blog completa hoje um ano desde a primeira postagem. Sintam medo pela coincidência.
Obrigado a quem acompanha e gosta daqui. Obrigado pelos elogios e pelas críticas construtivas. Por aqueles que sempre comentam, e também pelos que não comentam mas leem o que escrevo. Enfim, obrigado por tudo e por todos. 
Espero completar mais alguns aniversários aqui. Se é que vocês me aguentam... mas se não aguentar, sem problemas. Eu sou chato e continuo do mesmo jeito.
Então é isso... parabéns pro blog!
E boa sorte aí pra vocês.

Percebam que a camisa combina com o layout do blog.
Tudo pensado.

O figurão

8 de maio de 2011


Tido como louco por onde passava, deixava mais uma vez o rastro de sua insanidade naquela rua abarrotada de pernas apressadas que movimentavam corpos cansados. Ele tinha vestígios de um bom conhecedor, mas suas palavras soavam de maneira diferente. As pessoas não se acostumavam com aquilo.

-Continuem movimentando o mundo com suas máquinas movidas a sangue humano e colham os frutos das desgraças futuras. Permaneçam cultuando os deuses da terra que se disfarçam em frente às câmeras e sejam supostamente felizes – protestava o personagem estranho.

-Desce daí, maluco! – disse um senhor de cabelos grisalhos que passava falando ao celular, segurando uma maleta preta e trajando roupas formais - Vai trabalhar!

-Trabalhar? – interrogou o “louco” que se equilibrava em um banquinho segurando um pedaço de sanduíche na mão esquerda – É só o que importa para o mundo. Trabalhar! Isto que irá destruí-los. Vocês deviam se preocupar com os valores humanos tanto quanto se preocupam com os valores monetários – houve uma pausa para uma leve mordida no que restava do sanduíche, que mais parecia um tecido amarrotado – Alguns de vocês me chamam de louco, pelo fato de que amo a vida. Se assim é, então me conformo com este rótulo. Tenham a consciência de que aqueles que foram chamados de loucos no passado, hoje estão sendo estudados nas escolas por terem revolucionado de alguma forma a vida. Eles pensaram além de vossa simples realidade. Os “normais” são esquecidos e somem com o passar dos anos. Como uma rocha que se desintegra aos poucos com o bater do vento.

A pequena multidão de curiosos que havia se formado em volta daquele indivíduo estranho foi se desfazendo enquanto ele saía dançando e rodando, entoando uma canção aparentemente alegre.

A música e sua importância em relação à vida

6 de maio de 2011

Ao longo da história da humanidade, ela sempre esteve presente nas sociedades. Portanto, há mais utilidade entre combinar os sons e compor canções do que supõe as vãs filosofias. A música, como toda manifestação artística, embeleza o mundo e transforma corações e mentes. Isto é mais do que sabido. Além disso, ela é de uma imensa importância quando o assunto é a vida.
Há quem não viva sem ela, outros que a usufruem apenas para distração, e ainda os que reproduzem ritmos diversos nas pistas de danças para animar os festivos. Sem falar que a música influencia o estímulo da criatividade e a expansão da cultura.
Assim como as roupas dizem muito a respeito da personalidade das pessoas, a música também tem este papel. Quem escuta forró, por exemplo, é visto como alegre e festeiro. Já os que preferem o ritmo mais pesado do Rock’n Roll podem ser facilmente taxados como agressivos por indivíduos que não têm conhecimento sobre o estilo musical em questão. Além do mais, todos podem demonstrar um pouco do que sentem por meio das palavras musicadas. Seja a felicidade de um amor correspondido, a tristeza consequente de um fato horrendo, a revolta contra as injustiças sociais, uma paródia cômica sobre um assunto polêmico, entre outros.
Levando para o lado científico, teorias dizem que as células e órgãos sofrem estímulos advindos das emoções que a música provoca, já que o corpo reage às vibrações dos sons. Este conhecimento hoje é aplicado em terapias com pacientes que sofrem de diversas doenças, já que a música aperfeiçoa a capacidade de concentração, a velocidade em que as informações são processadas e principalmente a conservação da memória.
Ela faz parte das mudanças que ocorrem no decorrer da vida e muitas vezes até impulsionam estas. Quando as pessoas amam, é costume passar a ouvir músicas que embalam o coração ou que lembre o amado ou a amada. E é fácil relembrar o passado apenas escutando os hits que fizeram parte de certos momentos. Uma ótima fonte histórica, diga-se de passagem.
Em suma, a música é essencial na vida de qualquer um. Som, ritmo, melodia e poesia juntas movem as engrenagens do mundo, mesmo que muitos não deem tanta importância assim. O fato é que as ruas sempre estarão habitadas por pessoas distraídas viajando com seus fones de ouvido ou nos seus carros escutando os ritmos da moda. Porque de um jeito ou de outro, a música transforma a vida.



Primeira pauta para o Bloínquês.
58ª Edição Opinativa - Tema: A importância da música
Fontes: um pouco aqui, aqui, aqui, e lógico, aqui

Sobre o querer de verdade

23 de abril de 2011

Não muito raramente escuto as pessoas dizendo que se pudessem, fariam o que quisessem de suas vidas. Largariam o emprego, deixariam a casa dos pais para sentir o prazer da independência, fariam uma tatuagem e colocariam piercings ou até mesmo sairiam de carro sem destino por uma estrada deserta. Mas só não realizam esses desejos porque não podem. Não podem por que mesmo?
Lendo uma crônica da Martha Medeiros outro dia, dei de cara com um trecho que me fez rever meus conceitos. Dizia que “somos roteiristas da nossa própria história, podemos dar o final que quisermos para nossas cenas. Mas temos que querer de verdade. Querer pra valer. É este o esforço que nos falta.” E isso responde a pergunta do último parágrafo. Não podem por que não querem de verdade. As pessoas têm a vida que tem por que querem assim e pronto. Podem não estar satisfeitas com a situação em que vivem, mas vivem da maneira que acham que devem.
Admiro as pessoas que conseguem ser o que querem e fazer o que gostam. Admiro o hippie que larga o mundo material e não se importa com o que as pessoas falam. Admiro o viajante que dedica as horas do seu dia para conhecer o mundo porque gosta disso. Admiro as tatuagens que colorem os corpos e admiro mais ainda as pessoas que as fazem sem medo da exclusão social. Admiro o cantor que deixou uma vida toda para trás para viver do jeito que queria e lutar pelos seus sonhos. Admiro as pessoas determinadas. Admiro os que são e não têm medo de ser. Os que vivem do jeito que querem e estão satisfeitos com isso.
Admiro porque não tenho convicção quando digo “eu quero”. Tenho medo do que pode acontecer e vivo do jeito que acho que devo, sabendo que no fundo não é nada disso que eu quero. E vivo insatisfeito. Ainda insatisfeito. Quem sabe um dia eu queira de verdade.

Ressurgindo das cinzas! Pra quem sentiu minha falta, ainda estou vivo. Pra quem não sentiu (=/), estou vivo do mesmo jeito. É, minha vida anda meio assim sabe... mas não quero reclamar. Se reclamar melhorasse a vida, não existiriam mais reclamações, pois tudo estaria bem após a primeira reclamação feita. Deu pra entender né? Felicidades pra vocês, meus queridos cinco leitores.

O eu disfarçado de você

8 de abril de 2011


Durante certo tempo você acha que todos aqueles estereótipos sobre os relacionamentos humanos não se adequam a você. Os clichês da vida, o “ninguém é confiável”, “o amor é traiçoeiro”, “as pessoas podem te decepcionar cedo ou tarde” são ignorados por você de um modo que te faça achar que é uma rara exceção entre os mortais. Ingenuidade.
Então você quebra a cara no momento em que descobre que a exceção dessa vez não faz parte de você. São as tais das estatísticas fazendo jus à sua reputação. Ninguém está livre das armadilhas da vida. Nem você. E ao descobrir tal fato a decepção é inevitável. Afinal, você é só mais um. Quem quer ser só mais um? Ninguém quer só mais um.
As pessoas não agem como o esperado. O amor brinca contigo. Suas vontades mudam e você se vê traindo as promessas feitas nos momentos de elevada felicidade. Logo você que havia jurado algo para alguém, mas agora mudou de ideia. Força das circunstâncias, meu caro. Todos somos sujeitos às mudanças, das mais significativas às mais insignificantes. Sua vida mudou e seus pensamentos agora são outros. E como isso é terrível. Terrível para você. Terrivelmente terrível para o restante do mundo.
E o que fazer com os conselhos dados? Como agir diante da verdade que tanto lhe causa medo? Você sabe, não há caminho que se faça sem sentir o gostinho amargo da dor. Alguns te levam a superá-la mais rapidamente, mas qual? Pensa... Pensa. Sua cabeça está a mil. Esvazie-a.
Tá na hora de escrever...

Hoje só vim postar mesmo. Tá tudo meio parado por aqui (ao contrário da minha vida, que anda meio desnorteada e confusa), mas agradeço os que ainda me visitam, eu sempre retribuo. Amanhã ou depois eu volto por aqui.
E o blog tá de cara nova. Enjoei do antigo e dessa vez quem fez o layout fui eu. Como é o primeiro que faço, não ficou lá essas coisas, mas eu gostei e espero que gostem tbm ^^
Tchau pra vocês.

Aos que ainda prezam a vida no sentido de viver

2 de abril de 2011


"Caminhos a gente escolhe, acreditando a vida inteira
O sol brilha e o povo se ajuda com as cartas na mesa
É dinheiro, é poder, onde está a vida boa?
Do vigésimo quinto você é outra pessoa
Que sente medo do ritmo que anda a cidade
Acelerado. Como anda acelerado.
João do morro pede socorro e procura ajuda
Devoto de um santo forte, que às vezes não te escuta
E sente na pele o tempo, sem glória, o cansaço
O artista pinta em cores tristes, a vida no retrato
Em meio ao céu cinzento há um ponto de esperança
João do morro ainda traz o grito na garganta
Vai clarear, pra gente não há chuva que não passa
Há de clarear, toda a fé, basta acreditar
E o mal vai passar, há de clarear novos tempos
Há de clarear, novos tempos..." ♪

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