Um texto sobre julgamentos, sentido da vida e essas coisas

28 de dezembro de 2013


Ouvi uma vez e repeti comigo, porque achei bonito: você não pode se colocar como referência para fazer julgamentos sobre o mundo, pois as pessoas têm necessidades diferentes das suas. Se você se usa como parâmetro para fazer medições acerca daquilo que as pessoas fazem ou deixam de fazer, você está querendo que elas sejam como você. Isso é muito egoísmo.
Mas agora eu parei pra pensar e cheguei à outra pergunta. Se eu não me usar como referência para julgar o mundo, quem devo usar? Meu vizinho? O motorista do ônibus? Meio estranho. Ou eu me coloco como referência - uma vez que eu sou o meu próprio filtro - ou eu paro de julgar. Se eu paro de julgar, de que me serve viver? Não posso aceitar tudo como está. Sem ritmo, sem ação, sem descobertas, sem reflexão, sem apontar o erro e procurar a solução, o mundo para. Se o mundo para, é porque a vida não tem sentido. Porque o sentido quem descobre sou eu... O sentido da minha vida quem faz sou eu, essa foi a conclusão a qual cheguei com a ajuda de alguns caras mortos que deixaram alguma coisa pra eu ler. Eu explico.
Andei pensando a vida toda e concluí que ela não tem sentido. É uma conclusão pessoal, claro. Algumas pessoas acreditam que existe um sentido, sim, algo sobrenatural. Faz sentido, mas pra mim não basta fazer sentido. Certo, eu fiquei triste por acabar chegando a esse ponto e vi que só me restavam duas escolhas: ou eu me matava - porque a vida não tem sentido, oras - ou eu continuava vivendo como se nada tivesse acontecido. Eu escolhi continuar vivendo porque me matar não teria graça, mesmo acreditando que não faz sentido nenhum essa coisa toda. O negócio é bem mais profundo que isso, mas o que importa é, basicamente, que a vida não faz sentido e mesmo assim eu escolhi continuar vivendo. Bom, pra eu continuar vivendo eu precisava dar um sentido pra isso tudo, mesmo que só de mentirinha, certo? É isso que estou buscando.
Bem, pra buscar um sentido eu preciso julgar o mundo. O que é certo, o que é errado? O que é bom pra mim e o que não é? Como eu acho que deveria ser o mundo? Eu sou obrigado a pensar sobre isso. É consequência da minha escolha - você escolheu viver, cara. E pra isso eu preciso me colocar no centro. Eu preciso ser o filtro para as influências. É necessário que eu seja o meu próprio juiz. Quem mais poderia ser? Meu pai? O padre da Igreja do meu pai? Eu escolhi a liberdade e só quem pode me tirá-la sou eu mesmo - bom, a liberdade não existe, mas a gente pode continuar fingindo também... só não conte a ninguém.
Enfim.
Sobre julgar: Eu posso e devo fazer. E, veja bem, deixar-me ser o juiz das minhas escolhas não me faz um egocêntrico. Não quero que o mundo nem as pessoas sejam transformadas a meu favor. Isso seria terrível e toda a graça de continuar vivendo se perderia. Continuarei julgando, apontando. O que eu não farei é ferir a liberdade alheia ou desrespeitar o princípio de que as pessoas têm suas próprias necessidades, muitas vezes diferentes das minhas.
Acredito que as pessoas também devem experimentar o questionamento, o auto julgamento, o julgamento do mundo externo. Quero ser livre para convidá-las a experimentar isso também. Aceitem se quiser e eu nunca obrigarei caso recusem o convite. Eu quero que brinquem de viver comigo...
É isso. Já que é o que nos resta, sigamos vivendo da melhor forma possível.

Sobre o mundo ser do tamanho de um ovo

10 de dezembro de 2013


"Existe uma teoria sobre como no mundo inteiro só existem 500 pessoas reais (o elenco, por assim dizer; todas as outras pessoas no mundo, diz a teoria, são figurantes) e todas se conhecem. E isso é verdade, na medida possível. Na realidade, o mundo contém milhares e milhares de grupos de mais ou menos 500 pessoas que passarão a vida se encontrando, se evitando, se esbarrando numa improvável casa de chá em Vancouver. O processo é inevitável. Não é sequer coincidência. É apenas a maneira como o mundo funciona, sem consideração pelos indivíduos ou pela adequação." (Neil Gaiman, em Os filhos de Anansi).
O humor de Neil Gaiman nesse livro me lembra o de Douglas Adams na série "O Mochileiro das Galáxias". Deve ser por isso que eu o achei tão legal, sem desmerecer a originalidade de Gaiman, é claro (até por que ele é outro gênio). É bom fugir da realidade de vez em quando e os livros representam uma das minhas válvulas de escape...

Sempre amanhã

3 de dezembro de 2013


"Outubro. Papal Noel no shopping. Como o tempo passou rápido esse ano! Quando eu era criança o fim do ano demorava tanto para chegar. Mês que vem temos feriado, não vejo a hora. O que eu vou vestir na ceia de Natal? Novembro. É quase fim de ano, e o Roberto Carlos deve estar gravando o especial de sempre. Quero saber que cor eu vou usar na virada desse ano. Preciso de sorte. Preciso cumprir algumas promessas também. Já é véspera de Natal. Não vejo a hora de chegar dia 31. Dia 31. Já é janeiro. O começo de ano é sempre estranho. Bom, o Carnaval está aí. Nossa, as escolas de samba são sempre iguais. Semana Santa. Sempre como carne vermelha. Deus me perdoe, mas odeio peixe. Ano que vem faço jejum, esse não. Lá vem a Páscoa aí. Páscoa. Chocolates!!! Adoro chocolate. Estou pensando qual presente comprar para o dia das Mães. 'Então o almoço de Dia das Mães será na sua casa, tia? Ótimo! Nos vemos no mês que vem'. Onde serão as festas juninas esse ano? Adoro festas juninas. Se meu pai estivesse vivo semana que vem estaríamos comemorando o Dia dos Pais. Minha nossa, o Dia das Crianças está chegando! Como o ano passou rápido! Outubro. Papai Noel no shopping."
Assim se vive de futuro. Enterraram o momento presente e agora só há o vislumbre do que virá a ser. Quando sentir a vida? Amanhã...
Moral: vivemos nos adiantando. É raro vivermos o presente. Nossa vida nunca é, mas virá a ser. Adiantamos nossa morte todos os dias, sem querer... Ninguém leu isso aqui, só você. É nosso segredo.

Sorveteria

9 de novembro de 2013


Era rotina. Todo dia após a aula ela passava em uma sorveteria que ficava no caminho de casa e pedia os mesmos sabores de sempre. "Chocolate por baixo e morango por cima, por favor". Chocolate era o seu preferido.
A sorveteria era bem pequena. Um retângulo imperfeito. O freezer onde ficavam os potes de sorvete era de um tamanho também pequeno que enganava quem observava de longe. Cabia muita coisa ali dentro. Quatorze potes, ela contou uma vez. Os sabores eram diversos e às vezes mudavam.
Um dia ela entrou nessa sorveteria, como de costume, e teve de aguardar a moça do balcão atender a dois clientes que haviam chegado primeiro. Ela observava pelo vidro do freezer a textura dos sorvetes. Maracujá, baunilha, flocos, uva, chocolate, limão, doce de leite, morango, menta, romeu e julieta, coco, chiclete com banana, morango e  tutti-frutti. Ela sempre tinha vontade de experimentar outros sabores, mas nunca teve coragem de mudar o pedido. Aquilo era muito importante e ela não poderia trocar o certo pelo duvidoso. Os dois clientes demoravam. Ela teve tempo de pensar.
-Maracujá deve ser azedo - pensava - e eu não gosto de coco. Limão não faz o meu estilo. Doce de leite me enjoa fácil. Menta arde e não é doce - ela tinha um bom motivo para não escolher cada um daqueles sabores. Mas e se eu experimentar e gostar? Ninguém precisa saber e eu posso fingir que continuo não gostando. E amanhã eu posso voltar aqui e pedir o de sempre. Não é tão ruim assim...
-Obrigado e voltem sempre - disse a dona da sorveteria. - E você, mocinha? O que vai querer?
-Um cascão. Chocolate por baixo e morango por cima, por favor.
Chocolate era o seu preferido. 

Comigo próprio

27 de outubro de 2013

Você não pode me falar que gosta daquilo que faço sem perceber porque se eu souber que faço algo que não percebo começarei a fazer percebidamente e você não mais gostará daquilo que antes em mim era involuntário. Goste de mim e não fale o porquê. Só goste.
Caso não goste de mim por alguma coisa que eu faço sem perceber, se quiser continuar não gostando é ótimo que não me fale sobre isso, porque há o risco de que eu comece a fazer percebidamente e você passe a gostar de mim. Não goste de mim, mas não diga o porquê se não quer ter a chance de passar a gostar. Apenas não goste.
Deixe que aquilo que faço sem querer continue em mim sem que eu saiba, por gentileza. Sou aquele que não percebe e isso não me incomoda.
Sobre as coisas que eu sei que faço, não precisa me lembrar. Sei de todas, e se as faço é intencionalmente.
Só me lembre do que incomoda para que eu possa mudar se preciso for. Só aponte o que há de errado em mim quando o erro me impedir de fazer o certo.
Não minta para mim, mas esconda a verdade quando a verdade for desnecessária. Saiba quando isso acontecer.
Faça tudo isso, conheça-me ao máximo e prometo fazer o mesmo. Sejamos cúmplices da escolha que fizemos juntos, que é continuar vivendo da melhor forma...
(Não precisa entender. Eu me imagino em algumas situações e descrevo como seria. A vontade de escrever veio enquanto eu assistia o DVD dO Teatro Mágico (Recombinando atos), disponível no Youtube).

Conversa informal

19 de outubro de 2013

-Você consegue entender as coisas que você lê? É porque eu não consigo.
-Consigo, sim.
-Eu tento, mas as coisas não entram na minha cabeça.
-É por que você não pratica. Qual livro você está lendo?
-Eu não lembro o nome, mas é um que tem alguns ensinamentos.
-Pois é. Se você não praticar não dá pra aprender. Ultimamente eu tenho lido muitas histórias fictícias. Essas não precisam ser praticadas, só sentidas. Quando leio algo que exige uma análise mais profunda eu geralmente faço marcações, anotações e analogias com a minha própria vida. Esse tipo de leitura exige mais que uma simples absorção.
-É por isso que é bom ler quando se é jovem. Depois de velho você não tem mais cabeça pra essas coisas.
-Então você acha que eu não tenho preocupações?
-Não estou dizendo isso. O que eu quero dizer é que as preocupações dos jovens são poucas. Você tem os seus estudos, os seus amigos e nada muito além disso.
-Você está falando sério?
-Sim, mas não quero ofender. É que é isso mesmo. Quando você for mais velho vai me entender...
-Bom, passam muitas coisas pela minha cabeça. Algumas das suas preocupações refletem em mim também, por exemplo. Além disso, as minhas próprias preocupações vão muito além dos estudos e dos amigos.
-Ah, é? Que tipo de preocupações você tem?
-Não quero ofender, mas não se preocupe com elas. É que é assim mesmo. Quando você for um pouco mais jovem vai me entender...

Vontades

13 de outubro de 2013

Sabe qual é a minha vontade? Minha vontade é tomar banho de olhos fechados equilibrando meu peso em uma perna só. Falar o alfabeto de trás pra frente, devagar na primeira vez, ainda devagar na quinta, e quando chegar na décima poder falar como se sempre soubesse disso. Escovar os dentes com a mão esquerda, e na hora do almoço segurar a faca com a direita. Subir no último andar de um prédio e olhar pra baixo sem medo de cair. Quero passar no mercado e pedir balinhas verdes em vez das vermelhas de sempre. Escutar músicas no modo aleatório, por que não? Minha vontade é cumprimentar o cobrador e o motorista quando subir a escada do ônibus. E quando já estiver dentro, sentar em um dos bancos do lado esquerdo e pegar um pouco de sol no caminho. Perguntar como vai o dia da pessoa que se sentar ao meu lado.
Quero atravessar a rua de costas. Comer um único pão no café da manhã. Dormir às dez horas da noite e acordar às sete e meia da manhã. Aprender a tocar violão. Terminar aqueles livros que ficam olhando pra mim todo dia antes de me deitar. Dar um abraço nos meus pais e dizer que eu gosto deles pra caramba. Sair de casa sem pentear o cabelo e não me preocupar com isso. Perguntar pro segurança do shopping onde fica aquela loja - que eu sei muito bem onde está - só pra tirar um pouco do seu tédio. Pegar o panfleto que aquele cara toda vez me oferece e eu finjo não enxergar.
Ser diferente por um dia pra ver se é bom ou não. Ser diferente no outro dia pra confirmar a tese do dia anterior, e, no terceiro, ser diferente por teimosia mesmo.
Minha vontade? São minhas vontades. Meus sonhos de criança. Minhas pequenas alegrias não manifestadas. Meu relógio marcando quatro horas da tarde por três horas seguidas. Sentir alguma coisa boa por algum tempo bom. Permitir-me sem me incomodar.

Alguma coisa sobre um monte de coisas

8 de outubro de 2013

Diga-me: há quanto tempo não nos conhecemos mais? Quantas primaveras se passaram desde o nosso último abraço? Nós nos tornamos estranhos dentro de um ambiente que dividimos a vida toda. Sem querer, talvez.
Como chegamos a esse ponto? Eu queria poder te dar bom dia olhando nos seus olhos, mas não te conheço mais. E eu gostaria que você respondesse todas as vezes como se realmente estivesse desejando que eu tivesse um bom dia, mas você não sabe mais quem sou eu.
Somos mais de dois. Deveria ser mais fácil conhecermos uns aos outros. As possibilidades são maiores, não é? É estranho como caminhamos contra tudo o que é saudável e normal.
Nós não pedimos mais licença para passar porque a gente ultimamente tem evitado estar nos mesmos lugares juntos. Eu  não me lembro quais são as cores das suas roupas preferidas. Qual era mesmo o nome daquela música que você gostava? E você, lembra quando eu faço aniversário? Quem são vocês? Vocês sabem quem sou eu?
Será que só eu percebo isso?
Eu me olho no espelho e pergunto se a culpa é minha. Eu também não me reconheço mais, de fato. Ando com olheiras visíveis. Meus olhos estão mais vermelhos que nunca! As minhas costas doem e minha respiração não é a mesma... E, vejam só, eu tenho tão pouca idade.
Vocês não estão em situação melhor...
Será que conseguem me responder por que estamos lutando tanto por uma vida que nem estamos vivendo? Quando vai chegar o dia que mora na oração "um dia chegaremos lá"? E se chegarmos lá, o que terá restado de nós para vivermos esse dia?
Eu sinto falta de vocês, mas eu não posso fazer muito sozinho. Nem forças eu tenho. É tão difícil.
Sinto falta do natural. Sinto falta de não precisarmos apontar o que está errado. Sinto falta dos pedidos de desculpas espontâneos. Eu sinto falta de me arrepender quando eu não me esforço para mudar...
Sinto falta de desejar sumir só de vez em quando e não todos os dias.
Sinto falta dessas coisas que nós nunca cultivamos.
E eu tento me enganar todo dia. Tem dado certo.

A morte gerando vida

7 de outubro de 2013

Eis o verme que se alimenta da dor. O parasita que se sustenta tomando para si tudo aquilo que de asqueroso existe em seus hospedeiros. O sugador de toda a escuridão. O ser que só se mantem vivo por saber que sempre está morrendo.
A sensação de morte é o seu combustível.
Como é prazeroso nunca se sentir vivo!
É doce o sabor da morte. A mesma morte que não é capaz de o levar embora sem que precise acabar com seu corpo físico.
Fraca morte.
Odeia quando morrem. Ama quando vivem. A vida é o seu propósito, paradoxalmente.
Ah, ele ama a vida! Ele ama a morte... Ama a morte... A morte é tão fraca!
Verme arrogante. Parasita prepotente! Como pode querer para si todos os problemas do mundo? Como ousa não querer dividi-los?!
Morte burra...
A força da vida é tão mais expressiva! E a vida só depende da própria morte, veja só. Mal sabe ela que basta que suma daqui para que o maldito hóspede sem querer se esvaia...
Sem querer se esvaia e morra de vez, ora.
Mas sem estratégia a morte sempre perde.
Ao parasita oferecem os ares, mas o inferno foi o mais próximo que ele conseguiu de alcançar o tão sagrado céu. E essa nunca foi sua vontade, de fato. Sua vontade é poder estar. Nunca ser.
Continua vivo!
A morte é tão burra...

Algumas coisas sobre livros abertos em prateleiras de bibliotecas velhas

19 de setembro de 2013

Eu tenho tantas coisas para dizer e tão poucas oportunidades para fazê-lo! Algumas dessas coisas eu simplesmente esqueço, outras eu não posso mais dizer por ter se passado tempo demais, e outras, ainda, omito por não ter alguém para ouvir.
Dizem que guardar muita coisa consigo próprio é prejudicial à sua saúde psicológica e que o correto é falar, falar e falar. Como se eu fosse um pneu de carro que suporta somente algumas libras de pressão antes de explodir, se assim for mais fácil para entender.
O negócio é que eu não tenho problemas em falar. Eu só não sei ser espontâneo para falar sem ser solicitado. E, geralmente, não recebo muitas solicitações, diga-se de passagem. Talvez porque eu tenha criado essa imagem de ser uma pessoa que não fala, pelo fato de não sair falando sem que me perguntem. Pode ser, pode ser...
Posso fazer uma analogia bonita para explicar melhor:
Minha vida é um livro aberto que fica na última prateleira de uma biblioteca velha. Ela está lá, quietinha, livre para ser folheada. Minha vida, como não pode falar (ela é um livro, e livros não falam), fica esperando que algum curioso toque em suas folhas e descubra o que tem por lá, e, como ela está em um local não muito bom de uma biblioteca não muito nova, as oportunidades existentes para que seja descoberta são ridículas.
A moral da história é que eu não mordo - sério, eu não tenho esse costume -, e que eu estou à disposição caso queira saber alguma coisa sobre mim.
Fica aqui registrado.
Se você chegou até aqui, obrigado. Poucas pessoas costumam frequentar bibliotecas velhas à procura de livros abertos que se encontram na última prateleira...

Alguma realidade

2 de setembro de 2013

[...]
-Cara, você ao menos já tentou encarar os fatos com um pouco mais de otimismo?
-Sim, lógico! Mas não é possível voltar atrás levando em conta o ponto em que já cheguei. E, de toda forma, eu não sou um pessimista. A minha sina é encarar a vida com o máximo de realismo que eu puder. É mania, sabe.
-Joga essa fumaça pra lá!
-Perdão - disse apagando o cigarro na grama. Um realista... Sim, sou um realista. E, veja bem, nada é mais honesto que isso. A esperança não se faz tão necessária. O máximo que você precisa esperar é o possível fruto daquilo que você molda com o conhecimento que adquire enquanto vive. Isso é um dos sinais da coragem. Você se move, faz alguma coisa, e não fica apenas sentado esperando que o mundo conspire a seu favor. Isso é bonito, não acha?
-Não sei, cara. Pode ser.
-É bonito, mas há um grande problema nisso.
-Problema?
-Sim.
-...
-O problema de se ser realista é que a realidade é péssima.
-E isso não faz de você um pessimista?
-Pelo contrário. O realista conhece e aceita o fato de que a realidade é péssima. Mas, ao contrário do pessimista, ele não desiste de tentar fazer alguma coisa.
-Sei não, cara. Acho que você se baseia muito nessas teorias malucas e esquece de viver. Sua vida é um roteiro que nunca sai do papel. Você diz que age, mas só te vejo acuado.
-Eu tenho esse problema também.

No céu havia algumas estrelas e um pedaço de lua em forma de linha curva. O resto era só noite.

Carta para o moço da loja de livros

22 de julho de 2013

"Para o moço da loja de livros.
Seu moço da loja de livros, eu descobri que não precisa de muita coisa pra viver. É verdade! Meus pais falaram que eu preciso estudar para ser alguém na vida e meus professores dizem que eu faço as coisas de um jeito errado, mas eu não me importo muito com isso. Eu não quero ser alguém na vida porque eu já sou. O que eu quero mesmo é crescer e ser grande como meus pais. Mas eu não quero ficar bravo com as pessoas como eles ficam. E eu quero poder almoçar em casa também. E eu não gosto de estudar. Estudar é uma palavra feia, o senhor não acha? É uma palavra que me lembra obrigação. Obrigações não me deixam contente, só me deixam cansado. Eu gosto mesmo é de aprender e tem coisa na escola que não dá vontade.
Além disso, seu moço da loja de livros, eu acho que as pessoas fazem tudo errado, mas não têm coragem de admitir isso, daí elas continuam fazendo assim porque não têm tempo de pensar e mudar as coisas. Mas vai ver elas não sabem disso, né? Elas podem não ter lido aquele livro que o senhor me emprestou semana passada que falava sobre essas coisas. Mas pode deixar que quando eu crescer vou contar isso tudo a elas, porque agora ninguém vai me levar a sério mesmo.
Bom, seu moço da loja de livros, eu não posso escrever muito porque eu não conheço muitas palavras ainda, mas espero que eu tenha escrito tudo direitinho dessa vez. Eu tentei corrigir os meus erros como o senhor me falou aquele dia, e parece que está dando certo.
Ah! Quando o senhor encontrar essa carta eu quero que me avise. Estou tentando descobrir quanto tempo as pessoas levam pra encontrar aquilo que não estão procurando. É que meus pais demoram muito pra achar as coisas quando estão procurando por elas.

Obrigado de novo por me ensinar um monte de coisas. Quando eu for velhinho como o senhor tomara que as crianças também gostem de mim assim.
Com carinho,

do seu amigo da segunda casa depois da loja do moço do doce."

Sem poder fazer nada...

30 de junho de 2013


Eu sinto como se estivesse no centro do caos.
Como se todos os problemas do mundo fossem meus.
Sinto como se estivesse de olhos abertos e toda a luz do universo penetrasse meus olhos.
Sinto o peso da criação em mim,
como se eu fosse o responsável por aquilo que acontece no mundo que criei.
Sinto um peso enorme...
Eu sinto... eu sinto... sinto por não poder deixar de sentir...
Sinto dores completando os espaços vazios que ainda restam em mim.
Sinto o peso do arrependimento... sinto por não poder evitar que as coisas saiam do controle.
Elas saíram do controle há muito tempo,
e eu nada pude fazer, e continuo não podendo...
Eu sinto...
Eu sinto essa grande impotência em ser meu próprio deus e não saber controlar o que se passa em meu mundo...

Sobre rotina e essas coisas da vida

16 de junho de 2013


Ninguém gosta de acordar cedo em uma segunda-feira, e observar um domingo se esvaindo lentamente é uma tortura. Aliás, há uma nuvem escura que pousa sobre os domingos mais ou menos depois das 20:00 h que deixa tudo mais depressivo. Um medo que o início de uma nova semana planta na cabeça de quase todo mundo.
Vai começar tudo de novo. Você vai acordar cedo, pegar um ônibus ou enfrentar o trânsito de dentro do seu carro. Vai chegar no trabalho e encarar suas novas - mas iguais - tarefas ou terminar as que ficaram faltando da semana passada. Ou vai para a faculdade estudar aquilo que você gosta sabendo que na terça tem aquela aula chata sobre aquele assunto que você só encara por não ter outra opção. Mas está tudo bem, a vida não é feita só daquilo que você gosta, certo?
Não sei se está certo.
Sua diversão é ir ao parque nos fins de semana, encontrar os amigos no shopping, viajar para esfriar a cabeça, "fugir da cidade" ou da própria realidade, viver outras vidas momentâneas, ou seja lá o que for. E se houver um feriado que te proporcione isso mais cedo que o previsto, ótimo! Feriados são perfeitos, certo?
Não sei se está certo.
E o que você vai dizer aos seus netos se por acaso os tiver um dia? Você não pode viver uma vida inteira fazendo as mesmas coisas. Vamos levantar essa bunda da cadeira! Isso, viaje, fuja, inspire-se, conheça, tenha fortes emoções, esqueça a rotina - essa terrível rotina - beba um pouco, experimente fazer coisas proibidas, seja louco! Ser louco é uma das melhores formas de se aproveitar a vida, certo?
Não sei se está certo.
Há algo de errado em tudo isso. Eu vejo tristeza em cada esquina, eu vejo insatisfação todas as manhãs quando observo as pessoas dentro dos seus carros, vejo-as sendo felizes apenas quando sobra tempo...
A vida não é feita só daquilo que a gente gosta. Por que não? Há quem não se obriga a fazer o que não satisfaz para alimentar essa esperança de dias melhores. Na verdade existe certo conformismo em perpetuar esse legado social aqui cimentado. Essa obsessão por progresso, por crescimento, por levar uma vida infernal para se ter uma tranquila futuramente, por deixar um legado, por ter que sofrer... Por que isso tudo? Por que repetir as mesmas ações sempre? Por que, para ser feliz, tem-se que fugir da rotina, respirar novos ares? Por que os "hábitos comuns" são sufocantes? Por que as pessoas saem de casa tristes e estressadas e não fazem nada para mudar? Uma vez ouvi dizendo que se as pessoas realmente estivessem satisfeitas com suas vidas, com seus trabalhos, com sua situação, não precisariam comemorar feriados...
"É preciso lutar!". "Sofrer faz parte da vida". "É preciso fazer o que não se gosta também". "Tem-se que perder para dar valor"...
Há algo de errado. Enquanto for preciso se desviar do caminho habitual para sentir algum tipo de prazer pessoal os valores estarão caminhando para um conformismo imensurável.

PS.: Salvo disposições contrárias. Embora eu ache difícil...

Confissões da madrugada

2 de junho de 2013


Eu sofro de um problema que me perturba dia e noite. Tenho o que vou chamar agora de distúrbio de desvio de concentração do presente. E não falo por vaidade - porque há quem goste de estar cheio de problemas... vai entender. Não há maneira que faça aquietar minha cabeça em relação a isso. Explicarei o que vem a ser esse tal distúrbio.
Gosto de ler, sobre qualquer coisa que me interesse. Ler abre minha cabeça e expande os caminhos que posso vir a seguir. Leio cores, leio fotografias, leio pessoas, leio livros, leio a vida. Ler não é um gostar-ou-não-gostar. A leitura faz parte de mim. Hoje, sou o que leio, e o que faço com isso me edifica. 
Ótimo.
Durante o tempo em que estive vivo por aí, passei por processos que todo aquele que se questiona e questiona também a vida já passou ou está passando. Tomei choques de realidade, cresci com minhas mudanças, chorei, aprendi, perdi o sono etc, etc, etc. Hoje estou em um estágio de aceitação e de novas descobertas. Normal, normal. Não quero ir além com essa história. É coisa que já se sabe.
O grande problema é que aprendi várias coisas e agora não sei o que fazer com elas. Não sei olhar para o presente mais. É como se eu estivesse flutuando, esperando o vento cessar para que eu caísse em algum lugar. Perdi a coragem de escolher pelo medo que tenho de estar jogando as outras possibilidades fora. Quero fazer tudo. Isso é terrível! Eu sei que não posso fazer tudo, pois sou só um!
Como se não bastasse, existe um problema maior que o grande problema:  a vida está passando, o tempo está correndo e o vento ainda está muito forte!!! Quando irei me firmar? Quando terei os pés no chão? Não quero mais ter apenas esperança. Esperar custa caro quando é só isso que você faz.
Preciso filtrar, colocar as coisas na balança, tomar decisões e tudo que for necessário para sair do lugar, mas eu simplesmente não sei por onde começar.
Torço para que esse momento seja apenas um rápido momento, como uma ponte que liga as descobertas com aquilo que farei com elas um dia. E que esse dia não esteja tão longe...

Insight light

19 de maio de 2013


Passo a maior parte do tempo criando uma imagem minha, um resumo daquilo que sou para apresentar ao mundo, uma fotografia que me represente. Não quero mais.
A partir de agora não crio mais nada em relação ao que sou para entregar aos outros. Serei eu mesmo, sem artifícios de disfarce, e é isso que o mundo terá de mim.
Bem, mas deixar que me conheçam é complicado demais.
Hum... Já sei! Serei o que sou sem que saibam o que estou sendo. Nisso tenho isenção de responsabilidade sobre o que interpretarão a respeito. Mas isso também é problemático...
Que se dane! Não crio mais e acabou. As pessoas é que se virem para sustentarem a imagem que quiserem de mim.

Feito para não ser entendido

11 de maio de 2013

Se alguém passa a maior parte do tempo pensando, o pouco que sobra é aquilo que se diz real. Nesse caso, o real acontece em menos frequência que o imaginado. Se para cada pensamento existisse uma vida paralela relacionada, indo de acordo com aquilo que foi pensado, o universo de possibilidades ficaria apertado. Sabendo de tudo isso e adotando as vidas paralelas como sendo mais satisfatórias, é conveniente dizer que a vida real é o evento restante daqueles que não existem, mas que se existissem seriam, juntos, mais prováveis e menos frustrantes que esse evento específico. Agora, já beirando à loucura, afirmo que a vida real é aquilo que você faz por teimosia, uma vez que é muito improvável, já que se sabe que existe um leque incontável de outras possibilidades de vidas paralelas. Além disso, se a vida real é o que sobra e está em minoria, como se verifica fazendo os cálculos, pode-se dizer que ser real é negar todas as outras possibilidades, ou seja, viver a realidade é apostar naquele mesmo número da loteria ciente de que a possibilidade d'ele ser sorteado é a mesma em qualquer dia do ano. Logo, desculpe-me informá-lo, a vida real é uma farsa.
Com tudo isso, é justificável imaginar que existem vidas anônimas não sendo vividas, pelo fato de não poderem existir em um mesmo universo. E, sabendo que são mais satisfatórias (isso é uma hipótese), há algo de errado com a vida real (se a hipótese for verdadeira, o que deve ser, porque se não fosse a realidade seria ideal e eu não estaria falando essas coisas). Esse erro, como fica explícito, está em ser real o tempo todo.
Se você chegou até aqui com sua sanidade em níveis estáveis, é necessário que ignore qualquer brecha deixada nos argumentos acima e apenas capte a mensagem. Agora preciso que responda para si mesmo: quem é você quando abre a porta de casa? Quem é você quando está pensando? Quem é você quando diz que sim, eu vou ficar com você a vida toda, sabendo que no fundo o que você pensa é "será que isso vai dar certo mesmo"? Quais são os segredos que só você, em um planeta cheio de gente, sabe sobre você mesmo? E, bom, todas as outras perguntas que podem eventualmente surgir devem ser incluídas, uma vez que quem escreveu isso se esqueceu da maior parte daquilo que queria dizer inicialmente.
Àquele que se perguntar "quem esse cara pensa que é para dizer que o que eu faço está errado?" gostaria de dizer que eu nunca disse isso e o deixo com mais essa reflexão: o que você faz está certo para você? A resposta anterior é realmente verdadeira? (Caso a segunda resposta venha a ser negativa, repetir o processo até que se torne positiva, o que vai acontecer em algum momento, se você parar de mentir tanto).
Pronto. Era apenas isso. Se não entendeu, ótimo. Você ainda pode continuar sendo feliz vivendo normalmente.

Faz sentido? Se não, eu não me importo. Mesmo. Isso foi feito para não ser entendido. Caso você tenha entendido, eu sinto muito dizer, mas você terá, se é que já não tem, sérios problemas com as coisas da vida. Ah! Bem vindo ao time!

O restaurante no fim do Universo #02

7 de abril de 2013

Fiquem com esse trecho do segundo livro da série "O Mochileiro das Galáxias". Interpretem como quiserem:

"-Há muitos anos este era um planeta próspero e feliz. Havia pessoas, cidades, lojas, era um mundo normal. Exceto pelo fato de que nas ruas dessa cidade havia um número de sapatarias um pouco maior do que poderíamos considerar necessário. E lentamente, insidiosamente, o número dessas sapatarias foi aumentando. É um fenômeno econômico bastante conhecido, mas trágico quando você vê a coisa toda acontecendo. Quanto mais sapatarias havia, mais sapatos precisavam ser fabricados, e os sapatos iam ficando piores e menos duradouros. E quanto piores ficavam, mais as pessoas tinham que comprar sapatos para se manterem calçadas, e mais as sapatarias se expandiam, até que toda a economia do planeta passou por algo que, se não me engano, foi chamado de Horizonte dos Eventos dos Sapatos - um ponto a partir do qual, economicamente, não era mais possível construir nada a não ser sapatarias. O resultado disso foi o colapso econômico e social, a ruína e a fome. A maioria da população pereceu. Os poucos que tinham um tipo específico de instabilidade genética sofreram mutações e viraram pássaros [...] que amaldiçoaram seus pés, amaldiçoaram o chão e juraram que ninguém mais andaria aqui. Muito infeliz, isso tudo. [...] "

(Gargravarr conta a história do planeta Frogstar B para Zaphod.)

Estou lendo a série de novo porque eu já não me lembro de muita coisa. E também penso na possibilidade de eleger "O restaurante no fim do Universo" como o meu favorito entre os cinco da trilogia. Uma coisa arbitrária, só para ter uma resposta para quando perguntarem "Qual seu livro preferido da série?".

...

22 de março de 2013


Ele caminhava distribuindo papéis na rua
e não olha olhava nos olhos de ninguém.
As pessoas não sabiam que eram papéis diferentes.
Ele queria atingir alguém...
Sempre atingia alguém...
Ele era vários,
e cada pequeno pedaço de papel era um dele.
Ele queria que sentissem algo
e as pessoas, que ficavam sem entender o que significava receber um papel avulso de um estranho,
sentiam muito por ele todos os dias...
Ele não se importava se despertava curiosidade ou asco...
Queria que sentissem algo.
Ele dizia antes de dormir para o seu cão:
Eu preciso que sintam algo...
Meu blog se tornou um caderninho... Bom, eu não me importo com isso.

Sob o sustento de um divã #01

11 de março de 2013

[...]
-Desprender-se dos seus próprios conceitos também é uma forma de mudar - ele tinha cinquenta e três anos e já havia dito isso a algumas dezenas de pessoas.- Sua vida parece a mesma, mesmo tendo tido passado os anos?
-Não a mesma de ontem, mas sem o sabor que, se não deveria haver, ao menos não seria má ideia se houvesse.
-Você sente falta das coisas que nunca possuiu porque sabe que pode achar alegria nelas. Esse é o seu problema, em específico.
-Eu não gosto que achem que tenho problemas. Isso parece ser a afirmativa de que eu não sou experiente o bastante para me auto regenerar. As pessoas que interpretam que tenho problemas é que estão equivocadas. Está tudo bem comigo, o fato é que isso não é o suficiente.
-Vejo aqui uma adulta um tanto quanto orgulhosa.
-Sim, mas meu orgulho me protege. E acho que isso faz parte de mim. Se não, ao menos se faz necessário. Já tentei abdicar de tal e me fiz vulnerável. E, diga-se de passagem, a vulnerabilidade não me atrai.
-Veja bem. As pessoas possuem algo que não está sob seus controles. Isso se chama consciência. Digo consciência como uma simples palavra, para englobar tudo que sabe, todas as suas experiências, frustrações, medos, enfim, tudo. Você pode achar que tem o controle, mas, de fato, não o tem. Sua vida depende de variáveis externas. O máximo a se fazer é permitir que entrem em sua vida ou não. Às vezes essas mesmas variáveis vão contra sua vontade e, não raro, você se pega tendo que escolher entre coisas que não gostaria de levar para sua vida. São essas as coisas que você escolhe sob o julgamento daquilo que menos te fará mal. Sabendo disso, você tem de concordar comigo que sua vida nunca estará sob seu total controle. Podemos prosseguir ou tem alguma objeção?
-Estou pensando sobre o assunto. Talvez você esteja certo, mas continue.
-Ótimo. Então, se sua vida não está sob seu controle, você não pode afirmar que não possui problemas. Problemas são inevitáveis se você está viva. Estar só pode ser um problema se te faz falta ter alguém com quem conversar. Ser feliz pode ser um problema se sua felicidade vem de algo que prejudica alguém. Consegue entender como o conceito "problema" pode ser estendido a patamares tão relativos quanto a própria noção de sentimento? Negar um problema é adiar sua possível solução. Isso soa tão clichê que eu me sinto ofendido de ter de dizer a você.
-Não se preocupe comigo. Continue, apenas.
-Ouça-me. Seus conceitos de vida são as únicas coisas que te prendem a específicos fatos. Ter a coragem de ir contra esses conceitos, mesmo que tão cimentados, pode te tornar livre de si mesma. Porque, isso eu posso te afirmar, estar preso a si mesmo é o pior tipo de aprisionamento possível. Você se conhece como ninguém, sabe seus pontos fracos e seus pontos fortes. Se você mesma se impede de viver, ninguém será capaz de pegar sua mão e te guiar. O mundo só pode te mudar se você permitir. Você só pode se mudar se se permitir. Essa é a mais simples noção de auto-ajuda que podem te oferecer. Suponho que você não goste de palavras de auto-ajuda, acertei?
-Em cheio. Como podem me oferecer ajuda se não me conhecem por dentro? Os livros de auto-ajuda vendem tanto porque as pessoas não conseguem olhar para dentro de si mesmas e precisam de alguém que faça isso por elas. Não dá certo, porque "cada doença pertence a um doente, cada doente tem uma mente, cada mente é um universo." Li isso em um livro de auto-ajuda.
-Sensato.
-Sabe, às vezes sinto vontade de mudar. Mas, como o senhor disse, estou presa a mim mesma. O fato é que se eu me liberto passo a não mais ser eu. Estarei seguindo o que o senhor disse e me deixarei para trás.
-Mas qual o problema em se deixar para trás quando quem está ficando para trás está te impedindo de seguir em frente?
-É que terei que ser outra pessoa, construir novos conceitos, novos valores, novas ideias. Demorei tanto tempo para me edificar, não acha perigoso me desfazer de mim assim?
-Sim, a vida é perigosa. Mas, veja bem. Se você consegue se libertar de si mesma pode fazer o que quiser, da forma como quiser.

Observando...

16 de janeiro de 2013

Ficar de fora observando o que sentem, o que fazem, como agem, por que são assim...
Ficar de fora observando sem participar, às vezes - na maioria das vezes.
Ficar de fora observando, sabendo que um dia você também estava dentro e que após sair não conseguiu mais voltar.
Ficar de fora observando sem falar nada, como se nada sentisse e só formulasse ideias que provavelmente não serão ditas a ninguém.
Ficar de fora observando, convencendo-se de que um dia tudo que está descobrindo enquanto observa servirá para alguma coisa.
Ficar de fora observando, porque esse é o pretexto para explicar o porquê das próprias atitudes incomuns.
Ficar de fora observando enquanto se convence que algo de errado ocorre, que talvez você não faça parte disso.
Ficar de fora observando, concluindo que você é fruto de algum tipo de erro.
Que talvez isso seja uma brincadeira. Que as coisas algum dia vão se revelar.
Um ar estranho.
Uma atmosfera escura que quase nunca faz sentido.
Ficar de fora observando, triste ao descobrir que mentiram quando disseram que com os ciclos dos ponteiros as coisas iriam se amenizar...

Fez.

5 de janeiro de 2013

Nasceu para fazer.
Cresceu aprendendo como se fazia.
Passou sua vida fazendo.
Quando velho, ensinou como fazer.
Morreu sem saber que não precisava fazer nada daquilo.

Sobre buscar sentido

2 de janeiro de 2013


Não vejo sentido em buscar um sentido para a forma como as coisas acontecem, mas mesmo assim o faço. E entro em um paradoxo, pois se não há sentido para o que eu faço e eu continuo o fazendo, então eu poderia continuar vivendo mesmo sem tentar conhecer um sentido para se continuar vivendo. Concluo que buscar sentido para as coisas que não demonstram terem sentido não passa  de um vício, ou uma desculpa por não fazer mais nada de relevante com a minha vida.
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