Colorido e coisa e tal

26 de setembro de 2011


Se conseguir um dia extrair cores de onde só se enxerga cinza poderei clarear essa cidade monocromática. Melhor ainda se puder fazer isso com o que não enxergo. Colorir o que não é visto por fora, trazer sentido a isso que chamam de vida. E mostrar que a esperança não está onde tudo é verde ou que a paz é clara como uma luz branca. Desmitificar os paradigmas das cores. Se o verde for esperança, as florestas estão esgotando seu estoque. Se o branco simbolizasse a paz o brilho das explosões seriam pretos. O coração é vermelho, mas se for azul, funciona do mesmo jeito. O que difere é o modo como uso esse órgão metafórico. Se as lentes forem irreais, quero arrancá-las para enxergar o colorido real que há nos olhos de quem me vê. Se meu humor é pálido, que mergulhe em cores quentes e se aqueça também. Que sempre irradie luz, o sol que é amarelo, e que nunca mais seja cinza como foi naquele dia escuro. Que os palhaços pintem seus narizes de cor qualquer. Que mudem um pouco essa vermelhidão que mais me lembra fim de tarde em um dia apocalíptico.
E que caia do céu um pincel gigante agora mesmo. E baldes e mais baldes de tinta. Que os homens se unam para pintar o que está perdendo a cor. Mas que antes se pintem por inteiro. Dento e fora de si mesmos. Pintem a alma que não se enxerga, mas se sente. Pintem Deus que se esconde nas nuvens brancas. Se tiver barba, como sugerem os quadros, sujem-na de tinta roxa para que ele desça e entre na brincadeira. E se ele se recusar a entrar na roda com o pretexto de que não pode deixar de vigiar suas crias, que assoprem todos juntos para que ele caia lá de cima sobre uma cama elástica. E façam cócegas nele. Mas e se Deus não for da forma como imagino? Bom, aí a gente inventa e pinta. O que eu quero é não ter que achar que estou sozinho nesse mundo.

Camaleão de emoções

22 de setembro de 2011

Meu nome não interessa. Só tenho que contar uma coisa que me aconteceu há alguns dias. 
Sabe-se lá o que acontece no mundo para que tudo pareça menos interessante do que é de verdade. Algum evento com probabilidades ínfimas resolve ocorrer no universo e faz com que alguma partícula se relacione com outra que está por perto e venha fazer efeito aqui em mim. Deve ser. Tenho explicação melhor não.
- Você está bem?
-Sim. Acho que sim.
- O que aconteceu?
-Nada, oras.
-Ora se nada! Você estava alegre agora pouco e ficou diferente em segundos. Lembrou de algo que te fez ficar mal?
-Talvez. Que seja! Eu tenho essas coisas mesmo. De repente eu fico assim. Depois eu volto ao normal. Nunca aconteceu contigo?
-Sim, já. Mas não precisa fazer essa cara.
-Desculpe, mas ela vem de brinde no pacote de angústia momentânea. Não é espontâneo, é consequência dos eventos aleatórios que ocorrem no universo. Sabe? Encontro de partículas, transmissão de ondas que causam efeitos colaterais em pessoas que residem em planetas anos luz da fonte do encontro. Pessoas e seres não identificados também.
-Do que você está falando?
-Nada que tenha fundamento. É uma desculpa para isso que acontece comigo de vez em quando e que eu não sei como explicar.
-Isso tem cura, amigo. Existem psicólogos especializados no tratamento de pessoas que sofrem desses distúrbios.
-Muito obrigado pela piada, garota cômica.
-Desculpe-me, cara. Não resisti. Mas fica assim não que passa. E para de inventar desculpas para seus dramas. No fundo você sabe o motivo de tudo que acontece com você. Ou pelo menos uma pista que te leve aos motivos.
-Você tem razão. Por dentro a gente sempre sabe.
-Eu sempre tenho razão. Nunca se esqueça disso!
-Ok. Dessa vez eu tenho que concordar com você. Mulheres e seus sextos sentidos...
-Você parece melhor agora. Camaleão de emoções. É assim que você deveria se chamar.
E de repente eu estava alegre novamente. Vai entender...

Quem entende?

11 de setembro de 2011

Não consigo dizer palavras doces como antes, pois, quando se conhece a dor, a felicidade que se sente pelas coisas simples parece impossível para se tornar real.
Não que eu tenha deixado de sorrir. Só tenho hoje, conceitos diferentes sobre o que significa esse sorrir.
Hoje. O que é o hoje senão uma linha que se finda a cada fio de presente que se torna passado sem nossa permissão?
E tudo é passado para mim que não tenho planos para o futuro.
Perdi minha sensibilidade. Ou ela só se esconde por um tempo às vezes? Resposta esta que não tenho agora. Mas posso dizer que se ela se esconde, está camuflada com perfeição, pois não a enxergo com clareza alguma. E eu que prezava pelo romantismo e dizia que amava... Agora que não me sinto sensível, não sei se amar é mesmo o que penso ser. Mas queria que fosse. Seria tão mais simples enxergar o mundo como normalmente se enxerga por aí. Cansei das dores de cabeça por conta das tentativas de mover montanhas com a força do pensamento.
Indiferente e maçante personalidade que me ronda vez ou outra. Não consigo expulsá-la, pois não sei quando ela toma conta de mim ou vai embora. Silenciosa personalidade que se assume sem pseudônimo. Com o mesmo nome se disfarça sem que eu perceba e se exterioriza dizendo o que pensa, inconsequentemente.
Não sou poeta nem tenho a experiência de um mundo todo nas minhas costas. Mas conheço boa parte do que é a vida sob o julgar dos meus olhos. E minha verdade por enquanto é a de que alguma coisa me espera lá na frente.
Lá na frente que nunca chega. Tenho certeza de que quando chegar não vou saber reconhecer e seguirei dizendo que um dia ele virá, deixando-o passar por mim sem que eu perceba.
Há de clarear alguma luz física! Porque agora eu quero algo concreto, que saia da teoria e me realize por inteiro.
Eu disse. 
Não consigo mais dizer palavras doces...

Sou normal

4 de setembro de 2011


Manias que tenho. Gasturas que tenho. E que todas as pessoas têm, mas pensam que apenas elas mesmas possuem isso. Só esquecem que seus cérebros não diferem em nada no quesito composição química e biológica do cérebro de outra pessoa, estando, portanto, sujeitas às mesmas reações e sensações humanas. O mundo é o mesmo para todos, o que difere é a maneira como cada um o descreve.
É você quem anda nas ruas se perguntando se as mentes alheias pensam coisas semelhantes aos seus pensamentos. Sou eu também. Você quem tem os rituais antes do sono, os quais incluem processar o dia inteiro em cinco minutos, arrepender-se do que não fez e jurar que vai fazer diferente no dia seguinte. Sou eu também. É você quem olha no olho de alguém e esconde o amor que sente porque não tem coragem de dizer a verdade. Sou eu também. Você quem tem segredos tão íntimos que os esconde de si mesmo por medo, ou por qualquer outro motivo. Sou eu. Você quem se distrai no meio de uma explicação importante e só percebe isso algum tempo depois. Eu próprio.
Não sou diferente em nada, porque sofro pelas mesmas coisas, choro pelas mesmas circunstâncias, sorrio pelos mesmos motivos. Estou sujeito a tudo porque o tudo é o mesmo para qualquer um. Desde sempre foi assim. O homem diante de sua dor, buscando algo que o faça feliz. Ou feliz, mas com o receio de cessar os sorrisos um dia. Guerras internas sempre foram o cenário da psique humana. O desespero por conta disso é só conseqüência do não conhecimento de si mesmo. Por isso só me aquieto quando me descubro.
Diante disso não tenho coragem de levantar a bandeira e gritar que sou diferente, porque não sou. Sinto prazer em dizer que sou normal em um mundo onde ninguém mais quer ser. Sou um pouco de você e você é um pouco de alguém. Somos só uma mescla de frações que se distribuem em todos de forma dessemelhante, mas que ao final é a mesma coisa, a mesma essência básica.
Normal.
Normal demais.
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