Interiorizo-me

20 de janeiro de 2014

Primeiro olho para trás.
Vejo até onde preciso ir.
Depois, pego distância.
Pergunto-me: é isso mesmo?
É.
Despeço-me do que há de externo. Para algumas coisas, adeus.
Despedidas acontecem...
Então eu corro. Corro e sinto o vento a meu favor.
Por fim, salto - ou afundo, dependendo do ângulo que se vê.
Interiorizo-me.
Fico por lá.
Até quando?
Enquanto eu me bastar.
Que tal?


Sobre me imaginar morrendo

17 de janeiro de 2014


Existem coisas no mundo que todo mundo pensa ou faz mas não sai falando por aí. O engraçado disso é que, por não contarmos a ninguém e, consequentemente, não ouvirmos as pessoas falando sobre elas, concluímos que são coisas unicamente nossas, que só a gente imagina ou faz.

Bom, eu cresci achando que tinha super poderes - você também?. Quando criança, eu andava sobre um plano inclinado e me julgava o mega-humano por conseguir me equilibrar naquele chão torto, mas eu não podia contar a ninguém porque era melhor continuar achando que só eu era capaz. Meus sonhos? Eu sonhava que estava voando, quase sempre. Eu sabia o segredo, mas esquecia quando acordava. Não contava a ninguém também. Sobre calçadas na rua, a estratégia era controlar o espaço entre um passo e outro pra nunca pisar nas linhas. Sobre torneiras, passar o dedo embaixo delas toda vez após usá-las - às vezes até amarrar alguma coisa pra que não ficassem pingando -, era o hábito. Sobre sandálias, as duas, uma do lado da outra, dentro do mesmo quadrado da cerâmica no chão. Não conseguia dormir se estivessem tortas. 

Mais tarde descobri que algumas dessas coisas - e muitas outras "manias" - deviam ter alguma coisa a ver com um tal de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) que eu vi em um programa de televisão. Ali eu começava a descobrir que minhas esquisitices alcançavam ares além do meu mundinho particular. Talvez tenha sido o meu primeiro choque de realidade, sei lá... Enfim, ao ver que o TOC começava a ficar popular, e que as pessoas, como eu, estavam se auto-diagnosticando, eu o deixei de lado. Não tinha mais graça...

Após crescer um pouco eu descobri que essas tais coisas sempre fizeram parte do mundo, e que eu não era "o escolhido" de algum plano imaterial para fazer residência no mundo físico e ter experiências únicas, como imaginava... Descobri até que o TOC era um negócio sério e que se um dia eu tinha sofrido disso consegui me curar (ou quase me curar) sozinho e sem sofrimento. Aliás, foi aí também que eu comecei a pensar sobre como as pessoas se apegam às coisas e se apropriam delas como se fossem proprietárias - ciumentas -, mesmo que seja um possível transtorno psicológico.

Mas agora eu quero falar sobre o que eu realmente queria falar: imaginar-me morrendo.


Como quando eu era criança, achava que me imaginar morrendo era algo terrível que eu deveria parar de fazer. Não contava a ninguém porque essa era uma "zona proibida". Eu me imaginava escorregando na poça de água da pista e sendo atropelado por um carro; caindo do terceiro andar do prédio de cabeça no chão; escorregando no banheiro e tendo uma morte boba; tropeçando enquanto corria com uma faca na mão; afogado; queimado; pisoteado; tendo a perna esmagada pelo metrô enquanto eu estava sentado distraído nos trilhos - já me imaginei morrendo de muitas maneiras. Coisa ruim, né? Como eu poderia contar isso às pessoas sem que elas pensassem que eu fosse algum problemático? Entende a gravidade? Muito embora, eu não queria morrer. Ainda não quero, mas nunca deixei de me imaginar nessa situação.

Levantei algumas questões sobre isso e comecei a me analisar: "Imaginar-se morrendo, né? Hmmm. Curiosidade em saber como é morrer? Ter suas dúvidas sobre o sentido do Universo sanadas? Ver a reação das pessoas em conviver com a ideia de que você está morto? Tirar a prova real sobre a imortalidade? Muitas questões... Seu caso é difícil, senhor Rodrigo!".

Realmente. Mas não ligo mais para as razões, doutor de mim mesmo.

Por meio de tudo isso, uma das conclusões que eu tirei foi a de que dá pra descobrir muita coisa sobre as pessoas olhando pra "dentro de mim". Algumas pensam demais e não saem contando por aí, como eu. Como descubro isso? Quando eu digo algo dessa tal "zona proibida" e vejo essas pessoas entusiasmadas dizendo "eu achava que isso só acontecia comigo!". Em um mundo ideal eu diria a essas pessoas que relaxassem um pouco. Não digo, mas tanto faz.

É bom lembrar que isso funciona pra mim também, claro. Ainda há muitas coisas que eu acho que só acontecem comigo, e quando descubro o contrário fico deslumbrado. E que bom que é assim. Dá até mais emoção saber que sempre posso me surpreender.

A outra conclusão que eu tiro - e essa não é totalmente minha - é que tudo pode ser útil de alguma forma, até os pensamentos mais inocentes e inofensivos, como se imaginar sendo um super herói ou... morrendo.
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