Pequenos relatos

4 de março de 2021

2021. Madrugada. Há quase onze anos criei este blog e comecei a postar textos que eu pensava e escrevia quando estava sozinho. Eu tinha 16 anos e hoje tenho 27. Penso que uma das melhoras coisas que fiz na vida foi ter deixado aqui registros de versões de mim mesmo ao longo dos anos. Quando leio, relembro quem era e encontro algumas pistas que ajudam a explicar quem eu sou hoje.

O passado às vezes é sombrio. Algumas coisas eu me recuso a lembrar e deixo quietinhas em algum lugar escondidas na mente, e finjo que não aconteceram. Há pessoas que dizem que isso não é saudável e que todos devemos encarar nossos fantasmas de frente para superar nossas próprias tragédias. Bom, deixo essa missão para quem quiser, porque eu estou confortável com meus fingimentos e não me importo de simplesmente ignorar o que já me fez mal. Por outro lado, outros acontecimentos não foram bons, mas não causaram traumas. Destes eu gosto de lembrar. O blog é útil para estes casos.

Hoje decidi escrever alguma coisa. Tenho adiado isso há anos. Já pensei, inclusive, em criar uma rotina de escrita, porque gosto e isso me ajuda, mas nunca coloquei em prática (acho que isso nunca vai acontecer, na verdade). É como uma promessa de ano novo que se renova todos os anos, mas nunca é cumprida.

Não escolhi pauta. Apenas abri um bloco de notas e comecei a escrever. Nada planejado. Como sempre fiz, escrevo agora para mim mesmo, sem pretensão de que alguém leia, mas sei que por ser público talvez um dia uma pessoa caia de paraquedas e acabe lendo. Se é o seu caso, seja bem-vindo(a) ao meu mundo particular.

Bom, hoje li alguns textos que escrevi e automaticamente resgatei coisas da memória. É como se as palavras fossem uma fotografia, porque quando leio consigo me lembrar exatamente como me sentia naquele momento. Elas são semelhantes a um perfume na roupa, um aroma de comida no fogão ou o som de uma música tocando no fone de ouvido, pois também são capazes de me transportar para o passado. É quase mágico.

Aliás, uma dúvida que surgiu agora foi a seguinte: por qual motivo lembramos com um aperto no peito das coisas que aconteceram no passado, sejam elas boas ou ruins? Por que sentimos isso? Isso piora com o passar dos anos. A vida é uma coleção de saudades...

Enfim... Não tenho mais as mesmas inspirações que eu tinha antes, porque em épocas anteriores conseguia dedicar mais tempo às minhas reflexões. Lembro que ficava no meu quarto com a porta trancada pensando, lendo, buscando conteúdos na Internet, sempre com o intuito de descobrir mais e mais coisas sobre a vida, a existência e, consequentemente, sobre mim mesmo. As responsabilidades da vida eram reduzidas e por esse motivo conseguia extrair muito mais insumos do meu ócio. Isso acabou. Embora eu ainda tenha muitas convicções iguais às de antes, não dedico mais tanto tempo para a reflexão. Pode ser um erro, mas são os caminhos para onde a vida me levou. Paciência.

A tristeza era um combustível importante e eu me sentia assim com frequência. Não havia um motivo específico. Geralmente era consequência dessas reflexões. Sempre fui inquieto, inconstante, incomodado com a realidade ao meu redor (que nunca fez sentido para mim). Tudo isso me causava angústia, desespero, vontade de sair correndo sem destino. Como não havia atitude material que me fizessse aliviar essas sensações, eu escrevia. E como me sentia bem com isso! A cada texto escrito eu me sentia aliviado, esvaziado. Nada me fazia sentir da mesma forma.

Mais uma vez digo que hoje é diferente. A normalidade da vida não me permite o luxo de ficar deitado apenas pensando. Tudo é mais acelerado e outras pessoas dependem que eu esteja pronto quando precisarem de mim. Eu não sou mais um fim em mim mesmo...

Esse texto não tinha objetivo, planejamento e, obviamente, não terá final. São apenas pontas soltas, talvez desconexas. Um novo registro para o futuro.

Finalmente escrevi. Novamente me sinto aliviado. Ufa!

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