Papel e caneta na mão. Estou armado

28 de agosto de 2011


Escrevo com intuitos múltiplos, que entrelaçados formam a rede que me balança livre no quadrado minúsculo que me resta de liberdade. Escrevo para resgatar o que faz parte de mim e que se esconde por entre os olhos que me revelam o mundo. Escrevo na esperança de adivinhar o que irá acontecer comigo apenas observando o que já aconteceu em tempos outros. E rabisco o plástico ou a madeira que me serve de assento, porque o próximo que se recostar onde repousei por algum tempo, poderá saber que ali estive, mesmo que não me conheça em carne viva.
Não escrevo o que sou. Escrevo o que quero ser. Reinvento-me com a grafia errante que me sai dos dedos magros e curtos. Faço-me vivo enquanto estou morto em carne e osso. Minha alma se dissipa em cada linha, em cada idéia mirabolante. Posso sentir o vento que o vai e vem da mão direita provoca em meu espírito perdido. Quem sente não consegue descrever o prazer que salta, rola e corre dentro do peito enquanto se verbaliza por escritos. Já, pois, privo-me da tentativa de expressar o clímax em curtos e confusos textos. Largo nas entrelinhas os segredos mais ocultos da minha consciência e passo a bola para quem me lê interpretar da maneira que achar que deve. Minhas palavras podem ser as palavras que muitos não conseguem tirar de si, pois não se libertam nas folhas brancas, não experimentam as tintas que devem pintar o quadro da vida, não vivem. Já eu, vivo. À minha maneira, mas vivo.
O mundo que crio é bem maior que o existente, em que reside meu corpo terreno. Flutuo enquanto brinco com as palavras que voam sem algemas nos céus claros do imaginário que me é real.
Sou tudo isso ou nada disso que disse e desdisse. Depende da hora do dia e da cor do humor. E chega de tanto dizer por hoje. 

Memória Seletiva

16 de agosto de 2011



Nunca escrevo para um grupo específico de pessoas. Geralmente falo sobre mim e pronto, egoísta que sou. Mas dessa vez quero dedicar esse texto àqueles que o lerão e provavelmente esquecerão em cinco minutos. Falo dos que tem a memória seletiva. É, seletiva. Os que são vítimas de seu próprio cérebro que escolhe o que lembrar. E não adianta fazer força para não esquecer porque não dá certo.
Tem gente que lembra o que fez um ano atrás. E eu, putz, não lembro direito o nome do meu professor. Que inveja eu sinto quando vejo uma pessoa com boas habilidades para memorizar as coisas. E como fico constrangido quando me perguntam se lembro algo e de repente vejo meu cérebro dar uma pane na configuração. É chato.
Minha memória é ótima, mas parece ter vontade própria. Escolhe o que lembrar e esquece todo o resto. E o todo resto geralmente é o que dá corda às sociais com os colegas da vida. Por exemplo: recordo com detalhes quando um fulano entregou uma rosa para minha avó quando eu era ainda uma criança. E o que isso importa? Nada. Ele só disse “um espinho para uma rosa” e isso jamais sairá da minha cabeça. Nem assunto dá, veja você.
Esqueço de reparar na roupa das pessoas e quando me perguntam o que eu achei daquele traje da noite passada digo “desculpe-me, é que minha memória é meio problemática”, e ainda tenho que aguentar cara feia. Esqueço de cobrar dinheiro emprestado, de pagar a conta da Internet, esqueço dez reais na gaveta do guarda-roupa e só lembro quando vou procurar uma camisa que combine com a calça. Esqueço o que ia fazer na cozinha e volto todo o trajeto na esperança de lembrar. Esqueço de dar o recado, de comprar o grafite da lapiseira. Esqueço o dia da Páscoa, confundo Independência com Proclamação da República. Coloco lembrete no celular para não esquecer algo e esqueço de tirar do modo silencioso. Assim, eu não ouço alarme nenhum e bom, já dá pra deduzir o que acontece depois.
Não sei se as professoras falharam no exercício de memorização ou se fomos presenteados com um gene atrapalhado (aliás, as professoras são as responsáveis por isso? eu não me lembro). O fato é que somos meio esquecidos. Só não podemos esquecer em hipótese nenhuma como se vive, como gostar dos amigos, como fazer por merecer... Essas coisas que fazem questão de nos lembrar todo dia.

Odeio cebolas

11 de agosto de 2011


A mente divide-se em vários pedaços que se desenham completando-se somente se estiverem juntos. É como uma divindade santa. São várias partes de um só elemento.
Ela flutua sobre grandes placas tectônicas que vez ou outra promovem um abalo sísmico neural. TERREMOTO no seu sistema nervoso. E balança, sacode, desequilibra a cabeça. De vez em quando, por conta desse fenômeno imprevisível, forma-se uma montanha de pensamentos aleatórios ali, um riozinho de lágrimas aqui e umas estruturas sensíveis desabam em outro canto. Santa confusão humana que me dispara o peito. E nem quero comentar quando uma mente resolve se dedicar a cuidar de outra. Daria um filme. E não sou bom em escrever roteiros. Só assisto os que já existem e que por alguém foram feitos.
Sou meio louco em querer conhecer o desconhecido, mesmo sabendo que talvez nunca chegue a conhecer isso que eu nem sei se existe de fato. Tomei uma dose de estímulo tão forte que até hoje me mantenho no meu compromisso de desmascarar minha mente dúbia. Essa danada.  E não mereço palmas por minha persistência. Desistir algumas vezes teria feito bem à minha alma. Talvez eu a teria salvo de tanto sofrimento. Porque quem procura acha mesmo. Quanto mais cutuquei a ferida, mais lágrimas caíram dos meus olhos por tanta dor que sentia. Mas eu, que sempre gostei da dor de tirar a pelinha que recobre o machucado, continuei tocando o que já estava quieto. Restou-me conviver com essa cicatriz que só eu sei que existe. É por dentro, não por fora. Por isso volto a dizer que não mereço palmas. Joguem-me tomates, laranjas, só não jogue cebolas porque odeio cebolas.

O que movimenta a vida

6 de agosto de 2011


"...a gente se torna mais dependente de um amor aquando ele termina do que enquanto ele dura.
[...]
Enquanto estamos vivenciando um amor, não teorizamos a respeito. Só a partir da ruptura é que fazemos um inventário dos ganhos e das perdas, e, por estarmos emocionalmente fragilizados, acabamos por superdimensionar nossa solidão involuntária. Do que se conclui que o único remédio para a dor de amor é aceitar que as coisas vêm e se vão, e que isso é que movimenta a vida [...]"

Trecho da crônica "Amores interrompidos", tirado do livro Non-Stop - Crônicas do Cotidiano, de Martha Medeiros. 

Na desconexidade do que eu tento falar toda vez

3 de agosto de 2011

Vivo correndo do que já existe. Tenho mais presença no mundo onde as coisas ainda não existem concretamente. Ser real o tempo todo é chato. Gosto de ser livre quando quero ser. Imaginar. Inventar. E só sou livre quando estou só. Porque até a solidão tem seu lado positivo. Eu posso ser eu mesmo. Sempre fui assim. Normal. Super normal.
E quando estou só, quero estar junto, apesar de que na presença de pessoas nunca sou completamente eu. Não canto, não danço e não falo o que quero falar. Só experimento a liberdade quando não há ninguém olhando. Não tem um pingo de graça.
É que eu tenho medo. A gente passa anos se mascarando para o mundo. Criando um “eu mesmo” aceitável para, de repente, largar um projeto tão grandioso assim e se aventurar a ser livre. Loucura. Arriscar nunca é fácil e tudo que é difícil eu dispenso.  Sou preguiçoso mesmo!
Mas, putz grila. Tenho que parar com essa besteira de ter tanto receio com tudo que for do respeito do meu íntimo, o que eu sinto. O que eu quero. O que eu desejo. O que eu não quero. E o que eu não desejo também.
Pra falar a verdade, não sei se tenho que parar mesmo. É que vejo todo mundo feliz por aí sendo espontâneo que me vejo na necessidade de me tornar a ser menos fechado.
Eu tenho vontade de ser sei lá o que, que me deixe um pouquinho melhor comigo. De gritar não sei pra quem na esperança de ser ouvido. De ser aquilo que eu não sei o nome e que deixa todo mundo aparentemente bem.
Mas eu me amo mesmo assim. Sei que por dentro, todo mundo quer ser um pouquinho diferente também. Parece que ser feliz nunca está ao nosso alcance.
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