Por que não se mata?

9 de dezembro de 2014


Algumas pessoas às vezes me perguntam:
“Então, você está vivo para quê?”
“Para nada,” eu respondo. “Para absolutamente nada. Só estou vivo. Não basta?” 
A pessoa insiste:
“Qual é o sentido da sua vida, então?”
“Nenhum”, eu respondo. “Absolutamente nenhum. Só estou vivo. Não basta?”
Algumas vezes, a pessoa desafia:
“Então, por que não se mata?”
Além de ser uma pergunta agressiva e mal-educada, confesso que nunca entendi bem essa provocação. É como se eu estivesse gostosamente me balançando em uma rede e alguém perguntasse:
"Se você sabe que vai ter que levantar daí inevitavelmente, por que não se levanta agora?”
Mas a resposta me parece simples e auto-evidente:
“Eu não me levanto agora porque agora estou muito bem aqui me balançando na rede.”
[Via Papo de Homem ]

Crítica Livre | Documentário "Eu Maior"

30 de outubro de 2014

Antes de mais nada, é bom esclarecer que esta crítica é de inteira responsabilidade minha. Eu, que faço-me público por meio deste blog pessoal, o qual não tem outro objetivo além de permitir me expressar. O que você irá ler, então, são apenas as minhas impressões pessoais acerca do documentário "Eu Maior". Enquanto o assistia, procurei contrastar, de uma forma crítica, os depoimentos das pessoas com alguma experiência que adquiri nesses meus quase vinte e um anos de vida. Assim sendo, o leitor fica ciente de que estas palavras são ditas por um jovem rapaz que também procura questionar a vida, tal qual o documentário nos incita a fazer.
Esta crítica é uma tentativa de desconstruir os preconceitos morais que por vezes cultivamos sem saber para, assim, apontar algum caminho que nos permita preencher nossa existência com o sentido que cabe a nós mesmos buscar; dar uma visão crua e objetiva da vida, sem rodeios em volta dos tais mistérios que a envolvem; promover a reflexão acerca do autoconhecimento e da felicidade humana.
A crítica não tem foco na produção do documentário, mas na visão dualista da existência (matéria-espírito) que é compartilhada pela maioria dos entrevistados, assim como nas conclusões e ensinamentos por eles compartilhados, os quais têm como ponto de partida exatamente essa visão que, como tento explicar, não parece estar em concordância com aquilo que podemos observar da realidade.
O texto é longo, então agradeço de antemão a disposição caso você consiga ler até o fim. E, se isso ocorrer, não deixe de comentar algo ou manifestar qualquer impressão que tiver. O espaço é livre.

Crítica Livre | Filme "Quase Deuses"

28 de outubro de 2014

Something the Lord Made, adaptado para o português como “Quase deuses”, é um filme produzido e distribuído em 2004 pela HBO e que, baseado em fatos reais, conta a história do técnico de laboratório Vivien Thomas. Sendo negro, ele tem de superar as discriminações que sofre em uma época na qual as pessoas são divididas por suas características raciais. Vivien colabora com as pesquisas do Dr. Alfred Blalock, pesquisas estas que acabaram culminando na primeira cirurgia cardíaca realizada em humanos.
A crise de 1929, que teve impacto em diversos países do mundo, provocou mudanças sociais de forma radical no Estados Unidos, local onde se passa história. O personagem principal do filme é vitimado por essa situação, assim como diversas pessoas que tiveram seus investimentos perdidos quando os bancos começaram a falir. Vivien perde as economias que juntava para pagar a tão sonhada faculdade de medicina e é despedido de seu antigo emprego na carpintaria, tendo que passar a prestar serviços de limpeza no laboratório de pesquisas do Dr. Blalock. Nesse momento, os talentos medicinais de Thomas são percebidos pelo médico que, apesar de arrogante e insensível, não revela comportamentos preconceituosos para com seu futuro ajudante de laboratório. O ex-carpinteiro demonstra grandes habilidades com os instrumentos cirúrgicos, e seu conhecimento sobre as peculiaridades da medicina impressionam o Dr. Blalock.

As eleições e o viés de confirmação

9 de outubro de 2014

Nessa época de eleições (e na vida também... por que não?) nós poderíamos estar mais atentos a algo conhecido como "viés de confirmação", que é "a tendência natural de procurar pistas e levar mais a sério evidências que confirmem as nossas crenças"[1].
Geralmente, das informações que recebemos dos jornais, das revistas ou das postagens em redes sociais, temos uma interpretação pessoal seletiva e tendenciosa, sendo moldada em favor dos nossos desejos mais íntimos e de nossas crenças tão bem estabelecidas. Assim, ignoramos (ou procuramos invalidar) apenas aquilo que vai de encontro a essas convicções, e tomamos como logicamente correto e relevante somente o que está de acordo com elas, porque, para nós, isso é evidência (confirmação) de que são crenças legítimas (e como é bom nos sentir confortáveis com nossas certezas, não?!), enquanto as críticas são sempre mal fundamentadas ou distorcidas, não devendo ser levadas em consideração - aliás, por que será que nosso candidato sempre vence os debates[2]?
As opiniões alheias estão sempre erradas, e os indivíduos que as defendem provavelmente estão cegos, já que vivem em mundos diferentes ou não entendem como o sistema funciona. Nós, pelo contrário, temos a capacidade de enxergar o quadro geral e sabemos, com propriedade e experiência, o que seria melhor para a sociedade, já que todas as evidências apontam para a validação de nossa tese. É mais ou menos assim que o viés de confirmação opera.

Crônica do vazio

11 de setembro de 2014

"E cá estou eu, sufocada neste abismo ensurdecedor que me persegue, e que mesmo que eu me esconda sempre me encontra. Abismo do obscuro, do profundo ou, simplificando em uma única palavra que talvez descreva de forma mais clara e menos piegas, o vazio.
Sempre em vão tentei transferir a culpa de ser portadora do vazio para o mundo, para sua frieza, para as conversas entediantes que eu travava em vão com as pessoas, para as tentativas frustradas de relacionamentos, e sempre berrava aos quatro cantos do universo que, se os outros fossem melhores, mais amáveis e acolhedores, eu poderia ser totalmente preenchida.
Mas depois de vários devaneios, divagações constantes e regressões de memórias para tentar descobrir onde eu errei, para me tornar o que sou, percebi que o vazio tinha estabelecido em mim a sua morada, que ele sempre esteve lá, mesmo que disfarçado de sentimentos calorosos e bons. Notei que este vivia há muito tempo em minhas entranhas.
Penso que ele esteja comigo desde a primeira vez que conheci o mundo; quando eu proferi o meu berro caracterizador do nascimento, que as crianças emitem quando se deparam longe do conforto protetor do interior materno e percebem-se empurradas para o mundo, sem manual ou ao menos um aviso de como serão as coisas. Assumi, então, que ele nasceu comigo, e que talvez somos como dois amantes encarnados, moradores da Ilha de Salmacis, que se recusam a se desvencilhar...
Ele talvez até tente me abandonar, mas sou tão acostumada com a sua companhia que inconscientemente faço o papel de amante obsessiva, e o nego a liberdade, porque o considero "meu" e lhe atribuo o título de propriedade privada, que o ser humano tem a triste mania de atribuir a tudo, por megalomania ou simples imaturidade. Por fim, percebi que sou impreenchível. Nada neste universo seria capaz de tirar isso de mim. Eu nasci com um buraco no peito.
Sendo eu a própria personificação do vazio, eu o aceito. Não o nego. Eu o acolho. Que o vazio seja eu. Que eu seja o vazio.
Ad infinitum."
(De alguém)
https://www.facebook.com/yngrid.mota.37/posts/890256167701196

Minhas manhãs

22 de agosto de 2014

Há algo doce nas manhãs que muito me agrada. Alguma coisa que não encontro nas tardes ou noites. Talvez o barulho que não se ouve enquanto o sol começa a concentrar seus raios de forma mais intensa sobre a superfície do planeta, ou o passear lento das nuvens no céu em seus primeiros tons de azul. Não sei bem o quê, mas há algo calmo nas manhãs que muito me inspira a viver.
Eu, que não me preocupo tanto em justificar poeticamente a minha minha existência, vejo poesia na manhã. Essas primeiras horas do dia têm tanto significado para mim que chego a desejar, infantilmente, que elas não passem. Gosto de me sentir acordado após uma noite de sono bem dormida. Tiro proveito desses momentos para terminar alguma leitura inacabada, despejar qualquer pensamento em uma folha de papel em branco (aliás, muito também me agradam as folhas em branco) ou simplesmente observar a vida enquanto aguardo o tempo passar.
Sinto leveza nas manhãs. Elas resgatam o que resta de humanidade em mim.
E por algumas horas eu sou o homem mais feliz do mundo.

O dia em que eu mandei mal na prova

28 de julho de 2014

Lembro que na época de ensino fundamental a minha escola não era uma referência quando o assunto era estrutura - tanto física quanto a própria estrutura de pessoal - e organização. Como um retrato do ensino público, assim era o Centro de Ensino Fundamental 14 de Ceilândia.
Não tenho muitas recordações dessa época, talvez pela falta de acontecimentos interessantes ou só porque minha memória é perturbada mesmo. Entretanto, eu me recordo muito bem da sala de vídeo - principalmente o quanto era inutilizada - e do laboratório de Ciências, que eu sempre tinha curiosidade de conhecer. Eu imaginava que seria como nos filmes americanos, com todos aqueles vidrinhos, microscópios e líquidos coloridos misturados que acabavam explodindo o local.
Eis que um dia nos apresentaram o tal laboratório. Os professores e a coordenação da escola explicaram como aquilo era importante para nossa educação e que nossa escola era uma das poucas que tinham acesso àquele material. Aquilo me animou, porque nada melhor para uma criança que se sentir especial.
Como o laboratório era pequeno e a turma grande, éramos divididos em dois grupos: alunos até a letra L utilizavam-no primeiro, e o restante depois... ou alguma coisa do tipo. Assim, na metade da aula os alunos que não estavam no laboratório sempre passavam o tempo fazendo alguma coisa diferente de estudar.
Essas aulas eram interessantes. Não da forma como eu imaginava inicialmente - jalecos, óculos, fumaça, fogo e misturas - mas, de qualquer modo, interessantes... Eu aprendia que duas coisas não podiam estar no mesmo lugar ao mesmo tempo e outras propriedades básicas da matéria. Às vezes estudávamos as plantas, e foi nessa época que descobri que  elas tinham órgãos reprodutivos. Para uma criança aquilo era fascinante. Teve até uma vez que observamos as células de uma cebola no microscópio. Enfim, o laboratório era legal.
Bom, embora pareça, esse não é um texto sobre minha antiga escola, o laboratório ou a situação do ensino público do Brasil, mas sobre o dia em que eu não soube responder a uma pergunta na prova e tive que inventar alguma coisa.
Primeiramente, é importante dizer que eu sempre conseguia boas notas nas disciplinas. De um jeito ou de outro, eu sempre conseguia. Não porque eu sabia muito sobre tudo - eu não era um gênio -, mas porque os professores nunca pegavam tão pesado assim, de modo que só conseguia notas ruins quem fizesse algum esforço.
Meus pais não me cobravam muito, mas eu gostava de saber que eles sentiam orgulho de mim, então eu sempre tentava fazer o melhor. Até aquele momento, esse era o sentido da minha existência: tirar boas notas, comportar-me adequadamente e receber elogios dos meus pais. Embora eles não me dessem recompensas materiais por isso, eu gostava de ouvir minha mãe falando "a professora elogiou você, meu filho", quando voltava das reuniões escolares. Assim sendo, eu odiava quando meu desempenho não era bom o suficiente para conseguir manter minha auto estima em níveis aceitáveis.
Feito esse esclarecimento, podemos avançar pro dia em que eu tive de fazer uma prova sobre Ciências Naturais, baseada naquilo que a gente havia aprendido no laboratório. Eu pensei: estou ferrado! Sim, porque eu não tinha o costume de fazer anotações - embora fosse essa a recomendação de todo mundo - e já havia me esquecido de tudo.
As perguntas da prova não estavam fáceis, mas havia uma em especial que eu não sabia responder de forma alguma, e deixar uma questão em branco era muito prejudicial à minha saúde psicológica. Eu me lembro perfeitamente daquele maldito questionamento: "por que o copo fica molhado do lado de fora quando colocamos água gelada dentro?". Eu olhei para os lados e meus colegas estavam concentrados, respondendo com aparente facilidade. Eu imaginei que aquilo havia sido explicado nas aulas, mas eu simplesmente não tinha como saber. Provavelmente eu tinha me distraído no dia da explicação - o que acontecia com frequência. Foi aí que eu percebi que não era tão esperto, porque a explicação para a ocorrência daquele fenômeno com certeza era bastante simples.
Ora, eu tinha que improvisar. Tentei imaginar diversos motivos para o copo ficar molhado, mas nada parecia convincente, ao que minha resposta foi algo parecido com isso:
"Ao colocarmos água gelada no copo ele se congela por algum tempo. A partir daí, ele começa a derreter, fazendo com que fique molhado".
No fundo, eu sabia que aquilo era ridículo, mas o que poderia fazer? Deixar em branco seria perigoso, porque perder uma questão em uma prova complicada podia ser o fim. Assim, apostei na sorte.
Para entregar a prova eu esperei o professor sair de sua mesa para monitorar a sala e procurar algum espertinho colando, pois eu não poderia entregá-la em suas mãos e correr o risco d'ele folheá-la na minha frente e encontrar aquela bizarrice. Seria vergonhoso. Então, após ele sair de perto da mesa, eu me levantei, coloquei a prova embaixo de alguma outra e saí da sala. Quando, mais tarde, meus colegas me perguntaram o que eu havia respondido, disse que não lembrava e me limitei a explicar que não tive bom desempenho...
Infelizmente eu não me recordo do resultado dessa malandragem. Isso aconteceu há oitos anos (tenho vinte), mais ou menos, e o máximo que minha memória consegue me fornecer é a pergunta, minha resposta-pérola e como eu fiquei chateado com aquele episódio.
Caso se perguntem, hoje eu sei o que acontece com o copo. Primeiramente, ele não derrete. E, mesmo se derretesse, não seria possível que se tornasse água do nada. Basicamente, o que ocorre é que a baixa temperatura faz com que as partículas de água presentes no ar se condensem na superfície do copo, deixando-o molhado.  
Pff, isso é tão óbvio que qualquer criança saberia responder. Ou não...

Onde termina o Homem e começa o Mundo?

21 de julho de 2014

Onde começo e onde termino? Pensei se deveria me medir do dedinho do pé até o mais longo fio de cabelo, mas concluí que não seria suficientemente confiável. A questão me perturba bastante, talvez tanto quanto a definição do que sou. Aliás, essa medição depende da primeira definição, pois para saber quanto sou preciso saber, antes de tudo, que diabos eu sou. Fico preocupado porque não sei definir o que sou eu e o que é a outra pessoa quando nos abraçamos. Acredito que preciso conhecer esse limite, porque não quero continuar a me confundir com outro a cada novo abraço ou aperto de mão.
Juro que penso sobre isso há algum tempo. Essa confusão teve início quando tentei encontrar um limite para onde começavam e terminavam as coisas. Não consegui definir, porque me parece muito complicado. Se as coisas não mudassem tanto a todo instante, talvez fosse possível. Mas tudo está se desintegrando e se transformando o tempo todo! Parece que nada começa ou acaba, as coisas estão sempre indo e vindo, como se tudo fosse uma coisa só. Se é assim, sou apenas um pedacinho de tudo, mas ao mesmo tempo não existo separado, de modo que dizer que sou uma parte do bolo não faz sentido nenhum, uma vez que sou o próprio bolo.

Foi com a leitura do livro de André Cancian (O vazio da Máquina - Niilismo e outros abismos) que consegui encontrar uma resposta bastante interessante acerca disso tudo, que vem atormentando minha cabeça há muito tempo e que nunca consegui definir com palavras tão bem empregadas quanto as dele.
E aproveito a ocasião para dizer que a leitura de obras com teor filosófico é gratificante. Você sempre encontra os próprios pensamentos inacabados que se tem no chuveiro ou na janela do ônibus nesses livros. É incrível.

Apesar de relativamente curto, o trecho é bastante profundo, portanto só leia se estiver realmente interessado(a) e se achar que uma resposta completamente materialista e objetiva à pergunta "Onde termina o Homem e começa o Mundo?" é digna de sua curiosidade. Caso contrário, relaxe e continue vivendo sua vida da forma como achar melhor.
Com a palavra, André Cancian:

Sob o sustento de um divã #02

28 de junho de 2014

[...]
Ela entrou no consultório decidida:
-Hoje quero apenas contar-lhe um sonho que me invadiu a mente noite passada. Nada de grandes questões existenciais ou problemas com minha falta de tato para com a realidade. Considere que hoje é seu dia de sorte.
-Ah, é? E como você descreve esse sonho, senhorita cabeça-dura? - ele já havia se acostumado com tantas variações daquela mesma pessoa.
-Consigo me lembrar de algumas coisas - disse a jovem, dirigindo-se ao mesmo divã que encontrara há uns onze meses atrás, em seu primeiro dia de "conversa fiada", como costumava chamar a terapia. - As portas e as janelas da casa estavam todas trancadas. Meus pais estavam desesperados, e meu irmão não estava em situação diferente. Não que eu pudesse ver, mas eu sabia de tudo isso. De repente eu comecei a sentir um calor terrível. A casa pegava fogo e eu previ que nós iríamos morrer. Não juntos, porque estávamos em locais diferentes da casa, sabe? Como se o destino estivesse nos separando no fim da vida...
-Mas você não acredita em destinos.
-Não - ela havia dito isso a ele nos primeiros dias. - Bem, todos iríamos morrer e eu não sabia o que sentir. Como escolher o que sentir no momento da morte? Simplesmente não dá. No entanto, minha morte não veio. Não me recordo bem desse momento, mas de alguma forma eu consegui escapar. Um braço invisível me puxou rumo às paredes e me libertou daquela morte terrível. Infelizmente, minha família não teve a mesma sorte.
-Então, você foi a única a sobreviver?
-Sim, e foi horrível. Todos diziam que as coisas ficariam bem, mas como poderiam ficar bem se eu havia acabado de perder tudo que tinha por conta de um maldito incêndio? A maioria das pessoas não sabe o que dizer para alguém que acabou de sofrer uma perda desse tipo, essa é a verdade. Parece que, para não se sentirem tão culpadas e inúteis por não poderem oferecer alguma espécie de conforto naquele momento infeliz, acabam falando besteira pra desencargo de consciência. Não foi diferente no sonho... Essas pessoas são iguais em todos lugares, não interessa onde você esteja. E, além disso, elas não se importavam nem um pouco. É como se tudo fosse bastante normal, entende?
-A banalização da morte?
-Era algo mais estranho que isso. Fez-me sentir mais solitária que em qualquer momento da vida. Eu acordei achando que tudo era real.
-E o que sentiu quando descobriu que não passara de um sonho?
-Eu me senti aliviada por não ter perdido os meus livros, que ficam no guarda-roupas.
-Você perdeu sua família e estava preocupada com os seus livros, mocinha?
-Sim. Comecei a pensar em algumas estratégias para salvá-los em caso de incêndio, como jogar todos pela janela, tirar as minhas roupas do corpo e molhar meu cabelo com a água da minha garrafa para que ele não se queimasse, enquanto eu driblava a morte e os resgatava do lado de fora.
-Você só pode estar brincando...
-Por que a surpresa? Eu já havia sentido toda a tristeza pela morte da minha família em sonho, e essa não foi a primeira vez que aconteceu algo desse tipo. Estou tão acostumada que não vejo mais a necessidade de me sentir aliviada após esse episódios. A sensação de alívio, nesses casos, nada mais é que um lembrete para me dizer que não posso deixar de cultivar alguma afeição pelas pessoas que estão ao meu redor. Esse tipo de construção comportamental é totalmente aceitável na minha cabeça, mas eu não preciso me preocupar tanto com os sonhos, não é mesmo?
-Bom, os sonhos sempre podem significar algo.
-Podem significar o que eu quiser que signifiquem, desde que eu me convença disso.
-Então é assim que você encara?
-São apenas sonhos, doutor...

Luto

12 de junho de 2014

Olhei para fora de mim e me encontrei nas esquinas, na pele das pessoas, nas nuvens que despejam água em mim, na água que é despejada em mim e em tudo o que meus sentidos captam e meu cérebro traduz.
Tudo é uma coisa só, e não há mágica por trás disso - ela que era tão necessária para desviar minha atenção para o fato de que a existência não sabe que existe.
Embora, no ponto em que cheguei, a lucidez se confunda com a loucura, estou lúcido. Lúcido como nunca antes estive. É como se eu tivesse conseguido me livrar das amarras que me prendiam às minhas tão infantis ilusões.
E estando assim, contido em um imenso universo que não chega perto de possuir um sentido intrínseco, descubro que quem deve inventar um sentido sou eu próprio, mesmo sabendo que só o faço para ter de suportar a desesperadora angústia de saber que não estou aqui para servir a algum plano metafísico.
Estando preso dentro de uma caixa cheia de gente como eu, como posso saber onde começo e onde termino?
Vivo o luto pela morte das minhas convicções e, como desconstruí a subjetividade, preciso construir e viver em função de algo que me impeça de entrar em algum tipo de estado vegetativo.
Os conselhos já não são capazes de surtir efeito. Estou só e sinto que assim estarei enquanto permanecer do avesso.

Citação: "Enquanto o indivíduo estiver enlutado, perde a capacidade de enganar-se. Por isso nada do que dissermos será capaz de consolá-lo" (André Cancian, O vazio da Máquina, 5ª Edição)

Sobre me explicar

16 de abril de 2014

Disse eu: não tenho que me explicar!
E dessa forma jurei prosseguir.
"Mas por quê?", perguntaram-me.
Ora, não tenho que me explicar porque eu não vejo necessidade para tal, respondi.
Foi assim que acabei me explicando sem querer.
A vida riu de mim.

Sobre como eu descobri que não sou interessante

6 de abril de 2014

Descobri que não sou uma pessoa interessante. Fiz essa descoberta após um longo período de sondagem pessoal em contraste com os resultados da observação do mundo ao meu redor. A pergunta feita a mim mesmo foi: você conhece as coisas do mundo? Os seguintes pontos foram levantados:
  • Saber o nome de atores e atrizes (nacionais e internacionais), assim como os filmes que estrelaram;
  • Saber diferenciar várias comidas diferentes pelo nome e não pela aparência;
  • Saber o nome dos integrantes das bandas que eu escuto, assim como sua história;
  • Saber o nome das músicas que escuto, assim como o que dizem suas letras;
  • Ter ficado bêbado em algum momento da vida;
  • Saber andar na minha cidade, assim como conhecer o meu país e o mapa-múndi;
  • Ter comido um Mc Lanche Feliz em algum momento da vida.
O resultado foi deprimente e a conclusão não poderia ser outra: eu sou uma pessoa sem graça. O problema é que eu não vejo nada de errado em ser assim tão sem graça, e se eu quisesse ser uma pessoa um pouco mais legal teria que me esforçar um pouco. O outro problema é que eu não tenho essa motivação.
Eu gosto é dos meus livros; de pegar ônibus lotado para ficar com vontade de sair dali e sentir felicidade quando finalmente sair; de voltar para casa andando na chuva; de acordar atrasado e conseguir chegar a tempo; de escutar músicas sem conhecer o nome só para que meus dias não sejam silenciosos; de comer misto-quente com refrigerante; de sorrir para a pessoa que estava dormindo ao meu lado no ônibus e acordou assustada quando bateu a cabeça na janela, só para que ela não se sinta envergonhada por estar babando; de assistir vídeos no YouTube; de conseguir montar minha escrivaninha seguindo o manual; de comer as coisas sem saber o nome; já disse que gosto dos meus livros?; de escutar a nona sinfonia de Beethoven mesmo sem saber o que a música significa, qual a diferença entre sinfonia e orquestra, quais instrumentos são tocados e quem foi Beethoven afinal; de pedir ao balconista da padaria ali de cima uma Laka e um Diamante Negro e pagar apenas dois reais.
Em contrapartida, existem as qualidades que eu não possuo: não sou uma pessoa politizada; não tenho uma opinião formada sobre os assuntos polêmicos que envolvem a sociedade; não sei tocar violão; nunca fui à uma boate; não consigo me expressar muito bem;  eu me distraio enquanto as pessoas estão conversando comigo; eu não sei andar na minha cidade; não sei nada sobre História; nunca comi Mc Lanche Feliz; não bebo e por isso nunca fiquei bêbado; não conheço filmes, músicas e pessoas famosas por nome; não sei fazer um resumo sobre os livros que eu leio e os filmes a que assisto.
Bom, apesar de não ter todas essas qualidades, que estão presentes em pessoas interessantes, eu sigo vivendo a minha vida sem graça. 
A título de curiosidade, a conclusão final dessa pesquisa foi: não teria como ser diferente, Rodrigo, com margem de erro de talvez você se sinta incomodado às vezes, mas é assim mesmo para mais e para menos.

"Tenho em mim todos os sonhos do mundo"

20 de março de 2014

Entender o comportamento humano; estudar astronomia e astrofísica; resolver os exercícios do livro sem olhar a solução; estudar neurociência e entender até que ponto nossa personalidade é explicada por ela; salvar o mundo; isolar-me do mundo; baixar todas as sinfonias de Beethoven e escutar com o fone de ouvido; crescer e me tornar um professor; dormir e não ter responsabilidades na vida; construir um robô com algumas peças recicláveis; mudar-me para um local distante, longe de pessoas, onde eu possa ficar sozinho até descobrir tudo que eu puder descobrir; criar um canal no Youtube e ficar famoso; terminar de ler os meus livros antes de sair baixando ou comprando outros; terminar a faculdade e encontrar soluções úteis aos problemas do mundo; trancar a faculdade e sair por aí; passar em um concurso público, trabalhar durante o dia e estudar à noite; estudar Filosofia e Psicologia; não estudar mais; deixar de ser um "escravo do sistema"; tornar-me uma peça importante dentro do sistema; fazer amizade com mendigos; livrar-me de todos os aspectos morais que me impedem de viver da forma como quero; aceitar que os aspectos morais são importantes; discutir a existência de Deus; nunca abaixar a cabeça; ceder e abaixar a cabeça de vez; escrever um livro sobre essas coisas; escrever um livro sobre um cara que conhece uma moça, que morre no fim; desistir de escrever um livro; aprender a tocar violão; comer feijão para saber como é o sabor; começar a acompanhar uma série; desistir e começar outra série; ser o presidente de uma empresa importante e usar roupas formais; deixar o cabelo crescer de novo e fazer dreadlocks; fazer uma tatuagem do guia do mochileiro das galáxias no braço; aprender tudo sobre política e votar conscientemente; defender a anarquia total e acabar com o Estado; estudar economia; aprender todas as regras da língua portuguesa[...]
Ad Infinitum.
Se me perguntassem o que eu pretendo fazer com a minha vida eu responderia que depende da hora e do dia.

Não quero Dormir...

7 de março de 2014

"Olhos vidrados. Eu não quero dormir. Não. Não se trata de insônia, nem de energéticos e nem tão pouco de algo psicodelizante. Apenas não quero dormir. Minha mente está finalmente tão clara e lúcida, que não quero me dar ao luxo de dormir e estragar tudo. 
A essa hora ninguém me fragmenta. 
O que estou a fazer? Nada. Fico apenas sentindo. Isso mesmo, tentando fazer com que os meus cinco sentidos sensoriais funcionem juntos com a mesma potência cada. E as horas voam assim..."
totalmentecomum.blogspot.com

Coisas que eu sei

18 de fevereiro de 2014

"Eu quero ficar perto de tudo que acho certo
até o dia em que eu mudar de opinião.
A minha experiência, meu pacto com a ciência,
meu conhecimento é minha distração.
Coisas que eu sei eu adivinho sem ninguém ter me contado.
Coisas que eu sei, o meu rádio relógio mostra o tempo errado.
Aperte o play.
Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado,
ninguém sabe mexer na minha confusão.
É o meu ponto de vista, não aceito turistas.
Meu mundo tá fechado pra visitação.
Coisas que eu sei...
O medo mora perto das ideias loucas
Coisas que eu sei...
Se eu for eu vou assim, não vou trocar de roupa.
É minha lei.
[...]
Às vezes dá preguiça na areia movediça,
quanto mais eu mexo mais afundo em mim.
Eu moro num cenário, do lado imaginário.
Eu entro e saio sempre quando tô afim.
[...]
Coisas que eu sei são coisas que antes eu somente não sabia.
Agora eu sei..."

100 coisas

17 de fevereiro de 2014


É febre. Livros listando as cem coisas que você deve fazer antes de morrer, os cem lugares que você deve conhecer antes de morrer, os cem pratos que você deve provar antes de morrer. Primeiramente, me espanta o fato de todos terem a certeza absoluta de que você vai morrer. Eu prefiro encarar a morte como uma hipótese. Mas, no caso, de acontecer, serei obrigada mesmo a cumprir todas essas metas antes? Não dá pra fechar por cinquenta em vez de cem?
Outro dia estava assistindo a um DVD promocional que também mostra, como imaginei, as cem coisas que a gente precisa porque precisa fazer antes de morrer. Me deu uma angústia, pois, das cem, eu fiz onze até agora. Falta muito ainda. Falta dirigir uma Ferrari, fazer um safári, frequentar uma praia de nudismo, comer algo exótico (um baiacu venenoso, por exemplo), visitar um vulcão ativo, correr uma maratona [...].
Se dependesse apenas da minha vontade, eu já teria um plano de ação esquematizado, mas quem fica com as crianças? Conseguirei cinco férias por ano? E quem patrocina essa brincadeira?
Hoje é dia de mais um sorteio da Mega-Sena. O prêmio está acumulado em cinquenta milhões de reais. A maioria das pessoas, quando perguntadas sobre o que fariam com a bolada, responde: pagar dívidas, comprar um apartamento, um carro, uma casa na serra, outra na praia, garantir a segurança dos filhos e guardar o resto para a velhice.
Normal. São desejos universais. Mas fica aqui um convite para sonhar com mais criatividade. Arranje uma dessas listas de cem coisas pra fazer e procure divertir-se com as opções [...]. Não pense tanto em comprar mas em viver.
Eu, que não apostei na Mega-Sena, por enquanto sigo com a minha lista de cem coisas a evitar antes de morrer. É divertido também, e bem mais fácil de realizar, nem precisa de dinheiro.

MEDEIROS, Martha. Doidas e santas. Porto Alegre:
L&PM, 2008, p. 122-123. Adaptado.
Retirei esse trecho de uma prova que fiz em algum momento da vida. Adoro as crônicas da Martha, por isso fiquei contente quando me deparei com esse texto em uma avaliação de língua portuguesa. Sua escrita é simples e real. Sinto satisfação e raiva quando a leio. Satisfação por senti-la conversando comigo e raiva porque ela pensa tudo antes de mim.

As armadilhas das decisões

1 de fevereiro de 2014

"Há quanto tempo eu estou nessa parada? Esse ônibus não passa. Ele nunca é de se atrasar. Esse outro passa por onde eu preciso ir, mas e as voltas que ele dá?! Não, não, melhor esperar o meu. Eu não saio daqui enquanto ele não passar! Bem, eu poderia pegar um táxi, mas e a grana que eu precisaria pagar? Não compensaria. Ficarei aqui mesmo. O fato estranho é que o pessoal que pega o mesmo ônibus que eu não está aqui. Aliás, não há ninguém aqui! Pra onde foi todo mundo? Não importa! Se quem se atrasou foi o motorista do ônibus ou eu também não interessa, pois esperarei o próximo. É uma droga, mas eu não posso simplesmente ir a pé! Bem, eu posso, mas e se no meio do caminho o ônibus passa por mim? Eu não suportaria tamanha frustração. Melhor esperar mesmo."

O ônibus não passou. Choveu aquele dia, contrariando a previsão do tempo. Acabou indo a pé mesmo. Foi um dia perdido.

Esse exemplo foi retirado de um livro chamado "Como manipular as pessoas - Para uso exclusivo de pessoas de bem", dos autores Robert Vincent Joule e Jean Léon Beauvoist Vincent - que, aliás, não pode ser julgado pelo título chamativo -, modificado à minha conveniência.

O que eu quero dizer é que existe uma coisa na vida chamada "armadilha". Não é uma armadilha do tipo " farei uma armadilha para capturar um animal", mas armadilhas mentais que a gente faz com a gente mesmo. "Como assim, Rodrigo?", você me pergunta. Eu te respondo: armadilhas de decisão, como as chamarei. A definição é mais ou menos essa:
"A armadilha decorre dessa tendência que as pessoas têm de persistir em um rumo de conduta mesmo que essa se torne excessivamente dispendiosa, ou que já não permita atingir os objetivos fixados". Como manipular as pessoas - Para uso exclusivo de pessoas de bem (Robert Joule e Jean Vincent).
Isso é explicado pelo fato de que as pessoas tendem a conduzir seus caminhos com base em decisões iniciais e pessoais. É daí que surge a ideia de que para conseguir que uma pessoa faça o que você quer que ela faça é interessante convencê-la de que a decisão é dela. Mostre um leque de opções - não muito variado - para uma pessoa e deixe-a ter a sensação de que está tomando uma decisão pessoal, sem influência de terceiros. Mostre os caminhos e faça-a escolher o seu - não é difícil, porque todos os caminhos são os seus, no fim das contas. Conclusão: ela escolherá o que você a ofereceu sem que ela saiba das suas intenções e ficará satisfeita em ter feito uma boa escolha. Cruel, né? Mas não é isso que importa aqui.

Interiorizo-me

20 de janeiro de 2014

Primeiro olho para trás.
Vejo até onde preciso ir.
Depois, pego distância.
Pergunto-me: é isso mesmo?
É.
Despeço-me do que há de externo. Para algumas coisas, adeus.
Despedidas acontecem...
Então eu corro. Corro e sinto o vento a meu favor.
Por fim, salto - ou afundo, dependendo do ângulo que se vê.
Interiorizo-me.
Fico por lá.
Até quando?
Enquanto eu me bastar.
Que tal?


Sobre me imaginar morrendo

17 de janeiro de 2014


Existem coisas no mundo que todo mundo pensa ou faz mas não sai falando por aí. O engraçado disso é que, por não contarmos a ninguém e, consequentemente, não ouvirmos as pessoas falando sobre elas, concluímos que são coisas unicamente nossas, que só a gente imagina ou faz.

Bom, eu cresci achando que tinha super poderes - você também?. Quando criança, eu andava sobre um plano inclinado e me julgava o mega-humano por conseguir me equilibrar naquele chão torto, mas eu não podia contar a ninguém porque era melhor continuar achando que só eu era capaz. Meus sonhos? Eu sonhava que estava voando, quase sempre. Eu sabia o segredo, mas esquecia quando acordava. Não contava a ninguém também. Sobre calçadas na rua, a estratégia era controlar o espaço entre um passo e outro pra nunca pisar nas linhas. Sobre torneiras, passar o dedo embaixo delas toda vez após usá-las - às vezes até amarrar alguma coisa pra que não ficassem pingando -, era o hábito. Sobre sandálias, as duas, uma do lado da outra, dentro do mesmo quadrado da cerâmica no chão. Não conseguia dormir se estivessem tortas. 

Mais tarde descobri que algumas dessas coisas - e muitas outras "manias" - deviam ter alguma coisa a ver com um tal de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) que eu vi em um programa de televisão. Ali eu começava a descobrir que minhas esquisitices alcançavam ares além do meu mundinho particular. Talvez tenha sido o meu primeiro choque de realidade, sei lá... Enfim, ao ver que o TOC começava a ficar popular, e que as pessoas, como eu, estavam se auto-diagnosticando, eu o deixei de lado. Não tinha mais graça...

Após crescer um pouco eu descobri que essas tais coisas sempre fizeram parte do mundo, e que eu não era "o escolhido" de algum plano imaterial para fazer residência no mundo físico e ter experiências únicas, como imaginava... Descobri até que o TOC era um negócio sério e que se um dia eu tinha sofrido disso consegui me curar (ou quase me curar) sozinho e sem sofrimento. Aliás, foi aí também que eu comecei a pensar sobre como as pessoas se apegam às coisas e se apropriam delas como se fossem proprietárias - ciumentas -, mesmo que seja um possível transtorno psicológico.

Mas agora eu quero falar sobre o que eu realmente queria falar: imaginar-me morrendo.


Como quando eu era criança, achava que me imaginar morrendo era algo terrível que eu deveria parar de fazer. Não contava a ninguém porque essa era uma "zona proibida". Eu me imaginava escorregando na poça de água da pista e sendo atropelado por um carro; caindo do terceiro andar do prédio de cabeça no chão; escorregando no banheiro e tendo uma morte boba; tropeçando enquanto corria com uma faca na mão; afogado; queimado; pisoteado; tendo a perna esmagada pelo metrô enquanto eu estava sentado distraído nos trilhos - já me imaginei morrendo de muitas maneiras. Coisa ruim, né? Como eu poderia contar isso às pessoas sem que elas pensassem que eu fosse algum problemático? Entende a gravidade? Muito embora, eu não queria morrer. Ainda não quero, mas nunca deixei de me imaginar nessa situação.

Levantei algumas questões sobre isso e comecei a me analisar: "Imaginar-se morrendo, né? Hmmm. Curiosidade em saber como é morrer? Ter suas dúvidas sobre o sentido do Universo sanadas? Ver a reação das pessoas em conviver com a ideia de que você está morto? Tirar a prova real sobre a imortalidade? Muitas questões... Seu caso é difícil, senhor Rodrigo!".

Realmente. Mas não ligo mais para as razões, doutor de mim mesmo.

Por meio de tudo isso, uma das conclusões que eu tirei foi a de que dá pra descobrir muita coisa sobre as pessoas olhando pra "dentro de mim". Algumas pensam demais e não saem contando por aí, como eu. Como descubro isso? Quando eu digo algo dessa tal "zona proibida" e vejo essas pessoas entusiasmadas dizendo "eu achava que isso só acontecia comigo!". Em um mundo ideal eu diria a essas pessoas que relaxassem um pouco. Não digo, mas tanto faz.

É bom lembrar que isso funciona pra mim também, claro. Ainda há muitas coisas que eu acho que só acontecem comigo, e quando descubro o contrário fico deslumbrado. E que bom que é assim. Dá até mais emoção saber que sempre posso me surpreender.

A outra conclusão que eu tiro - e essa não é totalmente minha - é que tudo pode ser útil de alguma forma, até os pensamentos mais inocentes e inofensivos, como se imaginar sendo um super herói ou... morrendo.
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