Criar um mundo

28 de outubro de 2010


Eu me sento num banco qualquer e observo. As coisas acontecem em um ritmo sincronizado e monótono. Todo dia a mesma coisa. As mesmas pessoas, as mesmas tarefas, as mesmas falas. O cumprimento que desencadeia o início de uma conversa, um beijo no rosto ou um aperto de mãos que se dá ao final.
Eu aqui sentado, ouvindo uma música talvez, analiso superficialmente as pessoas, já que não dá para adivinhar o que acontece nas entrelinhas da vida de cada um.
O comportamento humano é curioso. A jovem que sai de casa com um livro na mão, preocupada com a prova que irá fazer ao final do ano, anda rápido como se não houvesse tempo a perder. Preocupada com o seu futuro, pressionada pela família e pela sociedade, tem medo do fracasso. O garoto de quinze anos, no ápice hormonal da puberdade, preocupa-se com quase nada, quer namorar, curtir a festa ao final de semana e seu único medo é levar um fora da próxima garota que vai arriscar um beijo.
Às vezes chove. Alguns se agasalham quase que totalmente, outros saem sem camisa, com shorts curtos como se fizesse um sol escaldante. É engraçado.
O senhor de idade que vive seus últimos dias de vida, pensando em tudo que já fez, com um olhar perdido, lá no horizonte. “Um dia fui jovem, fiz muito pelo mundo, agora ele me trata como algo inútil”. Temos a criança que quer brincar na rua com os amiguinhos e sua única preocupação é se seu pai comprou o video-game que tanto prometera.
A dona de casa, o senhor da padaria, o vendedor ambulante, o mendigo sentado na porta da minha casa, o empresário dentro do seu carro importado cumprindo suas obrigações e horários agendados. São vidas, várias vidas. São histórias, experiências ou o início delas.
Mas tudo parece tão programático. O sol nasce no início do dia e se põe ao final da tarde, e o que acontece nesse intervalo é igual todos os dias. Parecemos robôs. Alguns até andam e agem como tal.
Nós nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos, nos casamos, formamos uma família, procriamos, nos aposentamos e morremos. E é tudo assim, dentro das leis estabelecidas pelos próprios humanos, sob o argumento de que sem regras as coisas fugiriam totalmente do controle. Às vezes eu queria que fosse tudo diferente, sem toda essa programação de vida, que as coisas fossem imprevisíveis. Mas é difícil, se até eu estou contido nesse sistema. Sistema louco.

5 comentários:

  1. Haha muito bom seu texto.
    Ja escrevi algo sobre um persongem que observava as pessoas tambem.
    Mas ele estava alcoolizado no momento.
    Vou te seguir aqui cara!

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  2. É precido convidar o caos que bate a porta. Somos educados e produzidos para atentarmos para as semelhanças e desvalorizar as diferenças. Precisamos nos deixar afetar pelo que não vemos, pelo que escapa ao controle para que assim, a vida possa diferir e, quem sabe, poderemos inventar novos modos de viver. Boa sorte!

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  3. Reflexão ótima.
    Sobre a vida, cotidiano, continuidade, história e personalidade. Nos sentimos robôs, levantando e fazendo a mesma coisa todos os dias, mas dentro de nós como nos sentimos?! Cada qual com suas preocupações, sonhos, iras... Bom, isso é que é o bom da vida, pensar :)

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  4. Muito bom seu texto, somos concebidos e criados para julgar e não gostar daqueles que são diferentes de nos, buscando apenas as pessoas com algumas semelhanças para mantermos afinidades.

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  5. ahhh muito bom Rodrigo!
    Sempre pensei nisso e acho tão engraçado também hahaha.
    Somos como robôs controlados por uma mídia que nos dita as regras de vida. Mas é claro, Se vivemos em sociedade, dependemos dela também..
    Estudar, trabalhar, comportar-se decentemente...
    Certas coisinhas não são fáceis, mas temos esse compromisso com a sociedade.

    bjs :)

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