Cansado...

24 de abril de 2012


Sem saco para enfeitar palavras. Sem vontade alguma de organizar as coisas para que façam sentido. Cansado demais, doente demais, indisposto demais para facilitar as coisas para que outros me entendam. Que se dane a própria retórica, a capacidade de argumentar, de me defender. Ando aborrecido demais para me auto afirmar ao mundo.
Sinto-me estranho, mas as coisas por si próprias andam estranhas. Algo conspira para que tudo se torne superficial demais, para que eu não sinta a vontade de mergulhar a fundo e descobrir o desconhecido. Tudo tão estranho que até o que eu já conhecia começa a perder o sentido. Preocupo-me ao chegar a esse ponto. Será que é a falta da escrita? Ela me causa essa sensação? Oh! Será que estou dependendente dela? Às vezes concluo que o caso vai além da dependência. Acho que ela já sou eu. Eu sou o que escrevo, não o que o mundo conhece. Sou a verdade escrita. A vida vivida se tornou um hobbie ou um toque aleatório, um sopro de acaso desconcertado. Tudo está bem, já que não me preocupo com nada.
Não sei se já estou pronto para morrer, mas sinto que já estou morto. Só sou vivo quando escrevo. Se deixarem minha alma escrever, então posso morrer e entregar a responsabilidade a ela para que tome conta do que entende como vida.
Ah! Cansado demais para entender o mundo, o egoísmo das pessoas, a ignorância dos que tem a verdade nas mãos e preferem vestir luvas para não a enxergar. Tudo tão rápido, expresso, prático. Tudo tão fácil, nada de trabalho duro, nada de suar para conseguir, de sofrer para construir. Tudo tão pronto. Sentimentos vendidos em atacado. Conversas inicializadas e findadas por sinais ou bipes. Tudo tão teatralizado, falso. Tudo tão comum, nada mais é raro. As coisas agora são redigidas por leis, as vontades precisam ser permitidas. Nada natural, tudo muito superficial. Tudo que eu não gosto. Tudo que eu faço mesmo sabendo que não concordo.
Eu sou uma farça. O sem coragem. O que cala o próprio grito por não ter peito de enfrentar o que acho errado. E se falo isso é com o intuito de achar alguém como eu, pois desgraça compartilhada é massagem no ego, é conformidade para a alma.
Maldito ser humano. Maldito tudo que me torna infeliz.
Mas eu gosto da infelicidade, da solidão, da falta de entendimento.
Hipócrita sou eu ao redigir meus sentimentos. Eu que gosto de ter sobre do que reclamar, do que sofrer, do que lamentar... Tudo isso alimenta minha alma. Sou o pleno fruto da negação. Sobrevivo das cinzas que restam daquilo que queimo.
Sou um legítimo poeta? Sei lá. O que é ser poeta?
Não sou poeta coisa nenhuma!
Eu sou coisa nenhuma!
Sou o nada porque o nada é o tudo negado.

18 comentários:

  1. Sabe, quando chegamos nesse ponto a melhor a coisa a se fazer é escrever. Às vezes até escrever nada é uma saída. As palavras apenas fluem na mente e começamos a tentar nos entender. Mas entender o quê? É complicado, não é? Só sei que as coisas vão e voltam, outras vão e não voltam nunca mais. Acho que devemos nos adaptar até a não se adaptar. ):

    Beijos
    http://www.eppifania.blogspot.com

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    1. Também acho tudo isso bastante complicado, mas se escrever é minha válvula de escape, então que venham as palavras.

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  2. Como eu gostei deste texto! Um grande abraço!

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    1. Obrigado, Luiza! Espero que apareça mais vezes por aqui ^^

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  3. Gostei Do Blog. Bem interessante!!!
    :D
    http://anamenires.blogspot.com.br/

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  4. Um pouco muito pra baixo o post hehe mas muito bem escrito. Consegue descrever os sentimentos muito bem e que bom que existe a escrita para te fazer voltar à vida. Quando chegamos nisso, nesse buraco, é bom nos agarrarmos aos que nos faz bem, e sempre existe algo, basta olharmos em volta.

    Continue escrevendo =D

    Beijos
    Bruna Reis
    http://desbravandohistorias.com.br

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    1. Realmente muito pra baixo, rs. Concordo com o "é bom nos agarrarmos ao que nos faz bem"... ultimamente nada tem me sobrado senão os monólogos, que são válvulas de escape.
      Depressivo? Um tanto quanto... porém, vivo.
      Escrever é o que me resta, rs.

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  5. Tem horas que a gente simplesmente quer escrever né? Não importa a ordem das palavras, não importa se vai fazer sentido para alguém, é na escrita que muitas vezes a gente encontra o caminho ou melhor ''se encontra.'' Tenho que me atualizar aqui porque perdi muito texto seu, prometo ler eles aos pouquinhos e comentar, haha.
    Beijos ;*

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    1. Escrever é incrível!
      Não se dê ao trabalho de ficar lendo coisa antiga, rs. Deve ter coisa mais legal pra você fazer, Fernanda ><

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  6. Belas palavras, parece que cada frase é uma pedaço do cenário que vai completando o final. Gosto dessa sinceridade que admitimos nos momentos não estamos afim de encarar o "discurso da coragem", quando admitimos que somos fracos mesmo e curtimos isso por algum tempo, antes que volte a força comecemos a entrar no mundo e nos auto-afirmar.

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    1. Exatamente... Gosto de ser sincero comigo mesmo. Se não estou bem, nada de coragem teatralizada. Curto meus momentos... aprendo com eles.
      Obrigado pelo comentário ^^

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  7. Tirem as crianças da sala, há vísceras espalhadas pelo chão, e é melhor cuidar onde pisa. Cara, muito bom esse texto. Carregado de sentimentos e verdades. Curti muito, aliás, sempre gosto dos textos desse blog. A parte dos sentimentos por atacado devia constranger quem se apega às coisas frívolas e despreza a intimidade.
    Belo texto. Compartilhei!

    Abraço!

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  8. Valeu, Giordano!
    Sempre bom te ver por aqui!

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  9. Sempre achei que o que deixa a vida de um todo mais interessante, é essa ansiedade e ao mesmo tempo receio do sofrer, da dor. Apesar de tudo, ela nos informa, nos diz o quanto estamos vivos e bem. E deixa tudo bem mais, sabe. Gostei bastante do texto... *-*

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    1. Sim!
      As adversidades da vida além de inspiradoras são ótimas professoras.

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  10. às vezes cansamos, sim! Embora não te conheça, duvido que você, com toda esta alma inquieta, seria capaz de estagnar. Tem muita vida aí dentro, e a sua escrita é o resultado disso! :)

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    1. Concordo contigo!
      Nunca consegui ficar parado de fato. Quem consegue, afinal?
      Obrigado pelos comentários repentinos. Adorei todos.

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