As eleições e o viés de confirmação

9 de outubro de 2014

Nessa época de eleições (e na vida também... por que não?) nós poderíamos estar mais atentos a algo conhecido como "viés de confirmação", que é "a tendência natural de procurar pistas e levar mais a sério evidências que confirmem as nossas crenças"[1].
Geralmente, das informações que recebemos dos jornais, das revistas ou das postagens em redes sociais, temos uma interpretação pessoal seletiva e tendenciosa, sendo moldada em favor dos nossos desejos mais íntimos e de nossas crenças tão bem estabelecidas. Assim, ignoramos (ou procuramos invalidar) apenas aquilo que vai de encontro a essas convicções, e tomamos como logicamente correto e relevante somente o que está de acordo com elas, porque, para nós, isso é evidência (confirmação) de que são crenças legítimas (e como é bom nos sentir confortáveis com nossas certezas, não?!), enquanto as críticas são sempre mal fundamentadas ou distorcidas, não devendo ser levadas em consideração - aliás, por que será que nosso candidato sempre vence os debates[2]?
As opiniões alheias estão sempre erradas, e os indivíduos que as defendem provavelmente estão cegos, já que vivem em mundos diferentes ou não entendem como o sistema funciona. Nós, pelo contrário, temos a capacidade de enxergar o quadro geral e sabemos, com propriedade e experiência, o que seria melhor para a sociedade, já que todas as evidências apontam para a validação de nossa tese. É mais ou menos assim que o viés de confirmação opera.
Normalmente não percebemos quando estamos agindo dessa maneira, portanto é importante ter ciência do funcionamento desse "comportamento automático" para que possamos estar sempre de olhos abertos em situações que exigem algum tipo de análise racional.
Sinceramente, eu não sei se isso é praticável nas discussões políticas, repletas de paixão como geralmente são, mas tentemos enxergar com cautela as posições que diferem das nossas, não para concordar com os outros indivíduos, mas para ao menos entendermos suas motivações e a razão que os leva a defender tais posições. Acredito que isso é muito mais produtivo que vomitar nossas verdades na esperança de que as pessoas um dia enxerguem o quanto estão equivocadas por não aceitarem nossas tão coerentes posições - um sonho em vão, pois peca ao não levar em conta que as pessoas não estão sob influência dos mesmos fatores o tempo inteiro.
Penso que, se é possível amar com tanto fervor os ideais políticos, então podemos ser capazes de fazer um esforço para cultivar certo carinho pela honestidade intelectual - que por algum motivo parece ganhar licença para se omitir em época de eleição.
Tenho para mim que é interessante participar da vida política e, se temos essa convicção em comum, que participemos com razão, já que:
"O conhecimento é filho da razão e a crença é filha de nossos desejos e temores. O conhecimento é amigo das provas e evidências: admite falhas, muda e assim se fortalece; a crença só admite o que convém e lhe reforça[3]".
-Anderson dos Santos.
Nesse vídeo (curtinho e didático), a gente consegue ter uma ideia melhor do que viria a ser esse tal viés de confirmação: Ver para crer ou crer para ver?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não feche a página sem antes fazer um comentário.
Sinta-se à vontade e volte mais vezes, se puder.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...