Luto

12 de junho de 2014

Olhei para fora de mim e me encontrei nas esquinas, na pele das pessoas, nas nuvens que despejam água em mim, na água que é despejada em mim e em tudo o que meus sentidos captam e meu cérebro traduz.
Tudo é uma coisa só, e não há mágica por trás disso - ela que era tão necessária para desviar minha atenção para o fato de que a existência não sabe que existe.
Embora, no ponto em que cheguei, a lucidez se confunda com a loucura, estou lúcido. Lúcido como nunca antes estive. É como se eu tivesse conseguido me livrar das amarras que me prendiam às minhas tão infantis ilusões.
E estando assim, contido em um imenso universo que não chega perto de possuir um sentido intrínseco, descubro que quem deve inventar um sentido sou eu próprio, mesmo sabendo que só o faço para ter de suportar a desesperadora angústia de saber que não estou aqui para servir a algum plano metafísico.
Estando preso dentro de uma caixa cheia de gente como eu, como posso saber onde começo e onde termino?
Vivo o luto pela morte das minhas convicções e, como desconstruí a subjetividade, preciso construir e viver em função de algo que me impeça de entrar em algum tipo de estado vegetativo.
Os conselhos já não são capazes de surtir efeito. Estou só e sinto que assim estarei enquanto permanecer do avesso.

Citação: "Enquanto o indivíduo estiver enlutado, perde a capacidade de enganar-se. Por isso nada do que dissermos será capaz de consolá-lo" (André Cancian, O vazio da Máquina, 5ª Edição)

2 comentários:

  1. Isso só significa que está crescendo! Quando morremos em nós mesmos, é preciso reinventar-se para então respirar novos ares e criar outros sentidos, outras conexões dentro de si mesmo. E este processo é uma espécie de luto mesmo, evidenciando a solidão.

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    Respostas
    1. Você tem toda razão!

      "-Você deve se preparar para se consumir em suas próprias chamas. Como se tornar outra pessoa, se primeiro você não virar cinzas?" (quando Nietzsche chorou)

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