Sobre me imaginar morrendo

17 de janeiro de 2014


Existem coisas no mundo que todo mundo pensa ou faz mas não sai falando por aí. O engraçado disso é que, por não contarmos a ninguém e, consequentemente, não ouvirmos as pessoas falando sobre elas, concluímos que são coisas unicamente nossas, que só a gente imagina ou faz.

Bom, eu cresci achando que tinha super poderes - você também?. Quando criança, eu andava sobre um plano inclinado e me julgava o mega-humano por conseguir me equilibrar naquele chão torto, mas eu não podia contar a ninguém porque era melhor continuar achando que só eu era capaz. Meus sonhos? Eu sonhava que estava voando, quase sempre. Eu sabia o segredo, mas esquecia quando acordava. Não contava a ninguém também. Sobre calçadas na rua, a estratégia era controlar o espaço entre um passo e outro pra nunca pisar nas linhas. Sobre torneiras, passar o dedo embaixo delas toda vez após usá-las - às vezes até amarrar alguma coisa pra que não ficassem pingando -, era o hábito. Sobre sandálias, as duas, uma do lado da outra, dentro do mesmo quadrado da cerâmica no chão. Não conseguia dormir se estivessem tortas. 

Mais tarde descobri que algumas dessas coisas - e muitas outras "manias" - deviam ter alguma coisa a ver com um tal de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) que eu vi em um programa de televisão. Ali eu começava a descobrir que minhas esquisitices alcançavam ares além do meu mundinho particular. Talvez tenha sido o meu primeiro choque de realidade, sei lá... Enfim, ao ver que o TOC começava a ficar popular, e que as pessoas, como eu, estavam se auto-diagnosticando, eu o deixei de lado. Não tinha mais graça...

Após crescer um pouco eu descobri que essas tais coisas sempre fizeram parte do mundo, e que eu não era "o escolhido" de algum plano imaterial para fazer residência no mundo físico e ter experiências únicas, como imaginava... Descobri até que o TOC era um negócio sério e que se um dia eu tinha sofrido disso consegui me curar (ou quase me curar) sozinho e sem sofrimento. Aliás, foi aí também que eu comecei a pensar sobre como as pessoas se apegam às coisas e se apropriam delas como se fossem proprietárias - ciumentas -, mesmo que seja um possível transtorno psicológico.

Mas agora eu quero falar sobre o que eu realmente queria falar: imaginar-me morrendo.


Como quando eu era criança, achava que me imaginar morrendo era algo terrível que eu deveria parar de fazer. Não contava a ninguém porque essa era uma "zona proibida". Eu me imaginava escorregando na poça de água da pista e sendo atropelado por um carro; caindo do terceiro andar do prédio de cabeça no chão; escorregando no banheiro e tendo uma morte boba; tropeçando enquanto corria com uma faca na mão; afogado; queimado; pisoteado; tendo a perna esmagada pelo metrô enquanto eu estava sentado distraído nos trilhos - já me imaginei morrendo de muitas maneiras. Coisa ruim, né? Como eu poderia contar isso às pessoas sem que elas pensassem que eu fosse algum problemático? Entende a gravidade? Muito embora, eu não queria morrer. Ainda não quero, mas nunca deixei de me imaginar nessa situação.

Levantei algumas questões sobre isso e comecei a me analisar: "Imaginar-se morrendo, né? Hmmm. Curiosidade em saber como é morrer? Ter suas dúvidas sobre o sentido do Universo sanadas? Ver a reação das pessoas em conviver com a ideia de que você está morto? Tirar a prova real sobre a imortalidade? Muitas questões... Seu caso é difícil, senhor Rodrigo!".

Realmente. Mas não ligo mais para as razões, doutor de mim mesmo.

Por meio de tudo isso, uma das conclusões que eu tirei foi a de que dá pra descobrir muita coisa sobre as pessoas olhando pra "dentro de mim". Algumas pensam demais e não saem contando por aí, como eu. Como descubro isso? Quando eu digo algo dessa tal "zona proibida" e vejo essas pessoas entusiasmadas dizendo "eu achava que isso só acontecia comigo!". Em um mundo ideal eu diria a essas pessoas que relaxassem um pouco. Não digo, mas tanto faz.

É bom lembrar que isso funciona pra mim também, claro. Ainda há muitas coisas que eu acho que só acontecem comigo, e quando descubro o contrário fico deslumbrado. E que bom que é assim. Dá até mais emoção saber que sempre posso me surpreender.

A outra conclusão que eu tiro - e essa não é totalmente minha - é que tudo pode ser útil de alguma forma, até os pensamentos mais inocentes e inofensivos, como se imaginar sendo um super herói ou... morrendo.

4 comentários:

  1. Na verdade se imaginar morrendo é um dos pensamentos mais humanos. Todo mundo tem medo das incertezas, do mistério que rodeia a morte.

    E, sim...tudo pode ser útil de alguma forma, pois tudo diz algo sobre você ou sobre o seu mundo.

    Beijos!

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    1. Agora mais do que nunca eu tenho certeza disso... É que essas coisas me acompanham há tanto tempo que e eu sinto vontade de sair falando haha

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  2. Oi, meu nome é davi, tenho 16 anos, enfim, não precisa saber muito sobre mim, isso não responde bem minha aflição, eu tenho depressão e me auto-mutilava, demorei bastante pra entender que se auto-mutilar não te leva a lugar nenhum, até hoje as vezes eu pego uma lâmina e seguro em cima de meu braço pra lembrar do que me livrava de toda a dor e pensamentos ruins que haviam em mim, aquilo(auto-mutilação) mesmo me fazendo mal, me machucando, me fazendo derramar sangue, pra mim era normal, pra mim era bom, mas eu sabia que tinha que parar com aquilo, que tinha que ser “normal”, consegui vencer aquilo. Minha depressão? Ela ainda esta comigo a quase 1 ano, não consigo me ver longe dessa coisa que me mata aos poucos, que faz eu ir atrás de drogas pesadas apenas para me sentir vivo mais uma vez, mas a questão é. Desde de que parei de me mutilar, eu sempre me imaginei morrer, de várias formas, mas uma sempre se repete, que é a de eu abrindo meus braços com uma lâmina de navalha, sangrando até a morte eu dou risadas nessa minha “imaginação”, depois vejo meu corpo atirado na cama, muito sangue na cama, no chão e em mim, ando pela minha casa sabendo que ninguém vai me ver, sabendo que ninguém vai ir atrás de mim, sabendo que ninguém se importa de verdade comigo, sabendo que ninguém realmente valoriza eu, minha alma, coração e mente, eu não sei o porque de tudo isso, talvez faça parte da vontade insana que eu tenho de me suicidar? Se sim ou não, eu sei lá, pra mim tanto faz sabe, nem eu ligo se eu morrer, eu só... Sei lá, sou louco!

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