Fruto da insônia

17 de outubro de 2012


O que mais há de profundo nas palavras é a forma como elas me enganam. Escrevo para encontrar as profundezas da alma, mas quanto mais escrevo, mais distante fico de encontrar uma verdade absoluta sobre esse enigma que sou eu. Sim, gosto de buscar certezas absolutas, mesmo sem jamais ter encontrado uma, pois quando se chega ao fim o trabalho se finda, então posso parar de pensar um pouco, mas não quero parar de pensar, por isso nunca cheguei ao fim de nada. Seria um privilégio dosar a cota diária de pensamentos. Apesar de que gosto de pensar. Louco sou eu por gostar de me cansar com esperanças ricas de encontrar verdades quase nulas. Tal sentido da vida está nisso aí mesmo, vagar pelo mundo procurando por nós próprios.
E de saber que a mente pode nos distanciar de nós próprios mesmo estando o mais próximo possível. Essa relatividade que há em tudo me instiga a curiosidade.
Perceba você. Explico-me enquanto me indago e indago o que não sei explicar. E bate, e volta. Bate, bate e volta. Às vezes nem voltam respostas, só vão perguntas. E se tenho um espelho por dentro que reflete o que sou por fora, digo que não acredito no meu reflexo. É convexo o objeto reflexivo que me apresenta imagens irreais vistas de diferentes distâncias do foco. Verdades distorcidas. Várias formas de um único elemento. Depende de quem vê e de onde se encontra esse quem. Ah, quem! Quem me julga, quem me vê e me ignora, quem, brincalhão, homem como eu, inveja-me, amaldiçoa-me, excomunga-me. Quem é tudo, mas não sei quem é quem. Quem pode ser esse complexo de perseguição que tanto cultivo. Quem pode não existir. Quem? Quem pode ser invenção minha para me dar sentido. Quem versus eu, assim eu vivo. Sem isso, talvez não viva. Não sei, nunca experimentei viver sem quem.
E há lutas contra o mundo e o resto das pessoas. Assim como há guerras intermináveis entre eu e eu mesmo. E sempre ganho. Sempre perco. Sou eu dividido, lutando para sustentar um dos lados. Capenga a balança. Equilíbrio quase nunca. E isso me mata um pouco a cada novo brilho de sol. Mas todos que vivem estão fadados a morrer. Dona morte que assusta sem querer. Dona morte que me ama e me quer junto dela. Mas não quero morrer, porque não amo a morte. Só há vaga exceção quando odeio a vida. Aí sim, amo a morte. Quase nunca, posso dizer. Mas fico atrevido perante esse assunto. Sei lá se morrer é bom. O que há lá fora depois disso tudo? Alguém pode dizer?

Escrevi isso em agosto de 2011. Voltei a sentir essas coisas. Na verdade, acho que nunca deixei de senti-las...

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Muitas dúvidas!
      Pois eu já não tenho uma opinião formada sobre a morte. Acho que não é possível concluir nada a respeito dela enquanto não se está morto. Esses escapismos rápidos, essas respostas imediatas e que muitos julgam certezas absolutas pra mim são apenas tentativas de explicar isso tudo que não se explica...
      Mas isso é uma conclusão minha... Coisa pessoal. É que penso muito a respeito.
      Obrigado pelo comentário, Pâmela. Gostei muito ^^
      Volte sempre que quiser, rs.

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  2. O "quem sou eu" é algo que também ainda não decifrei. Prefiro não ter uma resposta absoluta sobre quem eu sou, porque aí posso estar sempre em mutação, evoluindo. Somos criaturas complexas mesmo.

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  3. Nossa,eu achei um pouco confuso. Mas as vezes somos pensamentos são assim mesmo.
    Eu fiz um poema sobre a morte na semana que a Hebe morreu gostei mas ainda não tenho certeza sobre este assunto.
    http://www.avidaemletras.com/

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    1. Admito que ficou bem confuso mesmo. Escrevi isso tem algum tempo e quase tinha esquecido o que eu quis dizer com isso, hehe.

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