Sobre ser quem eu disse que nunca seria

12 de julho de 2016


Percebo que ao longo da vida criei determinadas proibições morais ao meu próprio comportamento que não possuem justificativa alguma, senão a minha arbitrária autoridade. No entanto, o amadurecimento fez com que eu chegasse à seguinte conclusão: cada dia é uma oportunidade de fazer algo que em algum momento jurei nunca fazer.

Procurar justificativas antes de cada ação pode ser um fardo que me impede de experimentar novas nuances de uma existência repleta de possibilidades. Quando penso muito na consequência de determinada ação e deixo de agir por imaginar como seria, abro mão de descobrir o que de fato aconteceria por aceitar que minhas suposições são verdadeiras. Bom, nem sempre são, como descobri experimentando. Às vezes as consequências são, de fato, como eu havia imaginado - por vezes, piores -, mas outras são totalmente diferentes, de uma forma positiva. O ensinamento que tiro é: jamais repetir as ações que me trouxeram consequências ruins e reviver, quando possível, as que me presentearam com boas recompensas. Existe melhor exercício de autoconhecimento que a prática? A introspecção, na outra ponta, é uma ótima maneira de se conhecer profundamente, mas, perceba, ela vem de dentro para fora, sendo limitada por essência. Quando mergulho em mim mesmo e tiro conclusões a respeito do mundo partindo daquilo que sinto, estou me limitando a teorizar usando o conhecimento que em mim já está interiorizado, como se usasse sempre as mesmas fórmulas em situações que exigem o uso de ferramentas além daquelas que já tenho à minha disposição. Partindo apenas de dentro para fora, a tendência é que as conclusões fiquem viciadas com o passar do tempo, porque as mudanças que ocorrem dentro seguem um ritmo diferente das que acontecem fora, de modo que as respostas de ontem podem não ser mais verdades hoje. O mundo é dinâmico demais para que eu deixe que minha arrogância ao pensar que já tenho todas as repostas me guie para o abismo do meu próprio umbigo. Assim, quebrei algumas barreiras que eu mesmo criei e passei a aceitar receber os estímulos externos com filtros menos exigentes, na intenção de adquirir ferramentas e habilidades que me permitam viver a vida da melhor maneira possível.

Isso tudo me leva a refletir sobre algo mais. Pois bem, eu nunca entendi a necessidade que algumas pessoas têm de colecionar histórias como um fim em si mesmo ou, melhor dizendo, colecionar por colecionar. Nunca entendi e continuo não entendendo. Parece irracional demais ou até mesmo indigno de uma cabeça pensante viver uma existência rasa, mas intensa, sem uma boa justificativa lógica, apenas por diversão. Sim, parece irracional, mas sentir prazer é bom e é uma boa recompensa. Querendo ou não, não deixo de ser um animal sedento por isso, mesmo tendo um cérebro mais poderoso em relação aos demais animais. É difícil admitir algo desse tipo quando se está acostumado a observar o comportamento alheio a partir de um ponto julgado superior, intelectualmente falando. Grandes pensadores que ainda hoje influenciam o pensamento filosófico morreram antes de terem tido a oportunidade de experimentar aquilo tudo que contestavam. Códigos morais foram deixados como legado, cada um com suas próprias sugestões. A maioria tem bastante sustentação lógica e até prática, mas agora sempre que me pego sendo seduzido por algum código moral brilhantemente justificado penso que não fiz parte da amostragem e, portanto, preciso saber se funciona comigo também. Não digo isso para justificar a ignorância ou incentivar o abandono da Filosofia. Pelo contrário, permaneço sendo uma pessoa sedenta por conhecer outras visões de mundo. Mas, sempre que descobrir uma nova sugestão para o mecanismo da vida, por que não me divertir com as engrenagens?

A minha vida foi dividida em fases. Primeiro, eu elegi ídolos. Depois, matei-os sem piedade, apesar da dor de vê-los sendo mortos a marteladas. Nesse momento, vivi o luto por suas mortes, vencendo-o posteriormente. Procurei significados para preencher o vazio deixado pela ausência dos meus ídolos e não encontrei. Sofri ao tentar justificar cada nova tentativa de significação. Descobri que podem existir significados injustificados e que podem ser bons apenas por trazerem boas recompensas. Hoje, experimento, permitindo-me aos poucos. Internalizo e não mais apenas externalizo minhas arrogantes impressões a respeito da vida. Deixo que ela mesma se regule...

As próximas fases? Não faço a mínima ideia, mas muito me excita saber que há muito a ser descoberto lá fora.

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