Coisas que eu sei

18 de fevereiro de 2014

"Eu quero ficar perto de tudo que acho certo
até o dia em que eu mudar de opinião.
A minha experiência, meu pacto com a ciência,
meu conhecimento é minha distração.
Coisas que eu sei eu adivinho sem ninguém ter me contado.
Coisas que eu sei, o meu rádio relógio mostra o tempo errado.
Aperte o play.
Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado,
ninguém sabe mexer na minha confusão.
É o meu ponto de vista, não aceito turistas.
Meu mundo tá fechado pra visitação.
Coisas que eu sei...
O medo mora perto das ideias loucas
Coisas que eu sei...
Se eu for eu vou assim, não vou trocar de roupa.
É minha lei.
[...]
Às vezes dá preguiça na areia movediça,
quanto mais eu mexo mais afundo em mim.
Eu moro num cenário, do lado imaginário.
Eu entro e saio sempre quando tô afim.
[...]
Coisas que eu sei são coisas que antes eu somente não sabia.
Agora eu sei..."

100 coisas

17 de fevereiro de 2014


É febre. Livros listando as cem coisas que você deve fazer antes de morrer, os cem lugares que você deve conhecer antes de morrer, os cem pratos que você deve provar antes de morrer. Primeiramente, me espanta o fato de todos terem a certeza absoluta de que você vai morrer. Eu prefiro encarar a morte como uma hipótese. Mas, no caso, de acontecer, serei obrigada mesmo a cumprir todas essas metas antes? Não dá pra fechar por cinquenta em vez de cem?
Outro dia estava assistindo a um DVD promocional que também mostra, como imaginei, as cem coisas que a gente precisa porque precisa fazer antes de morrer. Me deu uma angústia, pois, das cem, eu fiz onze até agora. Falta muito ainda. Falta dirigir uma Ferrari, fazer um safári, frequentar uma praia de nudismo, comer algo exótico (um baiacu venenoso, por exemplo), visitar um vulcão ativo, correr uma maratona [...].
Se dependesse apenas da minha vontade, eu já teria um plano de ação esquematizado, mas quem fica com as crianças? Conseguirei cinco férias por ano? E quem patrocina essa brincadeira?
Hoje é dia de mais um sorteio da Mega-Sena. O prêmio está acumulado em cinquenta milhões de reais. A maioria das pessoas, quando perguntadas sobre o que fariam com a bolada, responde: pagar dívidas, comprar um apartamento, um carro, uma casa na serra, outra na praia, garantir a segurança dos filhos e guardar o resto para a velhice.
Normal. São desejos universais. Mas fica aqui um convite para sonhar com mais criatividade. Arranje uma dessas listas de cem coisas pra fazer e procure divertir-se com as opções [...]. Não pense tanto em comprar mas em viver.
Eu, que não apostei na Mega-Sena, por enquanto sigo com a minha lista de cem coisas a evitar antes de morrer. É divertido também, e bem mais fácil de realizar, nem precisa de dinheiro.

MEDEIROS, Martha. Doidas e santas. Porto Alegre:
L&PM, 2008, p. 122-123. Adaptado.
Retirei esse trecho de uma prova que fiz em algum momento da vida. Adoro as crônicas da Martha, por isso fiquei contente quando me deparei com esse texto em uma avaliação de língua portuguesa. Sua escrita é simples e real. Sinto satisfação e raiva quando a leio. Satisfação por senti-la conversando comigo e raiva porque ela pensa tudo antes de mim.

As armadilhas das decisões

1 de fevereiro de 2014

"Há quanto tempo eu estou nessa parada? Esse ônibus não passa. Ele nunca é de se atrasar. Esse outro passa por onde eu preciso ir, mas e as voltas que ele dá?! Não, não, melhor esperar o meu. Eu não saio daqui enquanto ele não passar! Bem, eu poderia pegar um táxi, mas e a grana que eu precisaria pagar? Não compensaria. Ficarei aqui mesmo. O fato estranho é que o pessoal que pega o mesmo ônibus que eu não está aqui. Aliás, não há ninguém aqui! Pra onde foi todo mundo? Não importa! Se quem se atrasou foi o motorista do ônibus ou eu também não interessa, pois esperarei o próximo. É uma droga, mas eu não posso simplesmente ir a pé! Bem, eu posso, mas e se no meio do caminho o ônibus passa por mim? Eu não suportaria tamanha frustração. Melhor esperar mesmo."

O ônibus não passou. Choveu aquele dia, contrariando a previsão do tempo. Acabou indo a pé mesmo. Foi um dia perdido.

Esse exemplo foi retirado de um livro chamado "Como manipular as pessoas - Para uso exclusivo de pessoas de bem", dos autores Robert Vincent Joule e Jean Léon Beauvoist Vincent - que, aliás, não pode ser julgado pelo título chamativo -, modificado à minha conveniência.

O que eu quero dizer é que existe uma coisa na vida chamada "armadilha". Não é uma armadilha do tipo " farei uma armadilha para capturar um animal", mas armadilhas mentais que a gente faz com a gente mesmo. "Como assim, Rodrigo?", você me pergunta. Eu te respondo: armadilhas de decisão, como as chamarei. A definição é mais ou menos essa:
"A armadilha decorre dessa tendência que as pessoas têm de persistir em um rumo de conduta mesmo que essa se torne excessivamente dispendiosa, ou que já não permita atingir os objetivos fixados". Como manipular as pessoas - Para uso exclusivo de pessoas de bem (Robert Joule e Jean Vincent).
Isso é explicado pelo fato de que as pessoas tendem a conduzir seus caminhos com base em decisões iniciais e pessoais. É daí que surge a ideia de que para conseguir que uma pessoa faça o que você quer que ela faça é interessante convencê-la de que a decisão é dela. Mostre um leque de opções - não muito variado - para uma pessoa e deixe-a ter a sensação de que está tomando uma decisão pessoal, sem influência de terceiros. Mostre os caminhos e faça-a escolher o seu - não é difícil, porque todos os caminhos são os seus, no fim das contas. Conclusão: ela escolherá o que você a ofereceu sem que ela saiba das suas intenções e ficará satisfeita em ter feito uma boa escolha. Cruel, né? Mas não é isso que importa aqui.
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