Um texto sobre julgamentos, sentido da vida e essas coisas

28 de dezembro de 2013


Ouvi uma vez e repeti comigo, porque achei bonito: você não pode se colocar como referência para fazer julgamentos sobre o mundo, pois as pessoas têm necessidades diferentes das suas. Se você se usa como parâmetro para fazer medições acerca daquilo que as pessoas fazem ou deixam de fazer, você está querendo que elas sejam como você. Isso é muito egoísmo.
Mas agora eu parei pra pensar e cheguei à outra pergunta. Se eu não me usar como referência para julgar o mundo, quem devo usar? Meu vizinho? O motorista do ônibus? Meio estranho. Ou eu me coloco como referência - uma vez que eu sou o meu próprio filtro - ou eu paro de julgar. Se eu paro de julgar, de que me serve viver? Não posso aceitar tudo como está. Sem ritmo, sem ação, sem descobertas, sem reflexão, sem apontar o erro e procurar a solução, o mundo para. Se o mundo para, é porque a vida não tem sentido. Porque o sentido quem descobre sou eu... O sentido da minha vida quem faz sou eu, essa foi a conclusão a qual cheguei com a ajuda de alguns caras mortos que deixaram alguma coisa pra eu ler. Eu explico.
Andei pensando a vida toda e concluí que ela não tem sentido. É uma conclusão pessoal, claro. Algumas pessoas acreditam que existe um sentido, sim, algo sobrenatural. Faz sentido, mas pra mim não basta fazer sentido. Certo, eu fiquei triste por acabar chegando a esse ponto e vi que só me restavam duas escolhas: ou eu me matava - porque a vida não tem sentido, oras - ou eu continuava vivendo como se nada tivesse acontecido. Eu escolhi continuar vivendo porque me matar não teria graça, mesmo acreditando que não faz sentido nenhum essa coisa toda. O negócio é bem mais profundo que isso, mas o que importa é, basicamente, que a vida não faz sentido e mesmo assim eu escolhi continuar vivendo. Bom, pra eu continuar vivendo eu precisava dar um sentido pra isso tudo, mesmo que só de mentirinha, certo? É isso que estou buscando.
Bem, pra buscar um sentido eu preciso julgar o mundo. O que é certo, o que é errado? O que é bom pra mim e o que não é? Como eu acho que deveria ser o mundo? Eu sou obrigado a pensar sobre isso. É consequência da minha escolha - você escolheu viver, cara. E pra isso eu preciso me colocar no centro. Eu preciso ser o filtro para as influências. É necessário que eu seja o meu próprio juiz. Quem mais poderia ser? Meu pai? O padre da Igreja do meu pai? Eu escolhi a liberdade e só quem pode me tirá-la sou eu mesmo - bom, a liberdade não existe, mas a gente pode continuar fingindo também... só não conte a ninguém.
Enfim.
Sobre julgar: Eu posso e devo fazer. E, veja bem, deixar-me ser o juiz das minhas escolhas não me faz um egocêntrico. Não quero que o mundo nem as pessoas sejam transformadas a meu favor. Isso seria terrível e toda a graça de continuar vivendo se perderia. Continuarei julgando, apontando. O que eu não farei é ferir a liberdade alheia ou desrespeitar o princípio de que as pessoas têm suas próprias necessidades, muitas vezes diferentes das minhas.
Acredito que as pessoas também devem experimentar o questionamento, o auto julgamento, o julgamento do mundo externo. Quero ser livre para convidá-las a experimentar isso também. Aceitem se quiser e eu nunca obrigarei caso recusem o convite. Eu quero que brinquem de viver comigo...
É isso. Já que é o que nos resta, sigamos vivendo da melhor forma possível.

Sobre o mundo ser do tamanho de um ovo

10 de dezembro de 2013


"Existe uma teoria sobre como no mundo inteiro só existem 500 pessoas reais (o elenco, por assim dizer; todas as outras pessoas no mundo, diz a teoria, são figurantes) e todas se conhecem. E isso é verdade, na medida possível. Na realidade, o mundo contém milhares e milhares de grupos de mais ou menos 500 pessoas que passarão a vida se encontrando, se evitando, se esbarrando numa improvável casa de chá em Vancouver. O processo é inevitável. Não é sequer coincidência. É apenas a maneira como o mundo funciona, sem consideração pelos indivíduos ou pela adequação." (Neil Gaiman, em Os filhos de Anansi).
O humor de Neil Gaiman nesse livro me lembra o de Douglas Adams na série "O Mochileiro das Galáxias". Deve ser por isso que eu o achei tão legal, sem desmerecer a originalidade de Gaiman, é claro (até por que ele é outro gênio). É bom fugir da realidade de vez em quando e os livros representam uma das minhas válvulas de escape...

Sempre amanhã

3 de dezembro de 2013


"Outubro. Papal Noel no shopping. Como o tempo passou rápido esse ano! Quando eu era criança o fim do ano demorava tanto para chegar. Mês que vem temos feriado, não vejo a hora. O que eu vou vestir na ceia de Natal? Novembro. É quase fim de ano, e o Roberto Carlos deve estar gravando o especial de sempre. Quero saber que cor eu vou usar na virada desse ano. Preciso de sorte. Preciso cumprir algumas promessas também. Já é véspera de Natal. Não vejo a hora de chegar dia 31. Dia 31. Já é janeiro. O começo de ano é sempre estranho. Bom, o Carnaval está aí. Nossa, as escolas de samba são sempre iguais. Semana Santa. Sempre como carne vermelha. Deus me perdoe, mas odeio peixe. Ano que vem faço jejum, esse não. Lá vem a Páscoa aí. Páscoa. Chocolates!!! Adoro chocolate. Estou pensando qual presente comprar para o dia das Mães. 'Então o almoço de Dia das Mães será na sua casa, tia? Ótimo! Nos vemos no mês que vem'. Onde serão as festas juninas esse ano? Adoro festas juninas. Se meu pai estivesse vivo semana que vem estaríamos comemorando o Dia dos Pais. Minha nossa, o Dia das Crianças está chegando! Como o ano passou rápido! Outubro. Papai Noel no shopping."
Assim se vive de futuro. Enterraram o momento presente e agora só há o vislumbre do que virá a ser. Quando sentir a vida? Amanhã...
Moral: vivemos nos adiantando. É raro vivermos o presente. Nossa vida nunca é, mas virá a ser. Adiantamos nossa morte todos os dias, sem querer... Ninguém leu isso aqui, só você. É nosso segredo.
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