Comigo próprio

27 de outubro de 2013

Você não pode me falar que gosta daquilo que faço sem perceber porque se eu souber que faço algo que não percebo começarei a fazer percebidamente e você não mais gostará daquilo que antes em mim era involuntário. Goste de mim e não fale o porquê. Só goste.
Caso não goste de mim por alguma coisa que eu faço sem perceber, se quiser continuar não gostando é ótimo que não me fale sobre isso, porque há o risco de que eu comece a fazer percebidamente e você passe a gostar de mim. Não goste de mim, mas não diga o porquê se não quer ter a chance de passar a gostar. Apenas não goste.
Deixe que aquilo que faço sem querer continue em mim sem que eu saiba, por gentileza. Sou aquele que não percebe e isso não me incomoda.
Sobre as coisas que eu sei que faço, não precisa me lembrar. Sei de todas, e se as faço é intencionalmente.
Só me lembre do que incomoda para que eu possa mudar se preciso for. Só aponte o que há de errado em mim quando o erro me impedir de fazer o certo.
Não minta para mim, mas esconda a verdade quando a verdade for desnecessária. Saiba quando isso acontecer.
Faça tudo isso, conheça-me ao máximo e prometo fazer o mesmo. Sejamos cúmplices da escolha que fizemos juntos, que é continuar vivendo da melhor forma...
(Não precisa entender. Eu me imagino em algumas situações e descrevo como seria. A vontade de escrever veio enquanto eu assistia o DVD dO Teatro Mágico (Recombinando atos), disponível no Youtube).

Conversa informal

19 de outubro de 2013

-Você consegue entender as coisas que você lê? É porque eu não consigo.
-Consigo, sim.
-Eu tento, mas as coisas não entram na minha cabeça.
-É por que você não pratica. Qual livro você está lendo?
-Eu não lembro o nome, mas é um que tem alguns ensinamentos.
-Pois é. Se você não praticar não dá pra aprender. Ultimamente eu tenho lido muitas histórias fictícias. Essas não precisam ser praticadas, só sentidas. Quando leio algo que exige uma análise mais profunda eu geralmente faço marcações, anotações e analogias com a minha própria vida. Esse tipo de leitura exige mais que uma simples absorção.
-É por isso que é bom ler quando se é jovem. Depois de velho você não tem mais cabeça pra essas coisas.
-Então você acha que eu não tenho preocupações?
-Não estou dizendo isso. O que eu quero dizer é que as preocupações dos jovens são poucas. Você tem os seus estudos, os seus amigos e nada muito além disso.
-Você está falando sério?
-Sim, mas não quero ofender. É que é isso mesmo. Quando você for mais velho vai me entender...
-Bom, passam muitas coisas pela minha cabeça. Algumas das suas preocupações refletem em mim também, por exemplo. Além disso, as minhas próprias preocupações vão muito além dos estudos e dos amigos.
-Ah, é? Que tipo de preocupações você tem?
-Não quero ofender, mas não se preocupe com elas. É que é assim mesmo. Quando você for um pouco mais jovem vai me entender...

Vontades

13 de outubro de 2013

Sabe qual é a minha vontade? Minha vontade é tomar banho de olhos fechados equilibrando meu peso em uma perna só. Falar o alfabeto de trás pra frente, devagar na primeira vez, ainda devagar na quinta, e quando chegar na décima poder falar como se sempre soubesse disso. Escovar os dentes com a mão esquerda, e na hora do almoço segurar a faca com a direita. Subir no último andar de um prédio e olhar pra baixo sem medo de cair. Quero passar no mercado e pedir balinhas verdes em vez das vermelhas de sempre. Escutar músicas no modo aleatório, por que não? Minha vontade é cumprimentar o cobrador e o motorista quando subir a escada do ônibus. E quando já estiver dentro, sentar em um dos bancos do lado esquerdo e pegar um pouco de sol no caminho. Perguntar como vai o dia da pessoa que se sentar ao meu lado.
Quero atravessar a rua de costas. Comer um único pão no café da manhã. Dormir às dez horas da noite e acordar às sete e meia da manhã. Aprender a tocar violão. Terminar aqueles livros que ficam olhando pra mim todo dia antes de me deitar. Dar um abraço nos meus pais e dizer que eu gosto deles pra caramba. Sair de casa sem pentear o cabelo e não me preocupar com isso. Perguntar pro segurança do shopping onde fica aquela loja - que eu sei muito bem onde está - só pra tirar um pouco do seu tédio. Pegar o panfleto que aquele cara toda vez me oferece e eu finjo não enxergar.
Ser diferente por um dia pra ver se é bom ou não. Ser diferente no outro dia pra confirmar a tese do dia anterior, e, no terceiro, ser diferente por teimosia mesmo.
Minha vontade? São minhas vontades. Meus sonhos de criança. Minhas pequenas alegrias não manifestadas. Meu relógio marcando quatro horas da tarde por três horas seguidas. Sentir alguma coisa boa por algum tempo bom. Permitir-me sem me incomodar.

Alguma coisa sobre um monte de coisas

8 de outubro de 2013

Diga-me: há quanto tempo não nos conhecemos mais? Quantas primaveras se passaram desde o nosso último abraço? Nós nos tornamos estranhos dentro de um ambiente que dividimos a vida toda. Sem querer, talvez.
Como chegamos a esse ponto? Eu queria poder te dar bom dia olhando nos seus olhos, mas não te conheço mais. E eu gostaria que você respondesse todas as vezes como se realmente estivesse desejando que eu tivesse um bom dia, mas você não sabe mais quem sou eu.
Somos mais de dois. Deveria ser mais fácil conhecermos uns aos outros. As possibilidades são maiores, não é? É estranho como caminhamos contra tudo o que é saudável e normal.
Nós não pedimos mais licença para passar porque a gente ultimamente tem evitado estar nos mesmos lugares juntos. Eu  não me lembro quais são as cores das suas roupas preferidas. Qual era mesmo o nome daquela música que você gostava? E você, lembra quando eu faço aniversário? Quem são vocês? Vocês sabem quem sou eu?
Será que só eu percebo isso?
Eu me olho no espelho e pergunto se a culpa é minha. Eu também não me reconheço mais, de fato. Ando com olheiras visíveis. Meus olhos estão mais vermelhos que nunca! As minhas costas doem e minha respiração não é a mesma... E, vejam só, eu tenho tão pouca idade.
Vocês não estão em situação melhor...
Será que conseguem me responder por que estamos lutando tanto por uma vida que nem estamos vivendo? Quando vai chegar o dia que mora na oração "um dia chegaremos lá"? E se chegarmos lá, o que terá restado de nós para vivermos esse dia?
Eu sinto falta de vocês, mas eu não posso fazer muito sozinho. Nem forças eu tenho. É tão difícil.
Sinto falta do natural. Sinto falta de não precisarmos apontar o que está errado. Sinto falta dos pedidos de desculpas espontâneos. Eu sinto falta de me arrepender quando eu não me esforço para mudar...
Sinto falta de desejar sumir só de vez em quando e não todos os dias.
Sinto falta dessas coisas que nós nunca cultivamos.
E eu tento me enganar todo dia. Tem dado certo.

A morte gerando vida

7 de outubro de 2013

Eis o verme que se alimenta da dor. O parasita que se sustenta tomando para si tudo aquilo que de asqueroso existe em seus hospedeiros. O sugador de toda a escuridão. O ser que só se mantem vivo por saber que sempre está morrendo.
A sensação de morte é o seu combustível.
Como é prazeroso nunca se sentir vivo!
É doce o sabor da morte. A mesma morte que não é capaz de o levar embora sem que precise acabar com seu corpo físico.
Fraca morte.
Odeia quando morrem. Ama quando vivem. A vida é o seu propósito, paradoxalmente.
Ah, ele ama a vida! Ele ama a morte... Ama a morte... A morte é tão fraca!
Verme arrogante. Parasita prepotente! Como pode querer para si todos os problemas do mundo? Como ousa não querer dividi-los?!
Morte burra...
A força da vida é tão mais expressiva! E a vida só depende da própria morte, veja só. Mal sabe ela que basta que suma daqui para que o maldito hóspede sem querer se esvaia...
Sem querer se esvaia e morra de vez, ora.
Mas sem estratégia a morte sempre perde.
Ao parasita oferecem os ares, mas o inferno foi o mais próximo que ele conseguiu de alcançar o tão sagrado céu. E essa nunca foi sua vontade, de fato. Sua vontade é poder estar. Nunca ser.
Continua vivo!
A morte é tão burra...
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