...

22 de março de 2013


Ele caminhava distribuindo papéis na rua
e não olha olhava nos olhos de ninguém.
As pessoas não sabiam que eram papéis diferentes.
Ele queria atingir alguém...
Sempre atingia alguém...
Ele era vários,
e cada pequeno pedaço de papel era um dele.
Ele queria que sentissem algo
e as pessoas, que ficavam sem entender o que significava receber um papel avulso de um estranho,
sentiam muito por ele todos os dias...
Ele não se importava se despertava curiosidade ou asco...
Queria que sentissem algo.
Ele dizia antes de dormir para o seu cão:
Eu preciso que sintam algo...
Meu blog se tornou um caderninho... Bom, eu não me importo com isso.

Sob o sustento de um divã #01

11 de março de 2013

[...]
-Desprender-se dos seus próprios conceitos também é uma forma de mudar - ele tinha cinquenta e três anos e já havia dito isso a algumas dezenas de pessoas.- Sua vida parece a mesma, mesmo tendo tido passado os anos?
-Não a mesma de ontem, mas sem o sabor que, se não deveria haver, ao menos não seria má ideia se houvesse.
-Você sente falta das coisas que nunca possuiu porque sabe que pode achar alegria nelas. Esse é o seu problema, em específico.
-Eu não gosto que achem que tenho problemas. Isso parece ser a afirmativa de que eu não sou experiente o bastante para me auto regenerar. As pessoas que interpretam que tenho problemas é que estão equivocadas. Está tudo bem comigo, o fato é que isso não é o suficiente.
-Vejo aqui uma adulta um tanto quanto orgulhosa.
-Sim, mas meu orgulho me protege. E acho que isso faz parte de mim. Se não, ao menos se faz necessário. Já tentei abdicar de tal e me fiz vulnerável. E, diga-se de passagem, a vulnerabilidade não me atrai.
-Veja bem. As pessoas possuem algo que não está sob seus controles. Isso se chama consciência. Digo consciência como uma simples palavra, para englobar tudo que sabe, todas as suas experiências, frustrações, medos, enfim, tudo. Você pode achar que tem o controle, mas, de fato, não o tem. Sua vida depende de variáveis externas. O máximo a se fazer é permitir que entrem em sua vida ou não. Às vezes essas mesmas variáveis vão contra sua vontade e, não raro, você se pega tendo que escolher entre coisas que não gostaria de levar para sua vida. São essas as coisas que você escolhe sob o julgamento daquilo que menos te fará mal. Sabendo disso, você tem de concordar comigo que sua vida nunca estará sob seu total controle. Podemos prosseguir ou tem alguma objeção?
-Estou pensando sobre o assunto. Talvez você esteja certo, mas continue.
-Ótimo. Então, se sua vida não está sob seu controle, você não pode afirmar que não possui problemas. Problemas são inevitáveis se você está viva. Estar só pode ser um problema se te faz falta ter alguém com quem conversar. Ser feliz pode ser um problema se sua felicidade vem de algo que prejudica alguém. Consegue entender como o conceito "problema" pode ser estendido a patamares tão relativos quanto a própria noção de sentimento? Negar um problema é adiar sua possível solução. Isso soa tão clichê que eu me sinto ofendido de ter de dizer a você.
-Não se preocupe comigo. Continue, apenas.
-Ouça-me. Seus conceitos de vida são as únicas coisas que te prendem a específicos fatos. Ter a coragem de ir contra esses conceitos, mesmo que tão cimentados, pode te tornar livre de si mesma. Porque, isso eu posso te afirmar, estar preso a si mesmo é o pior tipo de aprisionamento possível. Você se conhece como ninguém, sabe seus pontos fracos e seus pontos fortes. Se você mesma se impede de viver, ninguém será capaz de pegar sua mão e te guiar. O mundo só pode te mudar se você permitir. Você só pode se mudar se se permitir. Essa é a mais simples noção de auto-ajuda que podem te oferecer. Suponho que você não goste de palavras de auto-ajuda, acertei?
-Em cheio. Como podem me oferecer ajuda se não me conhecem por dentro? Os livros de auto-ajuda vendem tanto porque as pessoas não conseguem olhar para dentro de si mesmas e precisam de alguém que faça isso por elas. Não dá certo, porque "cada doença pertence a um doente, cada doente tem uma mente, cada mente é um universo." Li isso em um livro de auto-ajuda.
-Sensato.
-Sabe, às vezes sinto vontade de mudar. Mas, como o senhor disse, estou presa a mim mesma. O fato é que se eu me liberto passo a não mais ser eu. Estarei seguindo o que o senhor disse e me deixarei para trás.
-Mas qual o problema em se deixar para trás quando quem está ficando para trás está te impedindo de seguir em frente?
-É que terei que ser outra pessoa, construir novos conceitos, novos valores, novas ideias. Demorei tanto tempo para me edificar, não acha perigoso me desfazer de mim assim?
-Sim, a vida é perigosa. Mas, veja bem. Se você consegue se libertar de si mesma pode fazer o que quiser, da forma como quiser.
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