Essência múltipla

28 de julho de 2011

Cada vontade é uma cor. Elas se cruzam o tempo todo.

Que acontece com as pessoas afinal? Há sentido nessa necessidade de definir uma maneira de viver? Somos tão complexos e relutamos em nos resumir em simples seres limitados. Não entendo. Por que rotular-se? Por que essa mania de querer mostrar ao mundo um único lado do nosso eu? Ninguém gosta da mesma coisa o tempo todo, mas quase todo mundo engana a si mesmo e ao mundo dizendo que seu estilo de vida é imutável.
Eu não quero ser imutável. Não quero escutar as mesmas músicas sempre. Prefiro gostar de rock hoje, odiar amanhã, adorar depois de amanhã e gostar um pouco menos semana que vem. E nesse intervalo de tempo entre amar e repugnar, eu quero escutar rap, contemplar as letras de Chico Buarque e sentir a vibe de uma música eletrônica. Se hoje gosto de uma pessoa, outra hora não gosto mais e um dia após eu quero ela guardada dentro de uma caixinha só pra mim. Eu sou inconstante. Não há problema nisso. A única coisa que tenho que provar é que sou um ser humano, e tenho o direito de fazer e gostar de coisas aleatórias em doses diversas em diferentes dias do ano durante a minha vida toda. Ninguém pode ser o mesmo o tempo todo. Se for, tá errado. É farsante.
Quero descobrir o mundo. Quero ser múltiplo. Abrir a mente e não viver preso aos meus próprios paradigmas. Quero amar, mas ter o direito de errar. Não sou perfeito. Quero andar sem rumo, conversar com um mendigo e sorrir para o sol quando ninguém estiver olhando. Não quero andar de carro o tempo todo, prefiro optar pelo transporte coletivo vez ou outra. Sentir a presença da minha espécie aglomerada. Eu gosto das pessoas, observá-las é meu passatempo preferido. Mas às vezes quero ficar só, longe delas. Sou contraditório. Quem não é? Todo mundo é. E nem todo mundo admite isso. E quem admite, não pode ser contraditório o tempo todo.
Dosar a vida. Eis o segredo. Equilibrar minha alma, aquietar minha inquietude. Ser hoje, mas não ser amanhã. Fazer tudo que quiser na medida do possível. Não estou fadado a ser eu mesmo o tempo todo até a morte. Quero assumir personagens às vezes. Quero me divertir testando a mente das pessoas sem machucá-las. E se machucar, foi sem querer. Também me machuco sem perceber.
Viver. Crescer. Aprender. Experimentar. E mudar de idéia quando quiser.
Sou falho. Sou ser humano. A metamorfose continua.

Li uma crônica da Martha Medeiros e me deu vontade de escrever. Não saiu tudo que eu queria falar porque esqueci muita coisa que tava na minha cabeça. Outra hora eu falo mais. "É devagar que se chega ao longe".

Arquivos mentais

26 de julho de 2011

O primeiro passo é abrir as gavetas e organizar os pensamentos. Depois arquivar os que me são inúteis no momento. Faço isso muito bem quando quero. E se não conseguir por tudo em ordem eu jogo o que me atrasa dentro da pasta onde ficam as coisas que prefiro não pensar. E lá é bem cheio. É o local onde se encontram meus medos, passado, frustrações, constrangimentos, desilusões, essas coisas que ninguém gosta de recordar. Há aquelas pessoas que escondem objetos passados em algum lugar e evitam mexer ali até que estejam preparadas. Meu arquivo mental funciona da mesma forma. Um dia, quando tudo estiver bem, talvez eu venha folhear esses registros esquecidos.
O que me resta, pois, agora? Dizer que cansei de reclamar aos céus que não há pessoa nesse mundo capaz de me entender. Cansei porque não faz sentido protestar sobre isso. É incoerente querer que me entendam sem que eu mesmo faça isso. Quem há de me conhecer sou eu, que convivo comigo a todo o tempo. Depois, assim, posso reclamar com direito sobre aqueles que não movem uma migalha para entender o que se passa com esse eu que se esconde aqui dentro. Só depois. Não antes. Mesmo que esse depois nunca chegue, meus valores me circundam, então não posso desistir.
Desistir de mim mesmo? Ora, é loucura fazer isto. 

A vida é um eterno teatro

14 de julho de 2011


Quem dera eu pudesse escolher o que sentir ou mesmo fazer com que as pessoas fossem menos insensíveis. Já que aquele papo de mudar a si mesmo para que as mudanças externas ocorram naturalmente não funciona mais.
Ah se fosse possível escrever minha vida agora para que no futuro ela caminhasse da maneira que eu escrevi ao invés de escrever amanhã o que eu não pude evitar que acontecesse hoje.
A vontade de por tudo que sinto na ponta da caneta me vem de repente. Mas não sei o que fazer, pois não sei o que sinto de fato. Ou sei e não consigo explicar. É algo que preenche a mente e dispara meu coração de tal forma que me vejo na necessidade de por tudo pra fora. Ou melhor, preciso exteriorizar algo que está preso em mim e apresentar isto a mim mesmo através das palavras. Sabe, um auto desabafo.
A recompensa é que acabo por descobrir novas faces ocultas. A cada novo sentimento, uma nova palavra. A cada nova palavra, novas mudanças. E é nesse efeito dominó que amenizo a minha inquietude.
Sei lá, eu gosto de conversar comigo mesmo. Porque assim eu posso manter um nível de entendimento estável. Já que a pessoa que mais me conhece sou eu mesmo. Ou talvez isso seja uma desculpa por não aceitar o fato de que não tem ninguém pronto para me escutar de verdade.
Ainda não descobri até que ponto o fato de ser uma pessoa só possa ser bom. Vejo gente dizendo que a solidão é benéfica se soubermos usá-la a nosso favor. É até verdade. Então eu fico esperando que um milagre aconteça. Que uma pessoa caia do céu dizendo que veio em meu favor e a meu dispor. Ou que alguém que já faça parte da minha vida se transforme nessa pessoa. Tipo em um espetáculo de teatro.
Mas pensando bem, a minha já é isso. Mas é difícil ser o diretor e ter que assumir a posição de maquiador da minha própria face. De fazer meu figurino ao mesmo tempo em que faço o roteiro. Ajudar a produção enquanto organizo o cenário. E ainda por cima ter que atuar. E como em um bom espetáculo, ter que improvisar às vezes.
Mas é assim. Quem não tem experiência tem que começar do zero e assumir posições de outras pessoas, até que apareça alguém disposto a colaborar e atuar junto com a gente nesse palco da vida.

Fragmentos subjetivos

2 de julho de 2011


Acordava de um sono curto, porém reconfortante. Enquanto sua mente estava neutra perante os primeiros resquícios do dia e seu corpo ainda tentava situar-se, o mundo já estava correndo e infectado pelo que se passa na cabeça dos humanos. São aqueles vinte segundos pós-sono, nos quais a mente ainda está branca e livre das peripécias da imaginação. Foi logo após esse momento que se lembrou de como sua vida estava conturbada e do sonho que havia tido momentos antes do seu despertar. Uma avalanche de pensamentos se despejou sobre ele, logo nas primeiras horas do seu dia, soterrando-o. E lembrou-se de lutar contra as ideias, mas em vão. Lembrar de esquecer algo só contribui para o não esquecimento.
Recordou-se, além disso, de sua rotina. Cinco minutos sentado na beirada da cama, com as pernas sobre a ação da gravidade, constitui um atraso. E deveria levantar-se logo, antes que perdesse a hora devaneando o que o acompanha o dia todo dentro da mente. Teria tempo para pensar depois.
O que a vida se tornou... A obrigação faz matar a vontade do homem. Pensar, só quando sobra tempo. E quando não, há de se pensar enquanto o expediente não acaba. Dividindo os minutos entre introspecção e ofício. Meus rápidos flashs de inspiração são engolidos pelas preocupações diárias. E ainda não entendem porque prefiro discutir a vida a desperdiçar o tempo com o que não me interessa.
Sou adepto ao ócio produtivo, que me purifica e me põe em primeiro plano. Mesmo que por vezes as algemas do mundo sejam mais fortes e me prendam. Minha missão aqui é desatar os nós e me livrar das amarras. Eu quero é ser livre de mim mesmo.
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