Luz, câmera... Ih!, errei a fala de novo

31 de março de 2011


Li uma certa frase que me deixou curioso: "Odeio quando planejo uma conversa na minha cabeça e a outra pessoa não segue o script". E pensando bem, isso acontece sempre, pelo menos comigo.
À noite, antes de dormir, quando chega a hora de processar tudo que aconteceu no decorrer do dia, minha cabeça fica a mil. Imagino dezenas de coisas. Há vezes que me martirizo por ter feito tudo errado, ou me odeio por não ter conseguido seguir perfeitamente o script diário. E ainda planejo o manual do dia seguinte na esperança de que este seja menos frustrante.
Quem é que nunca formulou uma conversa na cabeça antes do cara-a-cara? Funciona mais ou menos como aquelas cenas de filmes, nas quais um personagem treina em frente ao espelho o diálogo que terá com alguém. Somos os diretores do nosso teatro imaginário. E nele as falas dos personagens seguem o roteiro que lhes darão o melhor desfecho. Os planos sempre são perfeitos, acontece que as pessoas são imprevisíveis demais.
O diálogo que monto na cabeça é sempre favorável a mim. Elaboro minhas perguntas e sinto que estou preparado para qualquer resposta. Minha conversa é perfeita, no imaginário, lógico. Mas nunca acontece assim... as pessoas não seguem meu script! Então eu fico desarmado e sempre me perco na discussão. Por falta de argumentos ou de uma postura mais segura, talvez. Como improvisador eu sou um ótimo desastrado.
Meu problema deve ser este: elaborar as coisas que ainda vão acontecer e tentar moldar tudo do meu jeito, antecipadamente. E sempre me ferro. Poxa, tenho tudo tão certinho no script mas as pessoas insistem em não segui-lo.
Eu sei que não podemos criar expectativas com relação ao comportamento das pessoas da maneira como a gente gostaria que fosse. Mas como sendo esse um caminho aparentemente tão fácil, eu não consigo deixar de insistir nele. Sempre tento controlar as rédeas da situação, quando na verdade quem precisa de controle sou eu. E como preciso. Uma prova disso é que ao escrever esse texto eu me imagino conversando com alguém. Esse alguém me pergunta o motivo dessas palavras e eu tento convencê-lo de que é simplesmente uma divagação sobre nada tão importante.
E assim vou seguindo a vida. Um dia, quem sabe, consigo fugir dos diálogos pré-formulados e sem sucesso.

Conhecimento enlatado

21 de março de 2011

Texto modificado a partir da Crônica "Kafta e os estudos", de Martha Medeiros. Do livro "Coisas da Vida".



Sempre fui um aluno, digamos, razoável. Tirava boas notas, passava quase sempre por média, mas era desinteressado. Estudava o suficiente para passar de ano, mas não aprendia de verdade. Bastava alcançar as notas que me aprovariam para, instantaneamente, tudo o que havia sido decorado evaporar da minha cabeça. Não tenho orgulho nenhum em contar isso, me arrependo bastante de não ter prestado atenção pra valer nas aulas e de não saber mais sobre história, em especial. Mas foi assim. E só fui compreender as razões desse meu desligamento há pouco tempo.
Admito que estudei mas não aprendi nada, apesar de ter uma memória mediana e uma capacidade de compreensão que não era das piores. Acho lastimável o que me restou em termos de conhecimento.
Por que isso, afinal? A justificativa: eu sempre tive uma preocupação profunda com a afirmação espiritual da minha existência, a tal ponto que todo resto me era indiferente.
Há em “afirmação espiritual da existência” solenidade demais para descrever o menino que fui, mas era mais ou menos assim que se dava. O que eu queria aprender de verdade não passava nem perto do quadro-negro. O que me interessava – e interessa até hoje – eram as relações humanas, e tudo de mágico e trágico que elas representavam numa vida.
Entre os 7 e os 16 anos, eu tinha urgência em estudar o caminho mais curto para ser amado. A escola era como um país estrangeiro. Pela primeira vez eu não estava em casa, nem em segurança. Tinha que aprender como fazer amizades e mantê-las, como demonstrar emoções sem me fragilizar, como enfrentar agressões sem cair em prantos, como explicar minhas idéias sem me contradizer, como ser franco e ao mesmo tempo não ofender os colegas, e nisso gastei infindáveis manhãs e tardes prestando atenção em mim e nos outros – pouco nas lições.
Havia um pátio, havia uma lanchonete, havia um portão fechado, havia os banheiros e a biblioteca, e tudo era desafiador. Eu tinha que descobrir em mim, a coragem para quebrar certas regras. Ficava muito atento às diferenças entre sabedoria e hierarquia: não era possível que os professores estivessem sempre certos e os alunos, errados. E as matérias me pareciam tão inúteis... Matemática, química e física eram desnecessárias, eu queria saber sobre música, filosofia, psicologia, paixão, eu queria entender o que me fazia ficar zangado ou em êxtase, eu queria aprender mais sobre melancolia, desespero, solidão, eu tinha especial atração pelas guerras familiares e pelas mentiras que sustentam a sociedade, eu queria ter conhecimento sobre ironia, ter domínio sobre o pensamento, entender por que alguns gostavam de mim e outros me esnobavam, lutar contra o que me angustiava. Inocente, queria saber como se fazia para ter certezas. Eu, que tirava nota máxima em bom comportamento, precisava urgentemente que me explicassem o que fazer com o resto de mim, com aquilo que eu não usufruía, a parte errada do meu ser.
"Afirmação espiritual da existência." Da escola estou quase saindo, mas nunca parei de me estudar.

Fórmula cômica da vida

4 de março de 2011


É inevitável que ocorram mudanças nas nossas vidas. Isso é até meio óbvio. Nós crescemos e percebemos o quanto essa afirmação é verdadeira. É só pegar sua vida há dois anos e comparar com hoje. Ou nem tudo isso...  dois meses, dois dias ou há duas horas atrás serve da mesma forma. E por que tantos dois? Não sei, poderia muito bem ser um ou três. Mas eu quis colocar dois.
Já vi tanta gente reclamando sobre como é difícil ser adolescente. Mas já ouvi também tanta gente querendo voltar à adolescência... daí cheguei a uma conclusão: se você pegar um intervalo de tempo qualquer mais a diferença entre o hoje e o ontem elevado a dois e dividir isso tudo pela quantidade de vezes que você diz “minha vida poderia ser melhor”, chegaríamos a um resultado único, que seria algo do tipo “minha vida nunca estará ao meu agrado e sempre reclamarei dela” (e vale lembrar que não importa o quão boa sua vida esteja, esse resultado é constante e invariável. A não ser em casos isolados onde o fator “positividade extremamente elevada” aparece no meio da fórmula como determinante. Quando há essa exceção, um nó é feito na mente da pessoa, o resultado é incompreensível, então esse alguém desiste de tentar compreender, olha para os lados e segue vivendo normalmente e conformado com a vida que tem, porque se o resultado não pode ser compreendido, logo sua vida não está tão ruim assim. Mas deixemos as exceções de lado um pouco...). Esse resultado normalmente aparece seguido de depressão, inconformidade e em alguns casos acompanhados de expressões como “eu não pedi para nascer”, “ninguém me entende”, “eu não sou daqui, só posso ser de outra galáxia” ou em casos extremos, “por que diabos eu ainda estou vivo?”. E isso acontece nas melhores famílias, mesmo aquelas que têm no jardim a grama mais verde.
Mas enfim. A vida é engraçada. Até os momentos tristes viram piada depois de um tempo. Essa é outra forma de driblar os problemas. Rindo. Não tem jeito mesmo...

Oi pessoas. Estou tentando postar nos finais de semana, apesar de que de acordo com meus pais ou os conselhos dos professores, eu deveria estar trancado no quarto, fechado pro mundo e estudando sem parar. Mas acho que se eu tirar um tempinho para as obrigações alternativas o mundo não vai cair sobre mim. Se cair também a gente ergue de novo... Obrigado pelos comentários e me desculpem novamente pela ausência nos blogs que eu sigo. A você que chegou agora, seja bem vindo e a casa é sua. Abraços e beijos.
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