Espaço vazio

30 de outubro de 2010

Há um vazio tão grande. Um espaço gigantesco. Que volta e meia se preenche com alguma coisa.
Quando cheio, fico satisfeito. Mas o que me satisfaz é algo que precisa ser renovado sempre, a todo instante. Eu sugo rapidamente tudo o que é cultivado nesse espaço, e vivo disso. Preciso repor constantemente sempre que se esgota. Se não me preencho, não tenho energia. Sem energia não há forças.
É como se dependesse de tal fonte energética. Sem ela, nem o sono me traz a paz.

Criar um mundo

28 de outubro de 2010


Eu me sento num banco qualquer e observo. As coisas acontecem em um ritmo sincronizado e monótono. Todo dia a mesma coisa. As mesmas pessoas, as mesmas tarefas, as mesmas falas. O cumprimento que desencadeia o início de uma conversa, um beijo no rosto ou um aperto de mãos que se dá ao final.
Eu aqui sentado, ouvindo uma música talvez, analiso superficialmente as pessoas, já que não dá para adivinhar o que acontece nas entrelinhas da vida de cada um.
O comportamento humano é curioso. A jovem que sai de casa com um livro na mão, preocupada com a prova que irá fazer ao final do ano, anda rápido como se não houvesse tempo a perder. Preocupada com o seu futuro, pressionada pela família e pela sociedade, tem medo do fracasso. O garoto de quinze anos, no ápice hormonal da puberdade, preocupa-se com quase nada, quer namorar, curtir a festa ao final de semana e seu único medo é levar um fora da próxima garota que vai arriscar um beijo.
Às vezes chove. Alguns se agasalham quase que totalmente, outros saem sem camisa, com shorts curtos como se fizesse um sol escaldante. É engraçado.
O senhor de idade que vive seus últimos dias de vida, pensando em tudo que já fez, com um olhar perdido, lá no horizonte. “Um dia fui jovem, fiz muito pelo mundo, agora ele me trata como algo inútil”. Temos a criança que quer brincar na rua com os amiguinhos e sua única preocupação é se seu pai comprou o video-game que tanto prometera.
A dona de casa, o senhor da padaria, o vendedor ambulante, o mendigo sentado na porta da minha casa, o empresário dentro do seu carro importado cumprindo suas obrigações e horários agendados. São vidas, várias vidas. São histórias, experiências ou o início delas.
Mas tudo parece tão programático. O sol nasce no início do dia e se põe ao final da tarde, e o que acontece nesse intervalo é igual todos os dias. Parecemos robôs. Alguns até andam e agem como tal.
Nós nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos, nos casamos, formamos uma família, procriamos, nos aposentamos e morremos. E é tudo assim, dentro das leis estabelecidas pelos próprios humanos, sob o argumento de que sem regras as coisas fugiriam totalmente do controle. Às vezes eu queria que fosse tudo diferente, sem toda essa programação de vida, que as coisas fossem imprevisíveis. Mas é difícil, se até eu estou contido nesse sistema. Sistema louco.

Pensamento

26 de outubro de 2010


"somos a única espécie, entre milhões, que pensa e tem consciência de que pensa, um privilégio e uma armadilha"

O Vendedor de sonhos e A Revolução dos Anônimos (Augusto Cury)


Dezesseis

23 de outubro de 2010

Tentam me mudar. Reclamam do meu humor. Dizem que não tenho motivos para agir da maneira que ajo. Falam que sou estranho. Se abaixo a cabeça querem ela erguida, se ergo me julgam prepotente.
Me pedem sorrisos, perguntam o que eu tenho. Eu sei lá o que tenho.
Querem me moldar, mas a época que era possível fazer isso já passou, agora é tarde.
“Que personalidade difícil de lidar”, dizem. Nem sabe o que se passa na minha cabeça. Nem sabem dos traumas que carrego. Nem desconfiam que um dia eu queria ter aprendido a sorrir, mas não me ensinaram.
Tive que tapar os olhos, fechar a boca, ouvir menos e respirar, só respirar. Pedia ao papai do céu que mudasse as coisas, que me tirasse dessa. Só tinha a ele.
Tive que dizer que acreditava em Papai Noel para não me rejeitarem. Tive que fingir ser normal o tempo todo.
Agora me querem diferente. Mas ensinaram-me a ser nervoso, a cultivar o medo, o orgulho, a impulsividade, a ira e tantos outros defeitos.
Tive que aprender a amar e buscar um motivo para sorrir, sozinho. Sempre sozinho.  Eu me reergui, inesperadamente. Mas às vezes tenho recaídas. É difícil para mim, nem tudo é de fácil superação.
Às vezes eu tenho vontade de desistir. Não peço que me entendam, eu também não entendo vocês. Mas não me cobrem tanto, eu não os cobro assim.
Aiaiai, “vida, louca vida”.

Traumas

10 de outubro de 2010

Fatos do passado eram apenas fatos em andamento antes de se tornarem traumas. É como definir um período histórico, que só pode ser feito após ter acontecido, nunca no seu decorrer. Até porque não se pode prever o futuro.
Meus traumas não são tão abomináveis. Para os outros, é claro. Para mim são terríveis. Eles não me causam mais tanto medo, mas invadem minha mente às vezes e me causam angústia e geram pensamentos que são engolidos por outros pensamentos.
E hoje, minhas experiências de vida podem se tornar traumas daqui a algum tempo. Não que eu possa prever o que acontecerá. Mas é a sensação de medo que me faz sentir isso. Alguns fatos já me causam fobias, isso é certo. Muitas coisas eu evito. Desvio olhares e nego pedidos, porque eu já sei o que pode me acontecer. 
Às vezes enxergo o que não devia, passo por momentos em que eu não tenho controle ou que não fora planejado. E é irônico saber que mesmo assim meus traumas se fazem necessários.
Não se cura a dor tão facilmente como se deseja. Nem tão rápido como sua vinda. Resta é tentar lembrar de esquecê-la todos os dias. 

Vida

8 de outubro de 2010

(Isso é uma música. O texto não é meu, os créditos são dados ao final, juntamente com a música. Desculpe por fazer pensarem que fui eu o autor.)

"A nossa vida é uma coleção de saudades, pelo menos a minha é. Um trem sem marcha ré.
Pernas robotizadas, impulsionadas para frente. Às vezes eu queria fazer diferente.
Tive três ou quatro cachorros que se foram sem eu entender.
Como se explica para um filho o que é morrer? Como se explica para um coração o que é morrer?
A verdade é que é preciso morrer para entender.
Cada vida é um circo passageiro. Me sinto em casa mas sei que sou forasteiro.
Outra alma sem rumo, outro corpo sem prumo. Daqui já vi tanta gente partir mas nunca me acostumo.
Já vi tristeza no olhar das pessoas que eu amo. Já fui tristeza ao me afastar das pessoas que eu amo.
Não só por morte, mas também por diferenças. Descobri que o amor não difere costumes, vontades e crenças.
E eu tive que me despedir, seus olhares eu guardo aqui. Onde estarão seguros, onde nunca terão fim. Vocês se vão, mas nossos momentos são tão vivos dentro de mim.
Morte não vê lamentos, leva sem ter escolha. Floresta não sangra por perder uma ou outra folha.
Então vê se você dá valor moleque. Porque a vida além de curta é uma luta de um só golpe." ♪

Metamorfosicamente dizendo...

4 de outubro de 2010


Estava só porque precisa estar só. Não era por vontade própria, mas achava melhor assim.
Buscava o sentido da vida enquanto os outros simplesmente a viviam. Pensava demais, e sua experiência era baseada em vidas alheias, até porque a sua era um tanto sem graça.
A solidão às vezes se faz necessária. Mas sempre machuca. E como o machucava.
Queria não precisar passar por isso, mas não havia muitas opções. Um ser que se imaginava, que se mascarava e se maquiava. Era tudo que não queria, mas aprendeu a gostar disso.
A solidão sangrava seu coração. Era tão só que não confiava em si próprio. Ou confiava, mas não constantemente, e nem suficiente. Razoavelmente.
Amava, mas era triste. Não odiava, só achava que sentia ódio, mas nunca o sentiu de verdade. A não ser a aversão por ser só. Isso havia presente. Exageradamente.
A solidão mata aos poucos, mas não o faz sem antes torturar. E se sentia cada vez mais morto. Não havia esperança, ou qualquer sentimento de positividade. Estava cansado de palavras bonitas e falsas. Não confiava em mais ninguém e assim foi se destruindo aos poucos.
Até que um dia tudo se acabou. Só restou um ser, em uma forma inimaginável. Um dia ele iria ressurgir.
Ele viveu a solidão, porque ele precisava viver a solidão. E era necessário morrer para nascer novamente. E isto estava em seus planos. Ele pensava demais...
Como numa metamorfose, se transformou em outro. Dessa vez mais experiente. Não tão diferente de antes. A solidão ainda o assombra, às vezes. Mas quebrou paradigmas da sua própria vida e agora sente vontade de viver. 
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